21 de novembro de 2025

The Swift’s Christmas Trees | 08° Capítulo.

08° Capítulo – “Feliz Natal!”

Parte 01

Taylor acordou devagar, como quem emerge à superfície depois de muito tempo submersa. A luz do Natal entrava suave pela janela do quarto de hóspedes — mas não foi ela que a despertou.

Foi o peso da pasta de documentos sobre seu peito.

Ela deve ter adormecido lendo, porque a borda do envelope estava marcada na pele do braço. O corpo ainda carregava o calor da madrugada: o abraço de Thomas, a confissão, o beijo que parecia inaugurar um mundo novo. E, apesar disso, a mente estava desperta demais para voltar a dormir.

Thomas dormia ao seu lado, de bruços, o rosto virado na direção dela. O cabelo caía sobre a testa, e a respiração profunda deixava claro que ele realmente não dormia assim havia muito tempo — não com paz, não com alguém ali.

Taylor o observou por longos segundos. O ombro forte movendo-se devagar com a respiração, a cicatriz fina perto da clavícula, o jeito como ele parecia menos implacável e mais apenas o homem que confessara amar.

Ela deslizou para fora da cama sem fazer barulho. A pasta ainda estava ali chamando-a como um convite a realidade e o futuro do processo, da fazenda e, é claro, deles.

Sentou-se no chão, cruzando as pernas, e abriu novamente os documentos. As folhas tilintaram com a frieza dos termos legais: “violação de conduta administrativa”, “impropriedade de relação com cliente”, “testemunho contraditório”, “ruptura de protocolo interno”.

E no meio disso tudo… Scott.

Anotações feitas à mão, assinaturas, datas que pareciam alinhadas a momentos da própria vida dela e que ela nunca soubera que tinham algum peso no mundo de seu pai – junto com de Thomas.

Ela suspirou.

— Não deveria estar acordada a essa hora — murmurou uma voz sonolenta atrás dela.

Taylor virou-se. Thomas levantava a cabeça do travesseiro, os olhos semicerrados, a voz grave e arranhada do sono. Ele se sentou devagar, apoiando os antebraços nos joelhos. O peito nu subia e descia lentamente, e por um instante ele pareceu vulnerável, quase preocupado.

— Taylor… — disse, tocando o topo da pasta. — Você não precisa se preocupar com isso.

— É claro que preciso... aqui tem muita coisa que eu nunca soube...

— Porque seu pai não queria te preocupar, então, não se preocupe porque eles virão atrás de mim.

— Só irão atrás de você por nossa causa, Tom. — ela suspirou. — Se você quer fazer isso dar certo, precisa confiar também.

Thomas desviou o olhar, como se aquilo o atingisse num ponto que só ela alcançava.

Silêncio.

Finalmente, ele respirou fundo.

— Pergunte. O que quiser. — disse. — Eu te respondo tudo.

— O que realmente está em jogo aqui?! — ela indagou, virando sua atenção total a ele.

Ele passou a mão nos cabelos, acordando aos poucos, e quando ergueu o olhar, havia honestidade – inteira, sem defesas.

— Se o processo for adiante, perco minha posição em Londres. E com ela… — ele hesitou, pensativo. — perco meu cargo no conselho e tudo o que construí nos últimos dez anos. — Pausa. — E se o leilão for considerado conflito de interesse, a compra da fazenda é anulada. E vocês perdem tudo outra vez.

Taylor sentiu o ar escapar.

— Então… você está entre perder a sua vida inteira… ou nós perdemos tudo?

Thomas se aproximou por trás dela, sentando-se no chão, abraçando-a pelas costas. O queixo dele pousou no ombro dela, quente.

— Isso não vai acontecer... — ele sussurrou. — já estou pensando no que fazer...

— Como?

Thomas pegou uma das folhas e mostrou.

— Eu posso pedir uma revisão interna. Se eu provar que o conflito não existiu ou que não influenciou minhas decisões, o processo administrativo morre. — ele respirou fundo. — e estou contando que tenha assustado Cynthia o suficiente para que ela comece a se mover para que o processo seja invalidado.

