16 de novembro de 2025

The Swift’s Christmas Trees | 05° Capítulo: "os rumores são reais"

A manhã nasceu tranquila, silenciosa e iluminada – de um jeito que só o amanhecer após uma longa nevasca consegue ser. A sala de estar permanecia aquecida pela lareira quase apagada, e a árvore de natal piscava com as luzes suaves. Taylor abriu os olhos lentamente, num estado de confusão sútil – o calor no peito, um peso confortável sobre ela e um cheiro amadeirado com uma pele quente.

E então ela percebeu que estava deitada no colo de Thomas e que passaram a noite juntos daquela forma. Não como quem adormece sobre alguém por acidente, mas como quem finalmente encontra um refúgio que nem sabia que buscava. O braço dele a envolvia numa proteção silenciosa, e o peito subia e descia num ritmo calmo. O rosto dele estava parcialmente encostado nos cabelos dela, e os dedos — ainda entrelaçados a uma mecha sua — indicavam que ele também dormira daquela forma, profundamente.

Taylor ergueu o rosto devagar. Thomas sentiu o movimento e abriu os olhos, primeiro devagar, depois com reconhecimento — e um sorriso que ele não tentou conter. Ele puxou-a novamente para perto, fechou os olhos e alisou-a com as pontas de seus dedos como se não quisesse acordar daquela realidade.

— Thomas... — Taylor chamou-o como um sussurro perto de seu ouvido. — Preciso me levantar.

— Não precisa, é sábado. — ele respondeu, sereno. — Você não tem um dia de descanso?

— Descanso? — riu. — não me lembro da última vez.

— Poderíamos passar o dia sem fazer nada. — ele deu um selinho rápido. — bem assim...

Taylor corou, mas não se afastou imediatamente. O calor residual do corpo dele era um convite perigoso demais. Antes que dissesse qualquer coisa, ouviram passos suaves no piso superior – era Andrea, levantando-se sozinha.

— Preciso ajudar a minha mãe! — Taylor disse, levantando-se rapidamente.

Thomas assentiu, passou a mão no seu cabelo e se levantou e foi para a cozinha. Encheu a chaleira de água e começou os preparativos para o café da manhã. Em poucos minutos, Taylor desceu acompanhada por sua mãe.

— Bom dia, Tom... — Andrea sorriu. — Caíram da cama logo cedo?

Ambos trocaram olhares, não responderam.

— Pergunto por que as camas de vocês já estão arrumadas... — ela justificou, com um tom malicioso.

— Na verdade, eu acabei adormecendo aqui na poltrona. — Thomas respondeu. — E Taylor me acordou quando foi...

— Buscar mais lenha... — ela completou, sorrindo.

Andrea arqueou uma sobrancelha com uma tranquilidade que deixava Taylor ainda mais corada. Junto com Thomas, Andrea ajudou-o a preparar o café da manhã – panquecas, torradas e algumas frutas que estavam na dispensa, enquanto isso, Taylor pôs a mesa.

O dia seguiu com uma naturalidade inesperada. Trabalharam juntos para limpar parte do quintal, recolher lenha. Entre um gesto e outro, havia risos curtos, conversas suaves e aquele tipo de silêncio tranquilo que só existe entre pessoas que se sentem, aos poucos, seguras uma com a outra.

Em certo momento, Taylor o observou enquanto ele amarrava o feixe de lenha.

— Estou fazendo certo? — ele questionou, com receio.

— Sim, sim... — ela respondeu, ainda distraída. — na verdade, estava pensando em outra coisa...

— Sobre ontem a noite? — Thomas aproximou-se.

Antes que Taylor respondesse, Andrea apareceu no alpendre, com seu robe azul e os cabelos grisalhos presos. Apoiou na cerca e olhou para o céu com um sorriso.

— Viram que a nevasca cessou? — disse alegre.

— Quem diria... — Thomas respondeu-a. — É bom que posso adiantar o telhado do celeiro e arrumar a cerca dos fundos.

— Oh, pare com isso. — Andrea chamou sua atenção. — Tenho outra coisa em mente, daqui há três dias é natal e nem começamos pensar em nada.

— Como assim, mamãe? O que tem em mente?

— Aproveitem que o tempo está ao nosso favor e vão ao centro da cidade comprar os ingredientes para que possamos fazer nossa ceia de natal. Estou terminando a lista... — ela disse, animada. — E comprar presentes para trocarmos.

