O crime da Delancey Street | 05° Capítulo.

 

A notícia que Abel Tesfaye foi detido sem direito a fiança pela morte de seu pai espalhou-se pela cidade tão rápido quanto uma fofoca sobre celebridade. Era um homicídio que valia a pena acompanhar por suas reviravoltas somente daquele primeiro mês de morte do sr. Tesfaye. O que todos diziam, e diziam com certa razão, era que a polícia davam voltas demais naquele caso que deveria ser apenas a morte de um idoso, mas pelas revelações que sua morte deixou de ser infarto e passou a ser um homicídio qualificado e muito bem articulado, não apresentava nenhuma pista. Somente um suspeito, seu filho.

Abel Tesfaye foi preso há uma semana, o tempo exato que Selena não tinha nenhuma notícia dele, pois Abel negou suas tentativas de visita. No dia de sua prisão, ele fez um pedido e Selena não havia compreendido aquele pedido, pois não fazia sentido algum o baile de inverno do último ano deles com o que ocorrera com a morte do sr. Tesfaye.

Selena decidiu tomar coragem e buscar o antigo endereço de Carlie Johnsson, com quem estudou no ensino médio e deu o baile de inverno mais memorável da época. Mas ela tinha de fazer, pois se Abel a contou isso, algo naquela casa existia para ajudar a Abel e para isso, Selena estava determinada em fazer tudo que pudesse.

Ainda na cama, Selena deslizava o dedo na tela de seu celular buscando as redes sociais de seus antigos colegas. Sentia-se uma verdadeira stalker ao buscar memórias de quatro ou cinco anos atrás. E fazer aquilo despertou inúmeras memórias que ela sequer pensava mais. Ao ver aquelas fotos, Selena sentiu-se transportada novamente ao ensino médio.

Nas fotos do baile de inverno, Selena lembrou que Abel foi o rei do baile ao lado de Bella. Ela esqueceu como Abel era popular no colégio e ela não estava em nenhuma foto que não fosse de seus dois amigos do colegial. Aquelas memórias despertaram em Selena certo incomodo, existia uma pergunta da época que jamais conseguiu responder mesmo após esses anos: como ela era amigo do rei do baile?

Selena despertou de seus pensamentos quando seu pai bateu em sua porta para chamá-la. Ele entrou e sentou-se em sua cama.


— Eu sei que está chateada, Selena, mas não pode parar de viver por conta das escolhas de Abel... — disse seu pai, acariciando seus cabelos.

— Pai... — Selena suspirou. — você acha mesmo que tenha sido Abel?

— Não sei, minha filha, quero acreditar que não, mas não podemos colocar nossas mãos do fogo porque ninguém que não seja nós mesmos...


A moça suspirou, não sabia o que responder, mas a mensagem do seu pai era clara o suficiente para entender que ela deveria ficar longe. Parte de sua lamentação era sentir-se vulnerável em não fazer nada, não conseguir fazer nada. E repetia a si mesma como uma prece “o que Hercule Poirot faria neste momento?”, mas a vida era tudo, menos literatura de ficção. E ela aceitou naquele momento que não era investigadora.

Quando se levantou da cama, seu celular recebeu uma notificação – era uma notificação de mensagem no instagram. Era Bella querendo encontrá-la para conversarem sobre Abel. Naquele momento, Selena atualizou o feed e viu uma foto recente de Carlie Johnsson e se lembrou do local onde ocorrera a festa pós-baile.

Decidida, Selena arrumou-se rapidamente e saiu de casa rumo ao encontro da memória do baile. Durante o percurso de metrô e de um táxi até a casa de Carlie que era localizada em um sítio, Selena notou que não lembrava muito daquela noite. As lembranças eram como borrões.

Selena parou em frente a casa e observou por alguns minutos em silêncio. Ela conseguia ouvir a música do baile, visualizar as decorações, reconhecer as vozes e as risadas escandalosas dos alunos nitidamente.