— E ela fará isso?!

— Ainda não sei, só voltando para Londres para ver o que ela pensou durante o recesso, mas ela sabe que falei sério. Eu posso levar ela e a equipe dela comigo para o buraco.

— O que você tem contra ela? Ela não era... a sua namorada?

— Ah, não, não... — Thomas refletiu. — Nunca chegamos a namorar, era algo mais casual e somos de setores diferentes, mas a gente conversava quando...

— Thomas, não precisa se envergonhar em falar que já esteve com outra mulher. — Taylor riu. — Isso não me afetará de maneira alguma.

— Bom, eu sei... — ele falou envergonhado. — nós trocávamos informações, mas eram num sentido mais de conversar, comentar sobre algo e ela sabia do Scott, da nossa amizade e de como eu me importava com o caso dele.

Ele olhou-a de uma forma profunda, pegou na mão dela e disse, num sussurro:

— Eu ainda quero falar sobre isso, sobre seu pai, mas ainda sinto que não é momento.

— Como assim?

— Não é complicado, mas você se questiona do porquê eu fiz o que fiz, mas minha gratidão pelo seu pai é maior do que eu disse, mas ainda não é momento.

Taylor assentiu, mesmo curiosa, e decidiu respeitar.

— E a fazenda? — ela murmurou.

Ele ergueu o rosto, tocando a bochecha dela.

— A fazenda é minha legalmente, mas eu não quero que seja minha. Quero que seja sua!

Taylor franziu o cenho.

— E por isso a proposta de casamento.

Thomas assentiu, devagar, envergonhado.

— Ele não queria que você perdesse a propriedade e me pediu para manter a fazenda no nome da família Swift por meios legais. E o casamento seria o mais simples nesse caso... — sorriu, constrangido. — direto e prático, como sempre, mesmo que ainda não verdadeiro.

Taylor riu fraquinho, tocando o peito dele.

Ele segurou a mão dela.

— Mas agora… — Thomas disse, a voz baixa, quase um sussurro. — eu não quero me casar só para cumprir um pedido... — Pausa. — eu quero que dê certo.

Taylor parou de respirar por um instante.

Os dois ficaram ali, abraçados no chão por longos minutos — sem pressa, sem peso, só uma intimidade calma, madura e íntima.

A manhã de Natal parecia infinita no mundo deles – porque eles tinham todo o tempo do mundo.

Eles voltaram para cama, Taylor acaricia o peito nu de Thomas com excitação e ele apreciava cada curva dela. E entre uma conversa e outra, um plano e ideia, as carícias voltaram — suaves, lentas, carinhosas, típicas do amor recém-admitido. Não era sobre desejo; era sobre encontro.

— É difícil, Tom... ainda que a gente... você sabe... — Taylor encostou a mão no rosto dele. — ainda é cedo para um casamento real.

— Eu sei, mas independente do que nós nos tornemos, em menos de um ano tudo isso aqui será seu. Essa é a minha palavra!

Ela riu, como quem não acreditava na proposta.

— Casar por conveniência...

— Só por um tempo... — Thomas beijou-a. — e depois seremos nós dois, de verdade.

— Tenho que conversar com minha mãe sobre tudo isso... — ela balançou a cabeça.

— Como se ela não soubesse de nós dois... — Thomas continuava beijando-a. — ela sabe.

— Tom... — ela soltou um gemido.

Taylor tentou afastá-lo, mas ele a golpeou de forma que ela já estava nua por cima de seu corpo, ele trouxe-a mais para perto e beijou sua boca, seu pescoço, seus ombros, seus seios, enquanto a mão dele percorria e apertava de forma delicada cada parte de seu corpo.

Quando decidiram descer, já passava das dez.

Andrea quase derrubou a jarra de suco quando viu os dois aparecerem juntos na cozinha.

— Bom dia e feliz natal, para vocês dois... — disse com ênfase no final.

Taylor corou. Thomas riu baixinho.