— Presentes? — Thomas questionou, surpreso.

— É claro. Vamos trocar presentes. — Andrea respondeu. — Ou tem outro plano?

Taylor olhou-o quieta, sentia medo do que ele pudesse responder ao lembrar do combinado que fizeram em esperar a nevasca passar. Ele a olhou, sereno e sorriu.

— Bom, meus planos são os que vocês decidirem.

— Ótimo! — Andrea celebrou. — Vão se arrumar, enquanto termino de elaborar a lista. Acho de bom gosto neste ano termos algo inglês para Thomas, acho que vou testar minha receita de beef wellington.

— Não ironicamente, eu adoro e domino esse prato. — Thomas respondeu, deixando seu sotaque parecer. — Eu e minha irmã costumávamos fazer com minha avó, era o favorito dela também.

— Hum... então você vai ficar responsável por comprar os ingredientes dessa receita. Teremos também peru... — ela anotava em um papel. — batatas assadas, vou fazer torta de abobora e Taylor poderá fazer as especialidades dela, hein, querida...

— Qual é sua especialidade? — Thomas perguntou, curioso.

— Cookies. — Andrea respondeu. — Ela faz os melhores cookies e ainda personaliza.

— Faz tempo que eu não faço essas coisas. — Taylor disse, não tão animada.

— Mas quem sabe não esquece.

— É, mas eu não sei se... — Taylor suspirou. — Precisa de tudo isso?

— Sim, Taylor, precisamos. — sua mãe foi firme. — É natal, só celebramos uma vez por ano... não pode ser especial!?

Taylor balançou a cabeça concordando, sem expressar nenhuma palavra. Foi para seu quarto escolher alguma roupa e tomar seu banho; Thomas conversou com Andrea sobre a extensa lista de ingredientes necessários, ele foi até o quarto dos hospedes, fechou a porta e na escrivaninha, abriu a pasta que deixara ali nos últimos dias – o fantasma que o perseguia.

Por um instante, ficou parado, como se a pasta tivesse peso suficiente para ancorá-lo ao chão. Ele a abriu. As primeiras páginas eram relatórios internos, impressões de e-mails, memórias de reuniões. Os termos familiares saltavam aos seus olhos: “conflito de interesse” e "uso indevido de posição hierárquica”.

Thomas fechou a mandíbula, sentindo o nervo à altura do maxilar pulsar.
Virou mais uma página: “Solicitar reavaliação da propriedade por possível favorecimento. Reaver o imóvel, se possível”.

Thomas respirou fundo, guardou a pasta sob a cama e se endireitou.

Antes de sair do quarto, olhou-se rapidamente no espelho. O homem refletido tinha olheiras, barba por fazer e uma expressão endurecida por decisões que ele não podia desfazer, mas havia também uma suavidade nova — trazida pelo riso dela, pelo toque leve, pelo jeito como ela disfarçava quando o observava, achando que ele não percebia.

Depois encontraria um jeito de encarar tudo aquilo.

Thomas pegou seu casaco, respirou fundo e saiu para encontrá-las.

Andrea estava na cozinha com a lista em mãos. Taylor descia as escadas ajeitando seu cabelo solto e com os cachos naturais, com um suéter creme, calças jeans e botas – bonita de um jeito que parecia não perceber.

— Você dirige ou eu dirijo? — Thomas questionou, mostrando a chave.

— O carro é seu, melhor que dirija. — Taylor respondeu.

— Isso! — Thomas celebrou. — Eu deixaria você dirigir à vontade, mas eu adoro uma estrada... confesso que estou com saudade de dirigir.

Eles foram para a garagem improvisada por Thomas, onde guardou seu Volvo XC90 preto que reluzia como um animal elegante no meio da neve acumulada — totalmente destoante da paisagem rural.

Thomas abriu a porta do passageiro para Taylor que entrara e surpreendeu-se ainda mais com o carro por dentro – os bancos de couro, o cheiro do perfume de Thomas preso dentro do carro durante todos aqueles dias.

A estrada até o centro carregava o brilho branco que só os dias pós-neve tinham. O rádio tocava músicas natalinas e Thomas cantarolava algumas – admitindo gostar das canções temáticas, e por alguns minutos eles ficaram em silêncio confortável, como se ainda estivessem digerindo a noite anterior.

O carro de Thomas era impecável, brilhando mesmo sob a neve — parecia um intruso no pequeno centro da cidade, onde caminhonetes antigas e carros simples eram comuns.

