08°
Capítulo – “Feliz Natal!”
Parte
01
Taylor acordou devagar, como quem
emerge à superfície depois de muito tempo submersa. A luz do Natal entrava
suave pela janela do quarto de hóspedes — mas não foi ela que a despertou.
Foi o peso da pasta de documentos
sobre seu peito.
Ela deve ter adormecido lendo,
porque a borda do envelope estava marcada na pele do braço. O corpo ainda
carregava o calor da madrugada: o abraço de Thomas, a confissão, o beijo que
parecia inaugurar um mundo novo. E, apesar disso, a mente estava desperta
demais para voltar a dormir.
Thomas dormia ao seu lado, de
bruços, o rosto virado na direção dela. O cabelo caía sobre a testa, e a
respiração profunda deixava claro que ele realmente não dormia assim havia
muito tempo — não com paz, não com alguém ali.
Taylor o observou por longos
segundos. O ombro forte movendo-se devagar com a respiração, a cicatriz fina
perto da clavícula, o jeito como ele parecia menos implacável e mais apenas o
homem que confessara amar.
Ela deslizou para fora da cama sem
fazer barulho. A pasta ainda estava ali chamando-a como um convite a realidade
e o futuro do processo, da fazenda e, é claro, deles.
Sentou-se no chão, cruzando as
pernas, e abriu novamente os documentos. As folhas tilintaram com a frieza dos
termos legais: “violação de conduta administrativa”, “impropriedade de relação
com cliente”, “testemunho contraditório”, “ruptura de protocolo interno”.
E no meio disso tudo… Scott.
Anotações feitas à mão,
assinaturas, datas que pareciam alinhadas a momentos da própria vida dela e que
ela nunca soubera que tinham algum peso no mundo de seu pai – junto com de
Thomas.
Ela suspirou.
— Não deveria estar acordada a essa
hora — murmurou uma voz sonolenta atrás dela.
Taylor virou-se. Thomas levantava a
cabeça do travesseiro, os olhos semicerrados, a voz grave e arranhada do sono. Ele
se sentou devagar, apoiando os antebraços nos joelhos. O peito nu subia e
descia lentamente, e por um instante ele pareceu vulnerável, quase preocupado.
— Taylor… — disse, tocando o topo
da pasta. — Você não precisa se preocupar com isso.
— É claro que preciso... aqui tem
muita coisa que eu nunca soube...
— Porque seu pai não queria te preocupar,
então, não se preocupe porque eles virão atrás de mim.
— Só irão atrás de você por nossa
causa, Tom. — ela suspirou. — Se você quer fazer isso dar certo, precisa
confiar também.
Thomas desviou o olhar, como se
aquilo o atingisse num ponto que só ela alcançava.
Silêncio.
Finalmente, ele respirou fundo.
— Pergunte. O que quiser. — disse.
— Eu te respondo tudo.
— O que realmente está em jogo
aqui?! — ela indagou, virando sua atenção total a ele.
Ele passou a mão nos cabelos,
acordando aos poucos, e quando ergueu o olhar, havia honestidade – inteira, sem
defesas.
— Se o processo for adiante, perco
minha posição em Londres. E com ela… — ele hesitou, pensativo. — perco meu
cargo no conselho e tudo o que construí nos últimos dez anos. — Pausa. — E se o
leilão for considerado conflito de interesse, a compra da fazenda é anulada. E
vocês perdem tudo outra vez.
Taylor sentiu o ar escapar.
— Então… você está entre perder a
sua vida inteira… ou nós perdemos tudo?
Thomas se aproximou por trás dela,
sentando-se no chão, abraçando-a pelas costas. O queixo dele pousou no ombro
dela, quente.
— Isso não vai acontecer... — ele
sussurrou. — já estou pensando no que fazer...
— Como?
Thomas pegou uma das folhas e
mostrou.
— Eu posso pedir uma revisão
interna. Se eu provar que o conflito não existiu ou que não influenciou minhas
decisões, o processo administrativo morre. — ele respirou fundo. — e estou
contando que tenha assustado Cynthia o suficiente para que ela comece a se
mover para que o processo seja invalidado.
— E ela fará isso?!