A mesa já estava posta, mas nessa manhã, de uma forma especial feita pela Andrea. A mesa estava com a toalha especial de natal bordada por Andrea há alguns anos, com algumas decorações antigas e que Thomas ajudou Taylor a escolher na primeira vez que foram ao centro, com panquecas, cookies e outros preparos feitos por Andrea.

Sentaram-se a mesa, Taylor olhou para a mãe e anunciou:

— Mamãe, temos algumas coisas para te contar...

E então começaram a explicar sobre o romance deles e Andrea sorriu – dizendo com ar de que sabia desde o dia que dormiram juntos na poltrona da sala de estar. Então, contaram com mais detalhes sobre a ligação, o processo e... a proposta.

Andrea não perdeu a compostura, pegou na mão de sua filha de maneira e firme e disse:

— O que quer vai fazer?! Sabe que estou aqui para te apoiar...

— Ainda não pensando... o que eu não quero é desonrar você ou papai por...

— Tay, querida, você jamais fará isso conosco. Conhecemos seu coração e suas intenções, mas você precisa, antes de tudo, pensar em si mesma. — Andrea beijou o rosto de sua filha. — e saber que sua mãe está aqui ao seu lado...

Voltou sua atenção ao Thomas e sorriu.

— Vocês dois fazem sentido. E é engraçado que Scott sempre soube disso.

Taylor corou, pensando no pai. Andrea apertou a mão dela e disse baixinho:

— Ele está orgulhoso, assim como eu. — Andrea sorriu e continuou, mudando de tom. — E eu acho que vocês devem se divertir, deixar a decisão correta vir... sempre vem.

Eles se olharam, Thomas pegou na mão de Taylor por debaixo da mesa.

— Vocês deveriam ir para o Festival de Árvores, ver as nossas criações... — Andrea. — porque uma nossa ganha todo ano, Tom, temos os melhores pinheiros...

— Sim, sei que sim... — olhou para Taylor. — Vamos?

— Ah, acho melh...

— Taylor, querida, chega de “achar coisas”. É natal e vocês querem ficar aqui sem fazer nada, eu irei me deitar porque sinto uma dor no peito... mas estou bem, prometo, é só aquela mesma dor. — pegou uma xícara. — Ficarei bem, mas vocês devem ir se divertir.

— Vamos? — ele repetiu, sua voz suave, mas firme.

Taylor sorriu, com o coração quente.

— Vamos.

Quando subiram as escadas, o clima entre eles já tinha mudado outra vez — não era mais confissão, nem discussão sobre processos, nem lembranças de Scott. Era o silêncio bom. O silêncio de quem escolheu ficar.

No corredor, Thomas encostou a mão na cintura dela, sem pressa, apenas guiando-a até o quarto dela.

— Se quiser, posso esperar lá embaixo — ele disse, mesmo que os olhos traíssem o desejo de ficar.

— Não — Taylor sorriu, puxando-o pela camisa.

Thomas parou diante da porta do quarto de Taylor como se estivesse prestes a cruzar uma fronteira que, até então, só imaginara. Ele já estivera ali de passagem — batendo para avisar algo, perguntando sobre horários, chamando-a para jantar — mas nunca entrara. Nunca atravessara aquele espaço que carregava tão claramente a alma dela.

Taylor abriu a porta e se virou para ele, um sorriso tímido nos lábios.

— Pode entrar… se quiser.

Ele entrou devagar, como quem pisa em um lugar sagrado.

O perfume dela — suave, amadeirado, misturado a algo floral — estava impregnado no ar. Não era forte, mas presente o suficiente para fazê-lo respirar fundo, quase com devoção.

O quarto tinha uma luz suave vinda da janela inclinada do sótão; o sol fraco de inverno pintava o piso com reflexos dourados. O ambiente misturava o velho e o jovem: o quarto de adolescência reorganizado, agora habitado por uma mulher.

E Thomas, por um instante, ficou parado. Só absorvendo.

Taylor observou-o com um leve rubor, como se estivesse se expondo mais do que quando tirava a própria roupa.

Ele finalmente se aproximou da prateleira, como quem observa obras de arte, passou a ponta dos dedos pelas lombadas.

