Natal!
Até os mais descrentes e apáticos sabem que não há época mais mágica e
envolvente do que dezembro. Somos tomados pela magia do bom velhinho que aquece
nossos corações para estar com aqueles que amamos.
Não
é só uma noite, é mais do que isso. Natal é um conceito tão complexo que na
prática parece simplório demais, porém isso é porque o amor em sua finalidade é
sempre simplório, portanto, o natal é simplório por representar o amor.
Cada
canto do mundo celebra o Natal à sua maneira, mas há um símbolo natalino que
não pode faltar: a árvore de natal. Talvez este seja o momento exato em que a
magia natalina floresce nas pessoas; é quando a família para por um estante da
correria cotidiana para escolher a árvore que representará aquele natal, é
quando as famílias visitam as fazendas de pinheiros para escolher o seu símbolo
natalino – seja grande ou pequena, este sempre foi o momento mais feliz do
natal de Taylor, pois entregar as árvores de natal para mais tarde conseguir
enfeitar a de sua própria família é a tradição mais antiga da família Swift e,
segundo a clientela, não há lugar melhor de Wisconsin e região do que a Swift’s
Christmas Trees. Estamos falando de um legado de quatro gerações. Ao menos, era
o que a família pensava até as vésperas do natal.
Não
era nem cinco da tarde quando o céu já começou a dar sinais de que escureceria
em breve e a fazenda mal tinha feito sete vendas de pinheiros naquele dia.
Faltava menos de dois dias para o natal e pela memória afetiva de Taylor, a
fazenda era para estar cheia de cliente que deixava tudo para a última hora.
Suas
preocupações com o legado de sua família refletiam em uma garotinha de sete
anos entusiasmada com a sua primeira escolha de árvore de natal.
—
Papai! Papai! — dizia animada. — Papai, essa árvore é perfeita para nós.
—Não
acha muito grande para nossa casa, Briana? —O pai respondeu pensativo.
—
Absolutamente não, ficará perfeito na sala. — a garota respondeu firme. — Eu
mesma me encarrego de decorar, será o melhor natal de todos.
—
Tudo bem, tudo bem. —O pai respondeu sorrindo. — Levaremos essa.
—
Uma ótima escolha. É uma das minhas favoritas.
—
Bom, Scott sempre me disse que os pinheiros da esquerda eram sempre melhores. —
O homem disse feliz. — Como vai a sua mãe, Taylor?
—
Alguns dias são melhores do que outros. — Respondeu a jovem.
Após
o homem finalizar o pagamento, Taylor ajudou-o a cortar a árvore da raiz e a
colocar em sua picape, enquanto a pequena Briana admirava cada detalhe da
conquista de sua primeira árvore. Ela não aguentava sua própria felicidade e
falou para a Taylor quais tipos de decoração tinha em mente para deixar a sua
árvore a mais bonita do colégio.
Observou
que um carro adentrou a fazenda e estacionou perto de sua casa, Taylor
despediu-se da família e deu um pequeno enfeite natalino para a pequena. Após a
saída do cliente, Taylor caminhou sem muita pressa sentido sua casa onde um
homem desconhecido conversava com sua mãe.
Ao
aproximar-se, Taylor reparou que sua mãe vestia apenas uma camisola branca e
com os pés descalços na entrada da casa em um início de uma nevasca cuja
temperatura já ultrapassava de -07°C.
—
Posso ajudá-lo? — Taylor se intrometeu na conversa.
—
Oh, olá! — o rapaz sorriu. — Procuro o sr. Scott Swift.
—
Quem o procura? — Taylor indagou desconfiada. — Mãe, por favor, entre! Está
muito frio aqui fora e a senhora não está agasalhada.
A
mãe assentiu e com passos lentos entrou na casa, mas escutava a conversa na
distância estabelecida pela filha, enquanto na varanda o desconhecido continuou:
—
Meu nome é Thomas Hiddleston. — estendeu a mão para um cumprimento. — E
gostaria de falar com o senhor Scott Swift sobre a fazenda.
—
Sobre a fazenda? Sobre o que exatamente?
—
Acredito que não falarei com o senhor Scott, certo? — ele riu. — Meu assunto
com ele é sobre a hipoteca dessa fazenda.