— Ainda não sei, só voltando para
Londres para ver o que ela pensou durante o recesso, mas ela sabe que falei
sério. Eu posso levar ela e a equipe dela comigo para o buraco.
— O que você tem contra ela? Ela
não era... a sua namorada?
— Ah, não, não... — Thomas
refletiu. — Nunca chegamos a namorar, era algo mais casual e somos de setores
diferentes, mas a gente conversava quando...
— Thomas, não precisa se
envergonhar em falar que já esteve com outra mulher. — Taylor riu. — Isso não
me afetará de maneira alguma.
— Bom, eu sei... — ele falou
envergonhado. — nós trocávamos informações, mas eram num sentido mais de
conversar, comentar sobre algo e ela sabia do Scott, da nossa amizade e de como
eu me importava com o caso dele.
Ele olhou-a de uma forma profunda,
pegou na mão dela e disse, num sussurro:
— Eu ainda quero falar sobre isso,
sobre seu pai, mas ainda sinto que não é momento.
— Como assim?
— Não é complicado, mas você se
questiona do porquê eu fiz o que fiz, mas minha gratidão pelo seu pai é maior
do que eu disse, mas ainda não é momento.
Taylor assentiu, mesmo curiosa, e decidiu
respeitar.
— E a fazenda? — ela murmurou.
Ele ergueu o rosto, tocando a
bochecha dela.
— A fazenda é minha legalmente, mas
eu não quero que seja minha. Quero que seja sua!
Taylor franziu o cenho.
— E por isso a proposta de
casamento.
Thomas assentiu, devagar,
envergonhado.
— Ele não queria que você perdesse
a propriedade e me pediu para manter a fazenda no nome da família Swift por
meios legais. E o casamento seria o mais simples nesse caso... — sorriu,
constrangido. — direto e prático, como sempre, mesmo que ainda não
verdadeiro.
Taylor riu fraquinho, tocando o
peito dele.
Ele segurou a mão dela.
— Mas agora… — Thomas disse, a voz
baixa, quase um sussurro. — eu não quero me casar só para cumprir um pedido... —
Pausa. — eu quero que dê certo.
Taylor parou de respirar por um
instante.
Os dois ficaram ali, abraçados no
chão por longos minutos — sem pressa, sem peso, só uma intimidade calma, madura
e íntima.
A manhã de Natal parecia infinita
no mundo deles – porque eles tinham todo o tempo do mundo.
Eles voltaram para cama, Taylor
acaricia o peito nu de Thomas com excitação e ele apreciava cada curva dela. E
entre uma conversa e outra, um plano e ideia, as carícias voltaram — suaves,
lentas, carinhosas, típicas do amor recém-admitido. Não era sobre desejo; era
sobre encontro.
— É difícil, Tom... ainda que a
gente... você sabe... — Taylor encostou a mão no rosto dele. — ainda é cedo
para um casamento real.
— Eu sei, mas independente do que nós
nos tornemos, em menos de um ano tudo isso aqui será seu. Essa é a minha
palavra!
Ela riu, como quem não acreditava
na proposta.
— Casar por conveniência...
— Só por um tempo... — Thomas
beijou-a. — e depois seremos nós dois, de verdade.
— Tenho que conversar com minha mãe
sobre tudo isso... — ela balançou a cabeça.
— Como se ela não soubesse de nós
dois... — Thomas continuava beijando-a. — ela sabe.
— Tom... — ela soltou um gemido.
Taylor tentou afastá-lo, mas ele a
golpeou de forma que ela já estava nua por cima de seu corpo, ele trouxe-a mais
para perto e beijou sua boca, seu pescoço, seus ombros, seus seios, enquanto a
mão dele percorria e apertava de forma delicada cada parte de seu corpo.
Quando decidiram descer, já passava
das dez.
Andrea quase derrubou a jarra de
suco quando viu os dois aparecerem juntos na cozinha.
— Bom dia e feliz natal, para vocês
dois... — disse com ênfase no final.
Taylor corou. Thomas riu baixinho.