Romances. Ensaios. Autores que ele conhecia — Fitzgerald, Shakespeare, Woolf , e outros que não conhecia, mas reconhecia o cuidado na escolha. Havia livros gastos, claramente relidos; outros com post-its coloridos marcando trechos; outros ainda novos, esperando pela primeira leitura.

— Você marca todos? — ele perguntou, tocando um post-it azul-claro.

Taylor sorriu, encolhendo os ombros.

— Só os que me falam alguma coisa.

— Então você deve ouvir muita coisa — ele murmurou, quase para si mesmo.

Ele deslizou a mão até uma pequena caixa de madeira, ignorada por muitos, mas onde ele reconhecia algo especial. Vinis cuidadosamente alinhados: Fleetwood Mac, Bing Crosby, Carole King, ABBA, Stevie Nicks, James Taylor.

Ele pegou um disco, analisando a capa.

— “Bella Donna.” — Thomas sorriu de canto. — Eu deveria ter imaginado.

Taylor ergueu uma sobrancelha, encostada na escrivaninha, os braços cruzados.

— Por quê?

Ele virou a capa entre os dedos, como quem lê algo invisível ali.

— Porque Stevie sempre foi… feroz e sensível ao mesmo tempo... — Ele levantou o olhar e encontrou o dela. — Assim como você.

Taylor engoliu seco, surpresa por ele ter acertado tão fundo.

Ele caminhou até a escrivaninha. Fotos pequenas presas com clips:
Ela e Scott rindo ao lado de um trator; Ela e Andrea abraçadas no Natal de anos atrás; Um cachorro que ele nunca conheceu; Taylor com o uniforme da escola, segurando medalhas. Um bilhete dobrado com a caligrafia do pai. Uma vida ali, exposta para ele.

Thomas tocou o porta-retrato onde ela e Scott sorriam sob um campo florido – o tipo de sorriso que só existe entre pai e filha.

Ele respirou fundo.

— Ele te amava muito — Thomas disse, sem tirar os olhos da imagem.

— Eu sei — ela respondeu baixinho.

Thomas ainda segurava o porta-retrato quando Taylor se aproximou por trás dele. Encostou o queixo leve na omoplata dele — um gesto silencioso, íntimo, cheio de confiança recém-nascida.

— Vamos nos arrumar? — ela murmurou.

Ele virou o rosto de leve na direção dela, mas antes que respondesse, Taylor tomou sua mão e o puxou. A porta do banheiro entreaberta deixava escapar vapor quente – Andrea devia ter deixado o aquecedor ligado cedo naquela manhã gelada.

Taylor entrou primeiro, segurando os dedos dele; Thomas hesitou por meio segundo,
mas entrou.

O vidro do box estava embaçado, e quando ela abriu o registro, o barulho da água preencheu o pequeno ambiente, abafado e íntimo.

Taylor deu dois passos para trás, tirando a blusa devagar, sempre olhando para ele. Thomas a acompanhou, retirando a camisa com a naturalidade de quem sabe que é observado e quer ser observado apenas por ela.

Quando entraram sob a água quente, não havia pressa. Ele passou a mão molhada pela nuca dela, descendo pelas costas e Taylor apoiou as mãos no peito dele, sentindo o calor da pele misturado com o da água.

— Você vai acabar atrasando a gente… — ela brincou, encostando a testa na dele.

— Eu não me importo — Thomas respondeu, beijando o canto da boca dela.

As mãos se encontraram, se exploraram; carícias lentas, profundas, que diziam sobre confiança e desejo. Thomas a trouxe para perto, e por um instante ela achou que ele fosse avançar, que fossem se perder ali mesmo.

Mas, de repente, ele afastou o rosto, respirando fundo.

— Se eu continuar… — ele disse, rouco — nós não vamos sair desse banheiro antes do ano novo.

Taylor riu, mordendo o lábio.

— E isso seria ruim?

Ele fechou os olhos, como se sofresse um pouco com a própria disciplina.

— Hoje… — ele disse, encostando a testa na dela. — Hoje eu quero que te vejam comigo.