Taylor
respirou fundo e não disse nada. O rapaz encarou-a e continuou:
—
O sr. Swift hipotecou há alguns anos e por falta de pagamento, ele tem uma...
grande dívida.
—
Uma... uma grande dívida?
—
Podemos conversar, senhorita...?
—
Taylor. Meu nome é Taylor Swift, filha dele. — respondeu.
—
Prazer em conhecê-la, Taylor. — Thomas sorriu. — Vejo que você está surpresa
com o que eu contei sobre a hipoteca, então, gostaria de conversar com você
sobre isso.
Ela
suspirou e olhou em volta já com os olhos cheios de lágrimas, mas que disfarçou
pelo frio que fazia naquele momento. Esfregou seu nariz avermelhado do frio e
assentiu com a cabeça.
—
É claro, é claro... — repetiu. — mas iniciará uma nevasca forte a qualquer
momento, tem certeza de que é o momento ideal?
Thomas
riu, percebendo que a moça tentava se esquivar da conversa.
—
Eu sei que é um choque e que não é o momento tão ideal, vejo que está
trabalhando. — ele respondeu educado. — Só que no dia sete de janeiro, o banco
pedirá a propriedade e acredito que é melhor conversarmos sobre este assunto o
tanto antes disso.
—
Tão rápido assim? — ela indagou, preocupada. — Nunca soube de nada sobre isso.
—
Por isso gostaria de conversar com você. Podemos?
Taylor
titubeou e concordou, chamando-o para entrar em sua casa. Ele sorriu e entrou
dentro direto para a sala de estar onde a lareira esquentava todo o ambiente,
quando olhou ao redor, a mãe de Taylor, Andrea Swift, andou as pressas para o
corredor.
—
Desculpe minha mãe. — Taylor disse. — Ela está... doente.
—
Fique tranquila. — ele respondeu sorrindo e sentando-se no sofá. — Seria
indelicadeza perguntar sobre o seu pai?
Ela
o olhou, tentou manter seu rosto firme diante da fragilidade daquele assunto.
Taylor sentou-se em uma poltrona frente ao sofá em que Thomas se sentou,
inclinou-se para frente e suspirou.
—
Meu pai faleceu ano passado vítima de covid-19. Foi tudo muito rápido...
—
Sinto muito.
—
E minha mãe já vinha apresentando sinais de demência, ela foi diagnosticada com
hidrocefalia de pressão normal, ela está se esquecendo de algumas coisas, tem
medo de estar próxima de desconhecidos, por isso reagiu dessa maneira. — ela
respondeu e abaixou a cabeça. — E eu larguei a faculdade para estar aqui com
ela, retomar os negócios...
Ele
a olhou e se aproximou, dizendo:
—
Eu lamento por isso, lamento por ser eu a dar as más notícias. Conheci seu pai
há alguns anos quando ele me procurou para um empréstimo, pois enfrentava
problemas para seguir com os negócios, dizia que era difícil ter alta demanda
somente em uma época do ano e ter nas proximidades criação de fábricas que
prejudicava suas terras. — Thomas contava. — E ele já tinha algumas dívidas que
nunca quitou, tornando impossível um novo empréstimo. Uma das razões para ele
querer o dinheiro era você e seus estudos, sua mãe e essa propriedade. Ele
sempre me dizia que era tudo para ele.
Taylor
balançou a cabeça negativamente, uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
—
Por favor, não fique triste. — ele pediu. — Não estou aqui para magoá-la. Na
verdade, é um prazer finalmente te conhecer porque seu pai falou tanto sobre
você que eu já sinto que te conheço, mas você parece não me conhecer porque seu
pai guardou este segredo.
—
Quem é você, afinal? — Taylor indagou. — Como sabe tanto?
—
Como disse, meu nome é Thomas Hiddeston, sou gerente de seu pai do Wells Fargo.
Nós nos conhecemos aqui mesmo, há alguns anos, quando vim comprar uma árvore de
natal. Ele era um homem incrível, ajudou-me bastante e conversamos muito.