A mesa já estava posta, mas nessa
manhã, de uma forma especial feita pela Andrea. A mesa estava com a toalha especial
de natal bordada por Andrea há alguns anos, com algumas decorações antigas e
que Thomas ajudou Taylor a escolher na primeira vez que foram ao centro, com
panquecas, cookies e outros preparos feitos por Andrea.
Sentaram-se a mesa, Taylor olhou para
a mãe e anunciou:
— Mamãe, temos algumas coisas para
te contar...
E então começaram a explicar sobre
o romance deles e Andrea sorriu – dizendo com ar de que sabia desde o dia que
dormiram juntos na poltrona da sala de estar. Então, contaram com mais detalhes
sobre a ligação, o processo e... a proposta.
Andrea não perdeu a compostura,
pegou na mão de sua filha de maneira e firme e disse:
— O que quer vai fazer?! Sabe que
estou aqui para te apoiar...
— Ainda não pensando... o que eu
não quero é desonrar você ou papai por...
— Tay, querida, você jamais fará
isso conosco. Conhecemos seu coração e suas intenções, mas você precisa, antes
de tudo, pensar em si mesma. — Andrea beijou o rosto de sua filha. — e saber
que sua mãe está aqui ao seu lado...
Voltou sua atenção ao Thomas e
sorriu.
— Vocês dois fazem sentido. E é
engraçado que Scott sempre soube disso.
Taylor corou, pensando no pai.
Andrea apertou a mão dela e disse baixinho:
— Ele está orgulhoso, assim como
eu. — Andrea sorriu e continuou, mudando de tom. — E eu acho que vocês devem se
divertir, deixar a decisão correta vir... sempre vem.
Eles se olharam, Thomas pegou na
mão de Taylor por debaixo da mesa.
— Vocês deveriam ir para o Festival
de Árvores, ver as nossas criações... — Andrea. — porque uma nossa ganha todo
ano, Tom, temos os melhores pinheiros...
— Sim, sei que sim... — olhou para
Taylor. — Vamos?
— Ah, acho melh...
— Taylor, querida, chega de “achar
coisas”. É natal e vocês querem ficar aqui sem fazer nada, eu irei me deitar
porque sinto uma dor no peito... mas estou bem, prometo, é só aquela mesma dor.
— pegou uma xícara. — Ficarei bem, mas vocês devem ir se divertir.
— Vamos? — ele repetiu, sua voz
suave, mas firme.
Taylor sorriu, com o coração
quente.
— Vamos.
Quando subiram as escadas, o clima
entre eles já tinha mudado outra vez — não era mais confissão, nem discussão
sobre processos, nem lembranças de Scott. Era o silêncio bom. O silêncio de
quem escolheu ficar.
No corredor, Thomas encostou a mão
na cintura dela, sem pressa, apenas guiando-a até o quarto dela.
— Se quiser, posso esperar lá
embaixo — ele disse, mesmo que os olhos traíssem o desejo de ficar.
— Não — Taylor sorriu, puxando-o
pela camisa.
Thomas parou diante da porta do
quarto de Taylor como se estivesse prestes a cruzar uma fronteira que, até
então, só imaginara. Ele já estivera ali de passagem — batendo para avisar
algo, perguntando sobre horários, chamando-a para jantar — mas nunca entrara.
Nunca atravessara aquele espaço que carregava tão claramente a alma dela.
Taylor abriu a porta e se virou
para ele, um sorriso tímido nos lábios.
— Pode entrar… se quiser.
Ele entrou devagar, como quem pisa
em um lugar sagrado.
O perfume dela — suave, amadeirado,
misturado a algo floral — estava impregnado no ar. Não era forte, mas presente
o suficiente para fazê-lo respirar fundo, quase com devoção.
O quarto tinha uma luz suave vinda
da janela inclinada do sótão; o sol fraco de inverno pintava o piso com
reflexos dourados. O ambiente misturava o velho e o jovem: o quarto de
adolescência reorganizado, agora habitado por uma mulher.
E Thomas, por um instante, ficou
parado. Só absorvendo.
Taylor observou-o com um leve
rubor, como se estivesse se expondo mais do que quando tirava a própria roupa.
Ele finalmente se aproximou da
prateleira, como quem observa obras de arte, passou a ponta dos dedos pelas
lombadas.