Quando o Volvo preto deslizou pela rua principal do centro — limpa apenas o suficiente para permitir a passagem dos carros. As pessoas viraram o rosto quase ao mesmo tempo. Não era comum ver um veículo tão sofisticado por ali; muito menos um homem alto, de postura confiante e casaco bem cortado descendo do carro ao lado da filha de Scott Swift – como a chamavam.

Algumas mulheres que saíam da padaria acenaram discretamente para Taylor, mas logo passaram a olhar Thomas de cima a baixo, tentando encaixá-lo mentalmente em algum lugar daquela cidade – ele era charmoso demais para ser dali.

— Acho que fomos notados… — Thomas murmurou ao se aproximar de Taylor, que apertou a lista de compras entre os dedos.

— Cidade pequena.

Mas a verdade era outra. Elas cochichavam e eles também.

E Taylor sentiu o peso desses olhares.

Caminharam em direção ao mercado. Nele, as portas de vidro se abriram, soltando um cheiro reconfortante de canela, pinheiro e café recém-moído. Assim que entraram, uma senhora baixinha passou por eles com um carrinho e lançou um olhar curioso.

— Taylor? — chamou, sorrindo. — Faz tempo que você não aparece, querida. Está sumida.

— É… o inverno está difícil — ela respondeu, forçando um sorriso.

A mulher então virou os olhos para Thomas com uma expressão que misturava curiosidade, surpresa e alguma conclusão precipitada.

— E esse moço…?

— Thomas Hiddleston, senhora. — ele sorriu educado e ofereceu a mão.

— Seu namorado? — indagou, curiosa.

Thomas piscou para a senhora e conduziu Taylor pela cintura para um dos corredores sem sequer pensar em respondê-la, mas pensou que até que soube ignorá-la com certo respeito.

Eles seguiram corredor adentro, mas os sussurros os acompanharam.

"Ela está com ele?"

"Mas o pai dela… você sabe… devendo para o banco…"

"Ele é bonito, mas… estranho, não é?"

"Será que eles…?"

Taylor mantinha o queixo erguido, mas Thomas via cada músculo de sua expressão pedindo abrigo.

Enquanto escolhiam batatas, ela empilhava mais do que precisava, distraída.

— Você pegou um saco inteiro para três pessoas — Thomas comentou, gentil.

— Ah… sim — ela murmurou, largando as batatas. — Desculpe. Eu só… ignore.

— Taylor, eu estou aqui. — ele disse calmamente, tocando sua cintura de maneira instintiva para trazê-la de volta ao presente.

Ela fechou os olhos por um segundo. Era quase doloroso o quanto aquele toque significava.

— Não posso esquecer das aboboras e farinha de trigo. — Taylor comentou, na tentativa de demonstrar que não a balava.

Thomas sorriu e a acompanhou pelo mercado, ele carregava as duas cestas cheias de itens, enquanto seguia Taylor. As pessoas ainda insistiam em olhá-lo com certa admiração a situação que inventam em suas mentes, fingiam querer falar com Taylor para arrancar alguma confissão dela, mas ela mantinha-se firme – e aquilo era o que ele admirou nela desde o primeiro dia.

No caixa, Thomas pagou antes que Taylor pensasse em pegar na sua carteira e, num ato de ousadia, ordenou que a caixa ficasse com o troco. Pegou as sacolas e saiu do mercado ao lado de Taylor.

No lado de fora, as pessoas ainda olhavam.

— Melhor irmos embora... — Taylor comentou.

— Ah, não... — ele disse, caminhando em direção ao carro. — Iremos deixar as compras no carro e vamos atrás dos presentes. Já estamos aqui mesmo, vamos só... aproveitar.

— Você não se incomoda com...

— Não, desde que eu possa ficar ao seu lado. — Thomas respondeu, sorrindo.

— Eles obviamente te reconheceram, Thomas.

— E? Vou deixar de aproveitar esse momento ao seu lado porque eles me reconheceram?

Ele abriu o porta-malas e colocou as sacolas, virou-se para Taylor.

— Se quiser, podemos ir agora e dar para eles munição para falarem, mas podemos ficar e mostrar que não nos importamos.

Ela assentiu e voltaram a caminhar na calçada olhando e comentando sobre o que viam nas vitrines. Em uma pequena boutique de presentes natalinos, Taylor chamou Thomas para entrar.

Taylor se interessou por algumas decorações natalinas e mostrava para Thomas, eles trocavam diferentes itens que encontravam.