Thomas desligou o chuveiro antes que ela respondesse.

Pegou a toalha e passou nos ombros dela com uma gentileza que quase doía.

— Eu vou me trocar antes que isso aqui… — ele apontou, meio rindo, meio desarmado — saia totalmente do controle.

Taylor estendeu a toalha para ele, ainda sorrindo.

— Vá. Antes que mude de ideia.

Thomas deu um beijo rápido na testa dela e saiu do banheiro como quem foge de perigo — ou corre para não ceder ao próprio desejo.

Assim que ficou sozinha, Taylor abriu o armário e suspirou.
Não queria parecer que estava tentando seduzi-lo, mas iria seduzi-lo.

Era Natal e ela estava indo ao festival com ele. Após vasculhar seu armário, escolheu um vestido de tricô creme, de mangas longas, justo o suficiente para delinear sua silhueta, acima do joelho, meia-calça preta fina, aveludada e botas até o joelho. Ela prendeu o cabelo num meio-coque despretensioso e passou um batom leve.

Quando saiu do quarto, encontrou Thomas terminando de ajustar a gola da camisa azul marinho no corredor.

Ele a olhou e congelou.

— Taylor… — ele murmurou, a voz tão baixa que quase não saiu. — Você está…

Ela ergueu a sobrancelha, provocando:

— Bonita?

Thomas deu um passo na direção dela. Não foi um passo casual, mas deliberado, fazendo o ar no corredor parecer subitamente escasso. Taylor recuou instintivamente, mas suas costas encontraram a parede fria antes que ela pudesse processar a intenção dele.

Ele não parou.

Thomas avançou até invadir completamente o espaço pessoal dela, apoiando uma mão na parede, logo acima do ombro de Taylor, encurralando-a. O cheiro dele — amadeirado, limpo e perigosamente masculino — a envolveu por completo.

Os olhos dele desceram devagar, percorrendo o desenho das pernas dela cobertas pela meia-calça escura, subindo pelas coxas com uma demora que fez a pele de Taylor formigar, como se ele a estivesse tocando apenas com o olhar.

— Devastadora... — ele murmurou, a voz rouca vibrando baixo, quase no peito dela. — Na verdade, é pior do que isso.

Taylor abriu a boca para responder, mas o som morreu na garganta quando Thomas eliminou o último centímetro de distância entre eles. Ele pressionou o corpo contra o dela, o quadril firme dele encaixando-se no dela com uma precisão que a fez arfar.

O atrito foi imediato e elétrico. O tecido grosso da calça social dele roçando contra a sensibilidade das pernas dela, o peso do corpo dele a mantendo presa contra a parede.

Ele inclinou a cabeça, os lábios roçando o lóbulo da orelha dela, e moveu o quadril devagar, um roçar sutil, mas carregado de uma intenção inconfundível que fez os joelhos de Taylor fraquejarem.

— Você não tem ideia... — ele sussurrou contra a pele sensível do pescoço dela, sentindo-a tremer sob seu corpo. — Isso vai ser uma absoluta tortura.

Thomas se afastou milímetros, o suficiente para encará-la. Seus olhos estavam escuros, dilatados, e ele soltou aquele riso baixo, anasalado, de quem sabe que acabou de perder o controle da própria compostura britânica.

— Vá na frente — disse ele, a voz falhando levemente enquanto abria espaço, mas sem tirar os olhos da boca dela. — Antes que eu perca o pouco de juízo que me resta e decida que não vamos sair daqui.

Taylor desceu as escadas sentindo as pernas ainda trêmulas, não pelo esforço físico, mas pelo rastro de eletricidade que o corpo dele deixara no dela. Ela ouviu os passos dele logo atrás – pesados, ritmados, predatórios. Quando saíram para o ar gelado da manhã, a brisa fria chocou-se contra o calor que emanava deles, mas fez pouco para dissipar a tensão.