Romances. Ensaios. Autores que ele
conhecia — Fitzgerald, Shakespeare, Woolf , e outros que não conhecia, mas
reconhecia o cuidado na escolha. Havia livros gastos, claramente relidos;
outros com post-its coloridos marcando trechos; outros ainda novos, esperando
pela primeira leitura.
— Você marca todos? — ele
perguntou, tocando um post-it azul-claro.
Taylor sorriu, encolhendo os
ombros.
— Só os que me falam alguma coisa.
— Então você deve ouvir muita coisa
— ele murmurou, quase para si mesmo.
Ele deslizou a mão até uma pequena
caixa de madeira, ignorada por muitos, mas onde ele reconhecia algo especial.
Vinis cuidadosamente alinhados: Fleetwood Mac, Bing Crosby, Carole King, ABBA, Stevie
Nicks, James Taylor.
Ele pegou um disco, analisando a
capa.
— “Bella Donna.” — Thomas sorriu de
canto. — Eu deveria ter imaginado.
Taylor ergueu uma sobrancelha,
encostada na escrivaninha, os braços cruzados.
— Por quê?
Ele virou a capa entre os dedos,
como quem lê algo invisível ali.
— Porque Stevie sempre foi… feroz e
sensível ao mesmo tempo... — Ele levantou o olhar e encontrou o dela. — Assim
como você.
Taylor engoliu seco, surpresa por
ele ter acertado tão fundo.
Ele caminhou até a escrivaninha. Fotos
pequenas presas com clips:
Ela e Scott rindo ao lado de um trator; Ela e Andrea abraçadas no Natal de anos
atrás; Um cachorro que ele nunca conheceu; Taylor com o uniforme da escola,
segurando medalhas. Um bilhete dobrado com a caligrafia do pai. Uma vida ali,
exposta para ele.
Thomas tocou o porta-retrato onde
ela e Scott sorriam sob um campo florido – o tipo de sorriso que só existe
entre pai e filha.
Ele respirou fundo.
— Ele te amava muito — Thomas
disse, sem tirar os olhos da imagem.
— Eu sei — ela respondeu baixinho.
Thomas ainda segurava o
porta-retrato quando Taylor se aproximou por trás dele. Encostou o queixo leve
na omoplata dele — um gesto silencioso, íntimo, cheio de confiança
recém-nascida.
— Vamos nos arrumar? — ela
murmurou.
Ele virou o rosto de leve na
direção dela, mas antes que respondesse, Taylor tomou sua mão e o puxou. A
porta do banheiro entreaberta deixava escapar vapor quente – Andrea devia ter
deixado o aquecedor ligado cedo naquela manhã gelada.
Taylor entrou primeiro, segurando
os dedos dele; Thomas hesitou por meio segundo,
mas entrou.
O vidro do box estava embaçado, e
quando ela abriu o registro, o barulho da água preencheu o pequeno ambiente,
abafado e íntimo.
Taylor deu dois passos para trás,
tirando a blusa devagar, sempre olhando para ele. Thomas a acompanhou,
retirando a camisa com a naturalidade de quem sabe que é observado e quer ser
observado apenas por ela.
Quando entraram sob a água quente,
não havia pressa. Ele passou a mão molhada pela nuca dela, descendo pelas
costas e Taylor apoiou as mãos no peito dele, sentindo o calor da pele
misturado com o da água.
— Você vai acabar atrasando a
gente… — ela brincou, encostando a testa na dele.
— Eu não me importo — Thomas
respondeu, beijando o canto da boca dela.
As mãos se encontraram, se
exploraram; carícias lentas, profundas, que diziam sobre confiança e desejo. Thomas
a trouxe para perto, e por um instante ela achou que ele fosse avançar, que
fossem se perder ali mesmo.
Mas, de repente, ele afastou o
rosto, respirando fundo.
— Se eu continuar… — ele disse,
rouco — nós não vamos sair desse banheiro antes do ano novo.
Taylor riu, mordendo o lábio.
— E isso seria ruim?
Ele fechou os olhos, como se
sofresse um pouco com a própria disciplina.
— Hoje… — ele disse, encostando a
testa na dela. — Hoje eu quero que te vejam comigo.
