Criminal Case | 01° Parte.

[revisão realizada em: 13/03/2022]

I

Ele sente seus braços doerem, relaxa as mãos. Ela voltava a respirar com dificuldade, seus olhos estavam avermelhados, seu rosto ficava em um tom de roxo, sua boca úmida e ela tossia como se fosse começar a engasgar. Ele a encarava com tanto ódio e apego. Voltou a apertar seu pescoço. Ela voltava a se contorcer no chão, seu corpo pulsava no piso de madeira. Seus dois polegares apertavam sua garganta e os outros dedos se concentravam na nuca. Ele relaxou as mãos e esperou por alguns minutos. Ela voltava a respirar cada vez mais fraca. Voltou a apertar. O processo era lento e dolorido. Na quinta vez, ele apertou mais forte. Ela voltou a se debater no chão com mais força. Seus braços estavam presos. Ela fixou seu olhar no dele. Parou. Ele relaxou suas mãos e encarou- a por alguns minutos. Arrumou seus cabelos e limpou seu rosto sujo – havia suado e com lágrimas que escorreram em seu rosto. Beijou sua testa. Ela já tinha ido, mas seu corpo ainda estava quente. Ele fechou seus olhos.


II

—  Nome da vítima? —  Demetria perguntou.

—  Sophia Anderson. —  Responderam.


A inspetora – cujo cabelos eram negros e cumpridos, os olhos castanhos penetrantes e com uma postura intimidadora – pegou um par de luvas e entrou dentro do quarto onde ocorrera a cena do crime. Pediu espaço para analisar a cena do crime, enquanto aguardava o legista chegar.


— Nossa... a cena está limpa. — Ele disse ao analisar a vítima à primeira vista. — Vou levá-la para fazer autopsia completa com calma, mas de primeira análise... — aproximou-se do corpo. — Posso dizer que foi um crime de cunho sexual e sádico.

— Estupro? — Demetria indagou curiosa.

— Ainda não posso dizer. Somente no laboratório posso obter alguma resposta. — Joseph respondeu. — Quando liberar o corpo, mande-o para o laboratório que estarei aguardando.


Demetria assentiu e voltou sua atenção para a cena do crime. Caminhou pelo quarto da vítima – estava organizado, nenhum sinal de briga. Suas roupas também eram organizadas no armário, tinha poucos objetos de decoração ou móveis na casa. A inspetora concluiu que a vítima tinha um estilo minimalista. Pela sua organização, não sabia afirmar, mas poderia ter deixado o assassino entrar.


— O que sabemos até agora sobre a vítima? — Demetria questionou aos policiais.

— Pelos documentos, seu nome é Sophia Anderson, era tradutora do chanceler da Alemanha aqui em Washigton. Ligamos para a família, falamos sobre o ocorrido, ela estava na cidade fazia poucas semanas. O pai disse que ela intercalava de Washigton para Berlim durante boa parte do ano, visitou os pais no final de semana. — Ele respirou fundo. — Muito triste.

— Sim, sim, muito triste. — Demetria respondeu pensativa. — Como encontraram o corpo?

— O vizinho... — O policial apontou para a casa ao lado. — Contou que o gato de Sophie miou a noite inteira porque ficou trancado para fora. Ainda choveu... disse que o gato fez barulho durante toda a madrugada. Disse que observou que houve movimentações dentro da casa e a luz do banheiro manteve-se acessa pela noite. Pela manhã, viu que o gato ainda estava para fora. Veio até aqui conversar com Sophie, a porta estava aberta e o gato entrou sozinho, porém ninguém respondeu seus chamados. Quando entrou na casa... a senhora sabe, encontrou o corpo e ligou para polícia.

— Alguma chance de ele ter manipulado a cena do crime? — Demetria olhou para o vizinho a distância. — Checaram os antecedentes e seu álibi sobre a história?

— Sim, outros vizinhos fizeram a mesma reclamação sobre o animal. Uma até fez uma denúncia de abandono, mas ninguém o órgão não checou. E ele não tem antecedentes, sua esposa confirmou a história. Ouviu seus gritos saindo da casa dizendo que Sophie estava morta e pelo que nos disse, não tocou em nada.

— Que ele lembre... — Demetria riu. — Eles sempre tocam em algo.

— Realmente, eles nunca tocam em nada até acharmos as digitais. — O policial respondeu dando risada. — Vamos averiguar mais as testemunhas.

— Inspetora Lovato... — Outro policial a chamou. — Venha ver isto!


Caminhei em passos largos até o banheiro da vítima.


— Encontramos isso nos pertences da vítima. Dentro de sua nécessaire, é uma carta. O banheiro ainda está húmido. Veja!


Demetria analisou o banheiro. De fato, a banheira ainda estava húmida e ainda continha o vapor do banheiro no teto – sinal de que o assassino não se atentou em abrir a janela. Se houve estupro, talvez fosse difícil de saber, ainda mais se o legista confirmar que o corpo da vítima foi limpo. O assassino tinha paciência e tempo, limpou a cena do crime e o corpo da vítima, restava saber se usou alguma arma para executar o crime.

Entregaram a inspetora a carta encontrada. Abriu o envelope já rompido e era uma carta escrito a mão, utilizando letra de forma.


Doce Sophie Anderson,

Eu vejo você algumas vezes na televisão. Você é tão bela na televisão quanto pessoalmente. Fico atento com a sua chegada e quando tocarei seu lindo rosto. Eu penso em você todos os dias, em como irei te tocar. Eu passo essa cena muitas vezes na minha cabeça. Você é tentadora e pecadora, vejo que quero pecar com você. Tirar o mal que te cerca e tentar dar liberdade a sua alma.