Mas naquele momento, o destino decidiu testar seus nervos.

A voz e a gargalhada que escutara no final do corredor era familiar demais para fingir que não. Ela congelou antes mesmo de virar para olhá-lo.

Era Joe, seu ex-namorado. Uma parte de sua história que ela desejava que ficasse enterrada junto ao gelo da fazenda.

O mesmo casaco escuro, mesmo jeito de inclinar a cabeça… e os mesmos olhos que um dia prometeram mundos e depois deixaram apenas dúvidas.

Os olhos dele a encontraram antes que ela pudesse desviar.

Por um segundo, o mundo pareceu estreitar até caber apenas nos olhos dos dois.

Mas ele a ignorou. E aquilo doeu mais do que qualquer discussão poderia.

Taylor ficou ali, completamente imóvel, segurando a fita entre os dedos como se ela fosse impedir seu coração de quebrar de novo.

Thomas percebeu na mesma hora e sem dizer nada, colocou a mão na cintura dela — um gesto firme, protetor, mas respeitoso – apenas o suficiente para que Taylor sentisse que não estava mais sozinha.

— Isso é bonito. — Thomas disse, baixinho, apontando para a fita só para dar a ela uma desculpa para desviar a atenção.

— É… — Taylor respondeu, ainda com a voz fraca. — Nem sei por que peguei.

E então, sem aviso, ele colocou a mão sobre a dela, que segurava a fita.

— Vamos levar isso também. — Thomas disse, sorrindo.

Mas, do outro lado da loja, Joe observava — com uma expressão dura, queria soar indiferente, mas não conseguia.

O resto das compras se arrastou entre pequenas conversas, sorrisos forçados e tentativas de Thomas de aliviar o ambiente. Ele a guiava sempre com a mão na cintura ou nas costas, como se quisesse protegê-la de cada olhar que pousava sobre ela.

E, apesar de tudo, havia conforto ali.

Quando terminaram, Thomas percebeu que ela estava pálida, com as mãos frias demais para o frio que fazia.

— Vamos tomar um chocolate quente? — ele sugeriu. — A gente tem tempo.

Ela hesitou, mas finalmente assentiu.

No pequeno café da esquina, sentaram-se perto da janela. O vapor dos chocolates quentes subia entre eles como uma névoa morna.

O café era pequeno, acolhedor, iluminado por lâmpadas âmbar que pendiam do teto como pequenas lanternas. Do lado de fora, o vento frio arrastava flocos soltos sobre o vidro da janela, mas ali dentro o ar era quente e cheirava a chocolate, baunilha e pão recém-assado.

Thomas puxou a cadeira para Taylor antes de se sentar em frente a ela — gesto simples, mas que fez seu estômago apertar de um jeito que não era exatamente desconforto.

Quando as duas xícaras chegaram, o vapor subiu entre eles — quente, doce, quase íntimo.

Por alguns instantes, ficaram em silêncio. Um silêncio que não era vazio.

E então Thomas falou, com aquela voz baixa que parecia capaz de aquecer até o frio preso no peito dela:

— Você não precisa me dizer nada, Taylor. Mas eu… percebi que ficou mal. Com tudo isso.

Ela manteve os olhos na xícara, passando o dedo na borda como se tentasse ordenar os próprios pensamentos.

— Eu estou… eu estou bem — ela mentiu, oscilando a voz.

Nos lábios de Thomas surgiu um meio sorriso — gentil, compreensivo, quase triste.

— Você sabe que eu já consigo perceber quando você diz isso só para não preocupar alguém — disse, inclinando-se na mesa.

Taylor mordeu o lábio inferior.

A defesa dela desmoronava fácil demais quando ele falava daquele jeito.

— É sobre… voltar para cá. Sobre ter ido embora, tentando seguir com a vida, e depois… voltar porque eu precisei. E tudo que estava mal resolvido ficou me encarando de novo.

Ela apertou a xícara entre os dedos.

— E quando eu achava que nada mais poderia me machucar, eu encontro as pessoas falando do meu pai, e depois… — seus olhos baixaram.

O ambiente inteiro pareceu se estreitar ao redor deles — a mesa pequena, o calor do café, o aroma doce, a luz âmbar refletida nos olhos dela.

Taylor tocou a xícara, depois a mesa, depois, hesitante, seus dedos escorregaram em direção aos de Thomas. Seus dedos roçaram nos dela por um instante que pareceu muito mais longo do que era.