Thomas desligou o chuveiro antes
que ela respondesse.
Pegou a toalha e passou nos ombros
dela com uma gentileza que quase doía.
— Eu vou me trocar antes que isso
aqui… — ele apontou, meio rindo, meio desarmado — saia totalmente do controle.
Taylor estendeu a toalha para ele,
ainda sorrindo.
— Vá. Antes que mude de ideia.
Thomas deu um beijo rápido na testa
dela e saiu do banheiro como quem foge de perigo — ou corre para não ceder ao
próprio desejo.
Assim que ficou sozinha, Taylor
abriu o armário e suspirou.
Não queria parecer que estava tentando seduzi-lo, mas iria seduzi-lo.
Era Natal e ela estava indo ao
festival com ele. Após vasculhar seu armário, escolheu um vestido de tricô
creme, de mangas longas, justo o suficiente para delinear sua silhueta, acima
do joelho, meia-calça preta fina, aveludada e botas até o joelho. Ela prendeu o
cabelo num meio-coque despretensioso e passou um batom leve.
Quando saiu do quarto, encontrou
Thomas terminando de ajustar a gola da camisa azul marinho no corredor.
Ele a olhou e congelou.
— Taylor… — ele murmurou, a voz tão
baixa que quase não saiu. — Você está…
Ela ergueu a sobrancelha,
provocando:
— Bonita?
Thomas deu um passo na direção
dela. Não foi um passo casual, mas deliberado, fazendo o ar no corredor parecer
subitamente escasso. Taylor recuou instintivamente, mas suas costas encontraram
a parede fria antes que ela pudesse processar a intenção dele.
Ele não parou.
Thomas avançou até invadir
completamente o espaço pessoal dela, apoiando uma mão na parede, logo acima do
ombro de Taylor, encurralando-a. O cheiro dele — amadeirado, limpo e
perigosamente masculino — a envolveu por completo.
Os olhos dele desceram devagar,
percorrendo o desenho das pernas dela cobertas pela meia-calça escura, subindo
pelas coxas com uma demora que fez a pele de Taylor formigar, como se ele a
estivesse tocando apenas com o olhar.
— Devastadora... — ele murmurou, a
voz rouca vibrando baixo, quase no peito dela. — Na verdade, é pior do que
isso.
Taylor abriu a boca para responder,
mas o som morreu na garganta quando Thomas eliminou o último centímetro de
distância entre eles. Ele pressionou o corpo contra o dela, o quadril firme
dele encaixando-se no dela com uma precisão que a fez arfar.
O atrito foi imediato e elétrico. O
tecido grosso da calça social dele roçando contra a sensibilidade das pernas
dela, o peso do corpo dele a mantendo presa contra a parede.
Ele inclinou a cabeça, os lábios
roçando o lóbulo da orelha dela, e moveu o quadril devagar, um roçar sutil, mas
carregado de uma intenção inconfundível que fez os joelhos de Taylor
fraquejarem.
— Você não tem ideia... — ele
sussurrou contra a pele sensível do pescoço dela, sentindo-a tremer sob seu
corpo. — Isso vai ser uma absoluta tortura.
Thomas se afastou milímetros, o
suficiente para encará-la. Seus olhos estavam escuros, dilatados, e ele soltou
aquele riso baixo, anasalado, de quem sabe que acabou de perder o controle da
própria compostura britânica.
— Vá na frente — disse ele, a voz
falhando levemente enquanto abria espaço, mas sem tirar os olhos da boca dela.
— Antes que eu perca o pouco de juízo que me resta e decida que não vamos sair
daqui.
Taylor desceu as escadas sentindo
as pernas ainda trêmulas, não pelo esforço físico, mas pelo rastro de
eletricidade que o corpo dele deixara no dela. Ela ouviu os passos dele logo
atrás – pesados, ritmados, predatórios. Quando saíram para o ar gelado da
manhã, a brisa fria chocou-se contra o calor que emanava deles, mas fez pouco
para dissipar a tensão.