Quando contei sobre a minha profissão, ele pediu uma reunião porque estava em
uma crise financeira. — Thomas coçou sua barba, como se tentava lembrar-se dos
detalhes. — E fiz de tudo para ajudá-lo. Ele tinha a fazenda, tinha me apresentado
todas as finanças. Tudo estava bem até a sra. Swift apresentar problemas de
saúde, o seguro não cobria parte dos remédios que ela precisava e eram caros.
—
E como você entra nessa história?
—
Bom... ele conseguiu realizar um empréstimo de dez mil dólares, mas não era o
suficiente para a crise que teve no último natal por conta da pandemia. A
sensação que tive como um espectador que via a situação do lado de fora foi que
tudo que ocorreu foi negativo e ele não merecia isso.
—
Não mesmo! — Taylor reforçou. — E ele não disse nada.
—
Porque era um segredo entre nós dois... — Thomas respirou fundo e passou a mão
em seu cabelo. — E por isso que estou aqui hoje. É difícil ouvir o que vou te
dizer, mas eu quero que tudo seja resolvido na melhor maneira. Para nós dois.
—
Estou curiosa para saber o que o gerente de um banco faz na minha propriedade pessoalmente.
— respondeu firme. — Qual é a surpresa?
Thomas
se levantou, passou a mão em sua roupa e retirou de dentro do seu casaco uma
pasta e entregou a moça, dizendo:
—
Agora essa fazenda pertence a mim.
Taylor
arregalou os olhos com a informação – tudo que passara na sua cabeça até aquele
momento não a preparou para a pior das notícias. Ela riu, de forma debochada,
mas o rapaz manteve-se firme, observando-a a ler os documentos que havia entregado.
E para a surpresa da moça, tudo assinado por seu pai.
Naquele
momento, Taylor foi tomada pela fúria irracional. Havia ódio em seu olhar, seu
corpo tremia de raiva com cada linha que lia daqueles documentos que sinalizada
que, de fato, sua casa de infância não pertencia mais a sua família.
—
Saia daqui! — ela disse. — Agora! Saia daqui!
Em
um pulo, Thomas afastou-se de Taylor que jogara os papeis no chão. Ele pediu
calma, mas ela repetia diversas vezes para que ele saísse, então, ele acatou e
saiu da casa e foi pego pela nevasca que havia se intensificado.
—
Escute, Taylor. Eu vou embora, mas eu gostaria que conversássemos. Quero me explicar.
—
Não há o que explicar... Você... — ela limpou as lágrimas. — Você enganou meu
pai.
—
Jamais faria isso com ele.
—
Como não? Como um gerente que sabia das dificuldades financeiras de um cliente,
de repente, adquire a propriedade dele.
—
Não foi isso o que aconteceu. — ele disse. — Se me permitir, eu explico o
acordo que fiz com seu pai.
—
Saia daqui!
—
Tudo que fiz até aqui, foi pelo bem dele. De vocês, na verdade.
—
Suma! — ela repetiu, sem ouvi-lo.
Ela
desceu as escadas da entrada da casa e olhou para o céu, sorriu quando percebeu
que havia se iniciado uma forte nevasca – que lembrou que ouviu sobre isso no
jornal nesta manhã. O carro de Thomas Hiddleston já havia sido dominado pela
neve quando ele correu e entrou no automóvel.
—
Boa sorte ao tentar sair daqui! — Taylor disse ironicamente.
Ele
assistiu-a entrar na casa e fechar a porta, balançou a cabeça e respirou fundo
refletindo que toda aquela reunião foi um fracasso. Sequer conseguiu terminar
de falar o que tinha praticado tanto, e nem deu a pior notícia que ainda tinha.
Lembrou-se de Scott Swift falando da própria filha, referindo-se a Taylor como “casca
dura” – e era um elogio do pai.
Tentou
ligar o carro duas vezes, o para-brisa mal conseguia limpar o vidro de tão
rápido que a neve caia sobre o carro. Na terceira tentativa, deu partida, mas
mal conseguia ver a estrada e parou no portão da propriedade com medo de seguir
caminho. A neve já tinha consumido a estrada, toda a paisagem – gramado, árvores
e a montanha ao sul já tinha sido dominada pela nevasca branca. Desligou o
carro e relaxou no volante, pois não tinha para onde ir.
Pela
janela da sala de estar, Taylor assistia a tentativa de Thomas de dirigir
contra a nevasca e como ele fracassou em tentar fugir.