— Melhor voltarmos para casa... — disse ela, por fim.

A volta para casa aconteceu envolta por um silêncio que não era constrangedor, mas era o tipo de silêncio que se forma quando duas pessoas querem dizer algo, mas têm medo do que pode acontecer se falarem.

Thomas dirigia devagar pelas ruas brancas, atento à estrada, mas não tirava completamente o olhar dela. Taylor, por sua vez, mantinha as mãos entrelaçadas sobre o casaco, o rosto voltado para a janela, observando a neve cair fina.

Em certo momento, Thomas arriscou:

— Se eu disse alguma coisa errada… se eu deixei você desconfortável…

Ela balançou a cabeça antes que ele pudesse continuar.

— Não foi você. — Sua voz saiu baixa, mas firme. — Eu só… me perdi um pouco dentro da minha própria cabeça.

— Você não precisa falar sobre isso agora — ele disse, suave. — Só… quero que saiba que estou aqui.

Taylor finalmente desviou o olhar da janela.

Havia algo terno demais na maneira como ele disse aquilo.

— Eu sei — ela respondeu quase num sussurro.

E isso bastou, porque naquela única frase, ela admitia uma confiança que não demonstrava a quase ninguém.

Quando chegaram à fazenda, o céu já começava a escurecer, tingindo a neve de azul profundo. O motor foi desligado, e o silêncio se adensou ainda mais.

Taylor tirou o cinto com movimentos lentos.

— Eu vou… até o celeiro — ela disse, sem olhar para ele. — Só um pouco. Preciso… respirar.

Ele assentiu.

— Tudo bem. Se precisar de mim… estou aqui dentro.

Ela agradeceu com um movimento pequeno de cabeça e saiu.

Thomas ficou a observá-la atravessar o quintal, o casaco balançando sob o vento leve, até que ela desapareceu pelas portas altas do celeiro. A luz lá dentro acendeu alguns segundos depois.

Sozinho, ele carregou as compras para dentro da casa, onde Andrea organizava a cozinha. Ela olhou-o com estranheza.

— Cadê a Taylor?

— No celeiro. Quis ficar sozinha.

Andrea soltou um suspiro pesado. Um suspiro que dizia que aquilo não era surpresa alguma.

— Aconteceu algo no centro? Encontraram alguém?

— Bom, as pessoas falaram... comentários maldosos sobre a situação. — ele coçou a barba. — mas foi um cara que a incomodou. — ele franziu o cenho. — eu vi que ela mudou totalmente.

— Como ele era? — Andrea questionou, como se já soubesse a conversa.

— Era loiro...

— Joe! — Andrea disse, brava. — Já imaginava...

— Quem é ele?

— Joe é o ex-namorado de Taylor. Eles foram namorados por anos. — Andrea suspirou. — Eles foram para a faculdade juntos. Tinham planos, sonhos grandes. Ele jurava amor eterno para ela, fazia promessas… E então… o pai dela morreu — Andrea continuou, a voz baixa, séria. — E tudo desmoronou. Ela largou tudo e voltou para cá porque eu estava sozinha, porque a fazenda estava caindo aos pedaços, porque o pai dela tinha deixado coisas para resolver… e porque ela estava de luto. Perdida. Sem chão.

Thomas engoliu seco.

Andrea prosseguiu:

— E sabe o que o Joe fez? — A voz dela ficou amarga. — Deixa-a aqui sozinha por semanas, ele sumiu. Depois, terminou com ela por telefone. Disse que “não podia carregar o peso de alguém quebrada”... que tinha que focar nos estudos dele...

A palavra quebrada atingiu Thomas como um tiro direto ao peito.

O ar pareceu sair do ambiente.

Andrea largou algumas sacolas na pia e voltou sua atenção para Thomas, estava séria.

— Eu sempre gostei de você, Tom. Acho você um bom rapaz, mas eu quero que você me ouça com muita atenção. — ela aproximou-se. — Sou grata a tudo que fez por mim e pela minha família, mas não sou boba. Eu vejo como você olha para a Taylor e, ainda pior, também vejo a forma como ela te olha... não a machuque.

— Não farei isso.

— Você pode ter essa casa, pode pensar em fazer o que quiser. E sair daqui, não deverá nada para nós, mas não magoe minha filha. Eu não permitirei que você faça isso!

— Eu vou cuidar dela — ele disse por fim. — Eu prometo.