Thomas caminhou até o lado do
passageiro do Volvo, abrindo a porta para ela. Assim que ela se acomodou no
banco de couro, ele fechou a porta. O interior do carro era um mundo à parte:
isolamento acústico perfeito, cheiro de couro e o perfume dele que agora
parecia estar gravado nos sentidos dela. Thomas entrou no lado do motorista,
trazendo consigo aquela energia contida. Ele ligou o motor, o carro ronronou
suavemente, e ligou o aquecimento dos bancos.
— Você está bem? — ele perguntou,
manobrando o carro para fora da propriedade com uma mão no volante.
— Estou... — Taylor ajeitou a saia
do vestido, tentando recuperar o fôlego. — Só tentando sobreviver a você.
Thomas riu baixo, um som rouco.
— O sentimento é mútuo, acredite.
Assim que o carro ganhou a estrada
principal, onde a neve já tinha sido limpa, a mão direita de Thomas deixou o
câmbio, mas não voltou para o volante. Em vez disso, a mão grande e quente
pousou na coxa esquerda de Taylor, logo acima do joelho. O contato foi como
fogo. Ele apertou os dedos suavemente, sentindo a textura aveludada da
meia-calça.
— Veludo? — ele perguntou, sem
tirar os olhos da estrada, mas o polegar começou a desenhar círculos lentos e
torturantes na parte interna da coxa dela.
— Sim... — Taylor respondeu, a voz
falhando.
Ela olhou para a mão dele; a pele
clara contra o tecido preto, o relógio no pulso, as veias saltadas indicando a
força que ele continha. O polegar dele subiu um centímetro. Só um. Mas foi o
suficiente para fazer o ventre de Taylor contrair.
— Thomas... você está dirigindo.
— Eu sou perfeitamente capaz de
multitarefas, querida.
Ele deslizou a mão mais para cima,
a palma larga cobrindo quase toda a largura da coxa dela. O calor da mão dele
atravessava o tecido fino, marcando-a. Não era um toque passivo; era
possessivo. Ele dirigia com uma calma irritante, enquanto a mão dele reivindicava
cada pedaço dela no silêncio daquela cabine. Taylor abriu as pernas
imperceptivelmente — ou talvez não tão imperceptivelmente assim, porque Thomas
sorriu de canto, apertando a pele com um pouco mais de força.
O resto do caminho foi um borrão de
sensações. A paisagem passava lá fora, mas o mundo de Taylor se resumia ao
calor da mão dele subindo e descendo por sua perna, o som da respiração
controlada dele e a tensão que era tão espessa que parecia consumir todo o
oxigênio do carro.
Quando chegaram ao centro, a praça
principal estava viva — luzes penduradas entre os postes, música natalina
ecoando de um palco improvisado, crianças correndo com copos de chocolate
quente. A neve fina caía tão devagar que parecia parte da decoração.
Thomas estacionou no centro da
cidade, perto da praça onde o festival acontecia, ele desligou o motor, mas não
destravou as portas imediatamente. O silêncio voltou, pesado. Ele soltou o
cinto de segurança e se virou para ela, estendendo a mão para acariciar o rosto
dela, descendo os dedos pelo pescoço até a gola do vestido de tricô.
— Pronta? — ele perguntou.
Taylor assentiu, embora suas pernas
parecessem gelatinosas.
— Pronta.
Thomas se inclinou, capturando a
boca dela num beijo profundo, possessivo, com gosto de promessa e de
impaciência. Thomas passou o polegar pelo lábio inferior dela, limpando um
pouco do batom borrado.
— Vamos — ele disse, a voz rouca.
Quando Thomas e Taylor atravessaram
o portão de madeira, de mãos dadas, uma onda silenciosa percorreu o espaço. Primeiro,
olhares curiosos. Depois, olhares longos demais. E então, cochichos — daqueles
que não se disfarçam.
Thomas sentiu a mão de Taylor ficar
um pouco mais fria, não pelo clima. Ele apertou de leve.
— Respira — ele murmurou, sem
sorrir, mas terno.
Ela respirou.
Julie, do outro lado da feira,
quase derrubou duas garrafas de cidra quando os viu.
O senhor Collins, da mercearia, parou no meio da frase que dizia para outra
pessoa.
Até a banda no palco pareceu desacelerar por um segundo.