Thomas caminhou até o lado do passageiro do Volvo, abrindo a porta para ela. Assim que ela se acomodou no banco de couro, ele fechou a porta. O interior do carro era um mundo à parte: isolamento acústico perfeito, cheiro de couro e o perfume dele que agora parecia estar gravado nos sentidos dela. Thomas entrou no lado do motorista, trazendo consigo aquela energia contida. Ele ligou o motor, o carro ronronou suavemente, e ligou o aquecimento dos bancos.

— Você está bem? — ele perguntou, manobrando o carro para fora da propriedade com uma mão no volante.

— Estou... — Taylor ajeitou a saia do vestido, tentando recuperar o fôlego. — Só tentando sobreviver a você.

Thomas riu baixo, um som rouco.

— O sentimento é mútuo, acredite.

Assim que o carro ganhou a estrada principal, onde a neve já tinha sido limpa, a mão direita de Thomas deixou o câmbio, mas não voltou para o volante. Em vez disso, a mão grande e quente pousou na coxa esquerda de Taylor, logo acima do joelho. O contato foi como fogo. Ele apertou os dedos suavemente, sentindo a textura aveludada da meia-calça.

— Veludo? — ele perguntou, sem tirar os olhos da estrada, mas o polegar começou a desenhar círculos lentos e torturantes na parte interna da coxa dela.

— Sim... — Taylor respondeu, a voz falhando.

Ela olhou para a mão dele; a pele clara contra o tecido preto, o relógio no pulso, as veias saltadas indicando a força que ele continha. O polegar dele subiu um centímetro. Só um. Mas foi o suficiente para fazer o ventre de Taylor contrair.

— Thomas... você está dirigindo.

— Eu sou perfeitamente capaz de multitarefas, querida.

Ele deslizou a mão mais para cima, a palma larga cobrindo quase toda a largura da coxa dela. O calor da mão dele atravessava o tecido fino, marcando-a. Não era um toque passivo; era possessivo. Ele dirigia com uma calma irritante, enquanto a mão dele reivindicava cada pedaço dela no silêncio daquela cabine. Taylor abriu as pernas imperceptivelmente — ou talvez não tão imperceptivelmente assim, porque Thomas sorriu de canto, apertando a pele com um pouco mais de força.

O resto do caminho foi um borrão de sensações. A paisagem passava lá fora, mas o mundo de Taylor se resumia ao calor da mão dele subindo e descendo por sua perna, o som da respiração controlada dele e a tensão que era tão espessa que parecia consumir todo o oxigênio do carro.

Quando chegaram ao centro, a praça principal estava viva — luzes penduradas entre os postes, música natalina ecoando de um palco improvisado, crianças correndo com copos de chocolate quente. A neve fina caía tão devagar que parecia parte da decoração.

Thomas estacionou no centro da cidade, perto da praça onde o festival acontecia, ele desligou o motor, mas não destravou as portas imediatamente. O silêncio voltou, pesado. Ele soltou o cinto de segurança e se virou para ela, estendendo a mão para acariciar o rosto dela, descendo os dedos pelo pescoço até a gola do vestido de tricô.

— Pronta? — ele perguntou.

Taylor assentiu, embora suas pernas parecessem gelatinosas.

— Pronta.

Thomas se inclinou, capturando a boca dela num beijo profundo, possessivo, com gosto de promessa e de impaciência. Thomas passou o polegar pelo lábio inferior dela, limpando um pouco do batom borrado.

— Vamos — ele disse, a voz rouca.

Quando Thomas e Taylor atravessaram o portão de madeira, de mãos dadas, uma onda silenciosa percorreu o espaço. Primeiro, olhares curiosos. Depois, olhares longos demais. E então, cochichos — daqueles que não se disfarçam.

Thomas sentiu a mão de Taylor ficar um pouco mais fria, não pelo clima. Ele apertou de leve.

— Respira — ele murmurou, sem sorrir, mas terno.

Ela respirou.

Julie, do outro lado da feira, quase derrubou duas garrafas de cidra quando os viu.
O senhor Collins, da mercearia, parou no meio da frase que dizia para outra pessoa.
Até a banda no palco pareceu desacelerar por um segundo.