Em
pouco tempo, escurecera e Taylor foi preparar uma sopa para o jantar. Ao
separar os legumes, sentou-se no balcão e começou a cortar alguns inhames. Havia
se distraído com a música que tocava no rádio.
Sua
mãe desceu as escadas e sentou-se na mesa, servindo-se de um pouco de chá feito
pela filha mais cedo. Bebericou e assistiu a filha nos seus afazeres.
—
Está se sentindo melhor? — perguntou Taylor.
—
Sim, sim... — respondeu, um pouco avoada. — Sabe, minha filha, aquele rapaz irá
morrer de frio lá fora...
Taylor
levantou o olhar e encarou a mãe por alguns minutos.
—
Você ouviu nossa conversa. — ela falou. — Mas deixe que eu cuido disso.
—
Não é certo deixá-lo lá para ser engolido pela neve.
—
Era melhor não ter vindo...
—
Seu pai não era um homem perfeito, minha filha, mas ele fez tudo que pôde.
—
Eu sei disso, mamãe. Não o culpo por isso. — respondeu. — Deixe-me cuidar
disso.
A
mãe ficou quieta e as duas apenas ficaram em silêncio ouvindo as músicas que
tocava na estação de rádio. Em menos de uma hora, Taylor já havia preparado a
sopa de legumes e frango, servindo sua mãe.
Foi
até a janela e olhou para a entrada da fazendo, mal conseguia ver o carro de
Thomas que havia ficado parado ali. Ela suspirou e vestiu um casaco e suas
botas, saiu de casa e caminhou em passos largos e pesados até o carro, bateu no
vidro do motorista.
Thomas
havia cochilado, encolhendo-se no banco. Assustou-se com as batidas, abriu a
janela e Taylor disse:
—
Você vai morrer aí! Entre e passe a noite conosco.
—
Não tem problema ficar aqui.
—
Não quero ter que ligar para a polícia pela manhã na véspera do natal. Apenas
entre!
O
rapaz concordou, desceu do carro e caminhou atrás dela até a casa. Ao entrar,
ele se tremia pelo frio porque não vestia uma roupa adequada para aquele tempo.
—
Quantos graus está fazendo agora?
—
A temperatura já está negativa. — Taylor respondeu de forma seca. — Você morreria
lá.
—
Obrigado por... permitir que eu fique esta noite.
—
Como falei, não quero ligar para a polícia pela manhã. — respondeu. — Siga-me.
Taylor
subiu as escadas com Thomas e foi até o primeiro quarto do corredor que ficava
em frente ao seu, entraram e Taylor entregou uma muda de roupa masculina.
—
Acho que vai servir. — disse. — Você tem o mesmo porte que meu ex-namorado. As roupas
estão limpas.
—
Espero que ele não sinta ciúmes. — Thomas respondeu aos risos, mas foi
ignorado.
—
Temos sopa para o jantar, quando terminar de se trocar, desça para comer um
pouco.
Taylor
saiu do quarto e desceu as escadas, sua mãe sorriu para a filha pela sua
atitude.
—
Apenas... não diga nada, por favor. — Taylor pediu.
—
Não direi nada. Já irei me deitar. — sua mãe respondeu, retirando-se do cômodo.
Thomas
apareceu na cozinha vestido um pijama de manga comprida listrado e sorriu.
—
Perguntaria se fiquei parecido com ele... mas você não brincaria com isso.
Taylor
olhou-o de cima abaixo e respondeu:
—
Está um pouco melhor que ele.
Thomas
riu e sentou-se a mesa, provou da sopa e elogiou.
—
Não irei pedir desculpa pela forma que agi mais cedo, acredito estar no meu
direito...
—
Fique tranquila, eu entendo perfeitamente que todas aquelas informações foram
demais e você não esperava nada daquilo, mas permita-me ajudar.
—
Ajudar? Você não pode nos ajudar... — ela respondeu cabisbaixa. — Não quero
falar sobre isso.
—
Taylor, ainda tenho o que falar.
—
Há mais para contar? — ela indagou. — Existe notícia pior do que você me
deu.
—
Não diria pior, mas sim...
[CONTINUA]

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