Taylor ajeitou o vestido curto, a
meia-calça brilhando suavemente sob o tecido. Duas camadas de ousadia
escondidas por baixo do casaco — até ela conseguia sentir o próprio perfume
misturado ao frio do inverno, e Thomas a observou por um segundo a mais do que
deveria.
O olhar dele percorreu suas pernas,
voltou para sua boca, depois para seus olhos — com um teor de desejo tão
explícito que ela precisou inspirar fundo.
— Tom... pare — ela sussurrou, meio
rindo.
— O que estou fazendo? — ele
perguntou, confuso.
— Olhando para mim desse jeito.
Ele sorriu — lento, perigoso, certo
de si.
— Não consigo... não hoje.
E assim que deram os primeiros
passos na direção das luzes do festival, juntos, lado a lado, algo mudou ao
redor deles. Era como se o ambiente percebesse o que estava prestes a entrar.
As pessoas começaram a virar o
rosto. Primeiro discretamente. Depois sem disfarce.
Thomas, alto, sério, impecável no
casaco de lã escura, parecia um contraste perfeito com Taylor — luminosa,
delicada e sensual de um jeito involuntário, a mão dele firme na cintura dela,
guiando-a.
Era impossível não notar.
A música natalina ao fundo, as
luzes refletindo no cabelo de Taylor, o cheiro de canela e neve. Tudo parecia
se abrir para recebê-los, ou para julgá-los.
Taylor sentiu o peso dos olhares
primeiro.
E então vieram as pessoas que eles
conheciam:
Olivia, a garota da antiga escola,
parou no meio do caminho e comentou alto demais: “Meu Deus… são eles?!”. Mark e
Jenna, amigos de Joe, cochicharam enquanto tentavam disfarçar.
E claro... Joe estava lá.
Ele estava perto da árvore
principal, com um copo de sidra quente na mão, o corpo meio inclinado para a
frente como quem quer enxergar melhor. Os olhos passaram primeiro por Taylor —
demorando demais na curva da perna dela, depois subiram para Thomas, onde
estacionaram com ressentimento evidente.
Taylor sentiu o estômago subir, mas
Thomas apenas pousou a mão na parte baixa das costas dela, firme, territorial,
porém elegante.
— Está tudo bem... — ele murmurou.
— Você está linda, impossível não olhar.
Taylor deu um passo adiante, e
Thomas a acompanhou, exibindo uma calma que só alguém extremamente confiante
conseguiria manter.
E foi nessa calma que residia a
tensão sexual entre eles — era algo quase palpável.
A proximidade deles traía isso: o
jeito que os ombros se roçavam, como Thomas inclinava o corpo em direção ao
dela instintivamente, como ela olhava para ele com brilho novo.
Eles atravessaram a entrada
iluminada, e a conversa baixa das pessoas ficou para trás.
Quando chegaram à primeira fileira
de barracas, Taylor ainda sentia o coração acelerado.
Thomas inclinou o rosto para ela.
— Você está bem?
Ela sorriu.
— Sim. Só… é estranho ser vista com
você desse jeito.
Ele ergueu uma sobrancelha.
— Estranho como?
— Como se todo mundo soubesse o que
a gente fez antes de sair de casa.
Thomas riu — abafado, profundo,
rouco.
— Taylor... — ele aproximou os
lábios do ouvido dela. — Eles provavelmente sabem.
Ela empurrou o ombro dele de leve,
corando.
Mas antes que ela pudesse dizer
qualquer outra coisa, Thomas parou.
— Vou ao banheiro — anunciou. —
Dois minutos.
— Quer que eu vá com você? — ela
brincou.
Ele deu aquele sorriso enviesado,
carregado de intenção.
— Se você for, não volto em dois
minutos.
Ela riu, desviando o olhar.
Thomas tocou o queixo dela
rapidamente, com delicadeza, antes de se afastar em direção ao prédio de
banheiros do festival.
Taylor ficou ali, observando-o se
afastar, a postura firme, o casaco balançando com o vento.
Ela não sabia — ainda — que Joe e
os amigos tinham acabado de entrar no banheiro minutos antes. E que o encontro
que estava prestes a acontecer ali dentro mudaria o tom do festival inteiro.
[CONTINUA]

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