Taylor ajeitou o vestido curto, a meia-calça brilhando suavemente sob o tecido. Duas camadas de ousadia escondidas por baixo do casaco — até ela conseguia sentir o próprio perfume misturado ao frio do inverno, e Thomas a observou por um segundo a mais do que deveria.

O olhar dele percorreu suas pernas, voltou para sua boca, depois para seus olhos — com um teor de desejo tão explícito que ela precisou inspirar fundo.

— Tom... pare — ela sussurrou, meio rindo.

— O que estou fazendo? — ele perguntou, confuso.

— Olhando para mim desse jeito.

Ele sorriu — lento, perigoso, certo de si.

— Não consigo... não hoje.

E assim que deram os primeiros passos na direção das luzes do festival, juntos, lado a lado, algo mudou ao redor deles. Era como se o ambiente percebesse o que estava prestes a entrar.

As pessoas começaram a virar o rosto. Primeiro discretamente. Depois sem disfarce.

Thomas, alto, sério, impecável no casaco de lã escura, parecia um contraste perfeito com Taylor — luminosa, delicada e sensual de um jeito involuntário, a mão dele firme na cintura dela, guiando-a.

Era impossível não notar.

A música natalina ao fundo, as luzes refletindo no cabelo de Taylor, o cheiro de canela e neve. Tudo parecia se abrir para recebê-los, ou para julgá-los.

Taylor sentiu o peso dos olhares primeiro.

E então vieram as pessoas que eles conheciam:

Olivia, a garota da antiga escola, parou no meio do caminho e comentou alto demais: “Meu Deus… são eles?!”. Mark e Jenna, amigos de Joe, cochicharam enquanto tentavam disfarçar.

E claro... Joe estava lá.

Ele estava perto da árvore principal, com um copo de sidra quente na mão, o corpo meio inclinado para a frente como quem quer enxergar melhor. Os olhos passaram primeiro por Taylor — demorando demais na curva da perna dela, depois subiram para Thomas, onde estacionaram com ressentimento evidente.

Taylor sentiu o estômago subir, mas Thomas apenas pousou a mão na parte baixa das costas dela, firme, territorial, porém elegante.

— Está tudo bem... — ele murmurou. — Você está linda, impossível não olhar.

Taylor deu um passo adiante, e Thomas a acompanhou, exibindo uma calma que só alguém extremamente confiante conseguiria manter.

E foi nessa calma que residia a tensão sexual entre eles — era algo quase palpável.

A proximidade deles traía isso: o jeito que os ombros se roçavam, como Thomas inclinava o corpo em direção ao dela instintivamente, como ela olhava para ele com brilho novo.

Eles atravessaram a entrada iluminada, e a conversa baixa das pessoas ficou para trás.

Quando chegaram à primeira fileira de barracas, Taylor ainda sentia o coração acelerado.
Thomas inclinou o rosto para ela.

— Você está bem?

Ela sorriu.

— Sim. Só… é estranho ser vista com você desse jeito.

Ele ergueu uma sobrancelha.

— Estranho como?

— Como se todo mundo soubesse o que a gente fez antes de sair de casa.

Thomas riu — abafado, profundo, rouco.

— Taylor... — ele aproximou os lábios do ouvido dela. — Eles provavelmente sabem.

Ela empurrou o ombro dele de leve, corando.

Mas antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa, Thomas parou.

— Vou ao banheiro — anunciou. — Dois minutos.

— Quer que eu vá com você? — ela brincou.

Ele deu aquele sorriso enviesado, carregado de intenção.

— Se você for, não volto em dois minutos.

Ela riu, desviando o olhar.

Thomas tocou o queixo dela rapidamente, com delicadeza, antes de se afastar em direção ao prédio de banheiros do festival.

Taylor ficou ali, observando-o se afastar, a postura firme, o casaco balançando com o vento.

Ela não sabia — ainda — que Joe e os amigos tinham acabado de entrar no banheiro minutos antes. E que o encontro que estava prestes a acontecer ali dentro mudaria o tom do festival inteiro.

[CONTINUA]

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GNMH - CRÉDITOS ❤