— O que eu deveria fazer aqui? — perguntou a si mesma. — O que quer me mostrar, Abel...


A porta da frente abriu-se e uma mulher, que após alguns segundos, Selena reconheceu como a Carlie Johnsson, assustou com a presença de Selena.


— Selena Gomez?

— Você... lembra de mim?

— O que está fazendo aqui na minha casa? Um pouco longe do centro de NY, não?

— Eu... eu... — Selena gaguejava tentando pensar. — Eu não sei. Busco ajuda...

— Abel te mandou para cá. — Carlie afirmou como um suspiro.

— Como sabe disso?

— Ele veio aqui há algumas semanas... Não falou muito. Apenas disse que tudo começou no baile de inverno. Isso te diz alguma coisa?

— Não... — Selena suspirou. — Não me lembro de nada naquela noite. Eu sequer fui convidada por você...

— Mas você estava aqui. — Carlie afirmou com um sorriso. — Quer entrar? Sua viagem deve ter sido longa...


Selena aceitou o convite e entrou na casa de Carlie Jonhsson, como naquela primeira vez há cinco anos. A casa parecia igual, sua memória parecia um pouco mais clara. Ela visualizava a si mesmo naquele espaço um pouco melhor.


— Não sei se você lembra do Matthew... — Carlie apontou para um rapaz. — Meu namorado, estudou conosco naquela época...


Ele olhou-a assustado e depois sorriu de forma amigável.


— Como ela faz aqui? — Matthew indagou Carlie.

— Estava jogando o lixo fora e ela acabara de chegar. Abel mandou-a. — Carlie respondeu e olhou para Selena. — Quer uma água?


Selena negou com a cabeça, notou que Matthew não parava de encará-la. Lembrava dele, um dos melhores amigos de Abel no ensino médio, conviviam em situações especificas como, por exemplo, Abel os convidavam para um evento em sua casa.


— O que o Abel... — Matthew. — Por que ele te enviou?

— Ele disse que eu tinha de lembrar do baile do inverno. — Selena respondeu.


Ele tossiu, parecia nervoso e seu nervosismo não passou despercebido. Quando Carlie o questionou se estava bem, ele deu risada e respondeu:


— Oras, somente Abel para fazer algo assim. Seu pai está morto e ele preso após a festa da noite passada e diz que você deve se lembrar do baile? Ele não estava bêbado?

— Ele esteve aqui há duas semanas. — Carlie. — Mas não faz sentido algum, ele veio, conversou comigo, vimos algumas fotos do baile e ele revisitou a casa, mas foi embora sem dizer muita coisa. Apenas que tinha batido uma nostalgia...

— Tamanha nostalgia que deu uma festa digna do baile de inverno. — Matthew riu todo alegre. — Ontem foi incrível, lembrou os velhos tempos... não acha, Selena?

— Não sei dizer, não vivi o mesmo ensino médio que vocês...


Carlie serviu a Selena um copo d’água e disse que voltaria logo. Na sua ausência, Matthew levantou-se e rodeou Selena de forma discreta.


— O que lembra daquela noite? — Matthew indagou-a curioso.

— Não muito... — Selena respirou fundo. — Lembro do baile na escola e que Abel convidou-me para cá, disse que seria aqui o lugar que festejariam sua coroação. Ele fez... Richard dar-me uma carona até aqui e... no dia seguinte, Abel me levou para casa.

— Você era apaixonada por ele... — Matthew riu. — Era cega de amor. Pensou que depois do baile, após o ensino médio teria uma chance com ele.

— Isso passou... — Selena respondeu incomodada.

— Mas está aqui fazendo mais uma vez o que Abel te pede. — Matthew. — É bizarro como diz não se lembrar daquela noite.

— Fiquei bêbada pela primeira vez... — Selena afirmou. — Não me lembro disso, mas sei que cheguei em casa ainda bêbada, fui ao médico por estar mal... meu pai ainda me conta sobre isso.