— Seja honesto com ela, só isso.

Ele concordou e, em silêncio, os dois guardaram as compras. Andrea serviu chá para ambos e depois subiu para seu quarto.

Thomas olhou pela janela da cozinha a luz do celeiro ligada, suspirou por não conseguir fazer nada, pois não queria invadir o espaço de Taylor.

Já o celeiro estava silencioso quando Taylor entrou. Um silêncio tão grande que parecia absorver até a respiração dela.

Ela acendeu apenas a lâmpada fraca próxima à bancada de ferramentas. A luz amarelada mal alcançava o centro do espaço, deixando o restante em sombras, com o cheiro de madeira úmida, feno frio e um leve toque de graxa no ar.

Ela caminhou até a porta dos fundos e sentou-se no banco antigo de madeira, o mesmo onde o pai se sentava para afiar ferramentas. Ali, abraçou os joelhos e finalmente deixou o que estava preso dentro dela sair — em silêncio.

Não chorou alto. Taylor nunca chorava alto.

Mas o que sentiu era pesado demais:

A humilhação de ver Joe seguir com a vida como se ela fosse um capítulo descartável.

A dor de imaginar que talvez fosse mesmo “peso” demais para alguém.

A raiva de si mesma por ainda se abalar.

E a culpa — sempre a culpa — por ter parado sua vida inteira.

A neve batia fraca nas paredes do celeiro, e o mundo parecia muito longe.

Taylor ficou lá por longas horas, até o sol desaparecer completamente. Quando voltou para dentro de casa, a cozinha estava escura, exceto por uma luz suave vinda do corredor.

Andrea já dormia e a casa estava quieta, mas o quarto de hóspedes não.

Thomas acabara de tomar um banho quente, secou seu corpo e seu cabelo. Vestiu sua calça de moletom e sentou-se na cama com os documentos em mãos.

As palavras eram duras. Encarando aquele papel à luz amarelada do abajur, ele parecia mais vulnerável do que nunca.

Ele guardou os papéis com um suspiro frustrado, tirou a camisa e a jogou sobre a cadeira, passando a mão pelo rosto cansado.

Mas então ouviu um som suave, como quase nada. Um roce tímido de dedos contra a madeira da porta.

Thomas ergueu o olhar e quando a porta se abriu devagar, Taylor apareceu.

Ela estava parada no batente, iluminada apenas pelo corredor. Os cabelos um pouco desgrenhados e o um pouco rosto cansado. Os olhos vulneráveis de um jeito que ele nunca tinha visto.

Taylor observava Thomas sem camisa – primeira vez que via seu corpo daquela forma. Só ficou ali, respirando como quem tenta se convencer de que não está fazendo algo impulsivo.

— Taylor…? Aconteceu alguma coi...

Ela balançou a cabeça devagar.

E depois deu um passo para dentro do quarto.

A voz saiu pequena, trêmula, mas firme o suficiente para quebrar todos os silêncios que carregavam desde a cidade:

— Você pode… ficar comigo hoje?

Thomas travou – não por dúvida, mas porque aquilo atingiu seu coração como um pedido que ele não esperava ouvir tão cedo.

Ela engoliu seco, tentando explicar, sem saber como:

— Eu não quero estar sozinha. Não depois de hoje. Não… não agora. Eu só quero dormir perto de você. Só isso.

E foi ali, naquele “só isso”, que significava tanto. Foi quando Thomas percebeu que aquele laço entre eles não era mais algo leve, nem passageiro.

Ele se aproximou devagar, como se chegasse perto de um animal ferido que confiava nele pela primeira vez.

Ergueu a mão e tocou seu rosto com extremo cuidado.

— Claro que pode. — sua voz veio quase num sussurro. — Eu estou aqui.

Ela caminhou até ele devagar, cada passo era uma entrega silenciosa. Tocou em seu peitoral nu, olhando-o nos olhos. Então, entrou sob os edredons, encolhendo-se no canto como se ainda tivesse medo de invadir o espaço dele.

Thomas se deitou ao lado, deixando um espaço respeitoso, até que ela respirou fundo, virou de lado e procurou o peito dele com a cabeça, num gesto tão simples quanto devastador.

Ele a acolheu imediatamente, envolvendo-a com o braço e puxando-a para mais perto.

Taylor suspirou contra sua pele, um suspiro que parecia dizer: finalmente.

E ali, naquela quietude absoluta, o mundo parou.

[CONTINUA]

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