Matthew respondê-la-ia, mas Carlie voltou. Ele sorriu e ficou calada.

— Seu pai naquela época tirou-a da cidade por alguns meses. Você foi morar onde?

— Com minha tia em Houston. — Selena respondeu. — Mas minha avó estava doente e eu me mudei por causa dela.

— Bem na época em que... — Matthew calou-se.

— O que? — Selena.

— Matthew, querido, do que você sabe? — Carlie perguntou-o curiosa.

— Ah, você se lembra, Carlie. O pai de Selena vindo aqui, ameaçando todos nós, tentou até bater no Abel... — Matthew respondeu bravo. — Depois disso, Selena desapareceu por meses. Ele denunciava todos as nossas festas, até suspenso fomos dos jogos interescolares... Seu pai nos odiava!

— Meu pai? — Selena riu. — Meu pai nunca... meu pai não se importava com vocês.

— Você não estava aqui para afirmar isso. — Matthew. — Por que acha que Abel te enviou para cá? Ele quer que você lembre daquela noite!

— Se você sabe tanto, ajuda-me.

— Seria muito fácil. — Matthew disse com raiva em sua voz. — Você precisa ajudá-lo a sair da cadeia, deve isso a ele. É isso que ele quer de você!


Selena excitou em responder, engoliu todas suas dúvidas ou objeções. Carlie suspirou e tocou no ombro de Selena ao dizer:


— Podemos fazer mais alguma coisa por você, Sel?

— Acredito que não... Não há o que fazer... Preciso voltar. — respondeu. — Mas, Matthew, independente de qualquer coisa, eu não devo nada ao Abel como diz. Não fiz nada para que isso acontecesse.

— Se você diz...


Selena excitou novamente, não era certo discutir com um antigo colega de escola, ainda mais na casa de quem a recebeu bem. Despediu-se e foi embora, chamou um transporte para levá-la a cidade e durante todo o percurso tentava lembrar daquela noite.

Aquela noite? Há algo para lembrar? Ela deveria se lembrar do que? Tudo que ela sabia é que foi naquela noite que ela tomou seu primeiro porre e teve a pior ressaca de sua vida – para sermos honestos, a única ressaca que já teve.

Quando chegou em casa, desceu do carro e entrou com a cabeça tão distante nas meias lembranças do passado. Levou um susto quando viu Phillip Hart em sua casa.


— O que faz aqui? — Selena engrossou a voz. — Saia agora daqui!

— Selena, minha filha, que comportamento é esse? — Seu pai a repreendeu na frente do convidado. — Phillip está aqui porque o chamei.

— Senta-se, Selena, seria bom conversar com você também. — Phillip.

— Chamou-o por qual razão?

— Como eu cuidava da parte de algumas finanças do falecido sr. Tesfaye e da casa, estou aqui para atualizar Phillip sobre as coisas já que ele é o herdeiro.

— Papai...

— Selena, sabemos que não era isso que você queria, mas as coisas são como são.

Selena suspirou e concordou. Observou Phillip se levantar segurando um pequeno pen-drive que estava em cima da mesa.

— Até mais, Paul. Bom conversar com você. — disse Phillip ao pai de Selena. — Obrigado pela ajuda.

— Já tem meu número, qualquer coisa me ligue.


O pai de Selena acompanhou a visita até a porta e quando a fechou sabia que enfrentaria inúmeros questionamentos de sua filha.


— Diga, querida.

— Não sei por onde começar, desde quando são amigos?

— Não sou amigo de Phillip, apenas seu novo vizinho e tenho a obrigação legal de passar tudo do sr. Tesfaye para ele.

— Papai...

— Selena, sei que não está feliz com toda a situação... — ele suspirou. — Mas Phillip também me deu uma informação importante: Abel estava na cidade dois dias antes da morte de seu pai. Tenho certeza de que não sabia disso...

[CONTINUA] 

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