Demetria respirou fundo, engoliu a saliva a seco, ficou reflexiva. Colocou a carta dentro do envelope e entregou para provas, pediu para que enviassem diretamente ao escritório. Olhou mais uma vez para a cena do crime e saiu da casa. Já estavam presentes mais pessoas fora do cerco atentos nos passos da polícia.

A inspetora caminhou em silêncio até o seu carro e deu partida.


III

Demetria encachou a chave na fechado e novamente travou. Bateu algumas vezes na porta, após alguns minutos seu marido, Wilmer, abriu a porta com a filha nos braços. Demetria cumprimentou um com rápido beijo e pegou a filha no colo.


— Está tudo bem? — Wilmer perguntou. — Fiz o jantar, estávamos te esperando.

— Estou bem... — Demetria respondeu com um suspiro. — Desculpe o atraso, fiquei até tarde para resolver algumas coisas... prometo que compenso no final de semana.


Sentaram-se na mesa de jantar, Demetria puxou a cadeirinha de sua filha, Alexa, para perto e alimentou a criança com brincadeiras e beijos. Wilmer observava as duas com um sorriso no rosto.


— Wilmer... — Demetria sorriu desajeitada. — Não olhe assim.

— São cenas assim que me deixam ainda mais apaixonado. — Ele respondeu.


Demetria esticou sua mão e apertou a de Wilmer, trocando acaricias rápidas e voltaram a atenção para o jantar. A inspetora olhou para o relógio no centro da parede e viu que já passavam das nove da noite.


— Wilmer, não está atrasado?! — Questionou preocupada.

— Não, meu amor. — Respondeu tranquilo. — Hoje entrarei um pouco mais tarde.

— Aconteceu alguma coisa?

— Não, apenas tenho banco de horas. — Wilmer sorriu. — Quero aproveitar minha família.

— Fico feliz por tê-lo um pouquinho a mais. — Demetria. — E eu queria conversar com você antes de trabalhar, é sobre levar Alexa na escolinha amanhã... Terei que sair mais cedo e não tem como levá-la. Estou atolada de coisas, tudo bem para você?

— Bom... — Wilmer suspirou. — Temos um combinado, Demi... — Ele balançou a cabeça. — Trabalharei no plantão essa noite, terei que dormir cedo para prepará-la e levá-la para escolinha. Outra vez.

— Eu sei, meu amor... — Demetria falou pensativa. — Eu estou tentando...

— E eu sei disso, Demi. — Ele respirou fundo. — Não tem problema, conte comigo.

— Falta pouco para minhas férias. — Demi disse feliz. — Quatro meses em casa.

— Não vejo a hora disso. — Wilmer respondeu esperançoso. — Alexa terá mais tempo com sua mãe e eu terei mais tempo com minha linda esposa.

— Podemos planejar uma viagem no final de semana. — Demetria. — Nós três.

— Vamos com calma. Ainda falta dois meses, você adiou suas férias antes. — Wilmer lembro-a. — Vamos planejar algo quando você estiver em casa conosco.


Wilmer limpou seus lábios no guardanapo e se levantou da mesa.


— Preciso ir agora. — Beijou a testa da esposa. — Até amanhã!


IV

—  Chegou atrasado, Wilmer. Duas horas. — Mariah, sua gerente, chamou sua atenção.

—  Desculpe, não tinha com quem deixar minha filha até minha esposa chegar.

—  Não é a primeira vez. —  Mariah retrucou.

—  Eu sei, não acontecerá novamente. —  Wilmer respondeu com seriedade.

—  Vamos até minha sala conversar. – Ela apontou com a cabeça a direção.


V

Demetria pegou Alexa no colo e levou-a até a banheira, começou a olhar a criança com delicadeza e brincadeiras. Seu celular começou a tocar no outro cômodo, Demetria deixou cair na caixa postal três vezes, mas insistiram uma quarta vez.

Tirou a criança da banheira, secou-a em seu colo e foi até seu quarto. Deitou Alexa na cama e pegou seu celular na quinta tentativa de contato.


— Demetria Lovato.

—  A senhora precisa ligar a televisão agora. —  Disse Connor, seu estagiário.

—  No momento não posso, o que aconteceu?

—   Aconteceu outro homicídio. O mesmo padrão de Sophie Anderson. Agora o nome da vítima é Jade Campbell, estamos de esperando na cena do crime. Enviei por mensagem o endereço do local.

—  Está bem. — Desligou.


Demetria respirou fundo e olhou para Alexa engatinhando pela cama, largou o celular e vestiu um pijama quente na filha. Apressou-se para vestiu sua roupa e olhava diversas vezes no relógio o horário que Wilmer dissera que chegaria.

Já estava perdendo tempo, Wilmer não chegaria agora. Ainda mais se emendou em outro plantão. Demetria olhou para sua filha, decidiu levá-la consigo e agasalhou sua filha.

Levou-a até o carro, mas percebeu que a cadeirinha estava no carro do Wilmer. Demetria hesitou mais uma vez. Pegou seu celular e ligou para um táxi – que levou cerca de sete minutos para chegar. Demetria entrou no banco de trás com Alexa em seus braços e seguiu rumo à cena do crime.

Chegaram após 40 minutos de viagem. No local, já tinha a presença de jornalistas.


— Como ficaram sabendo? — Demetria perguntou.

—  Não sabemos, talvez um vizinho até vazado para imprensa.


Demetria olhou para Alexa no seu colo e parou um tenente que saia da casa.


— Desculpe, mas pode ficar com minha família alguns minutos. Não quero...

—  Expor a criança... —  O tenente respondeu. —  É claro, inspetora Lovato.

—  Muito obrigada, tenente.


Demetria olhou Alexa no colo do tenente, acariciou os cabelos da menina e entrou na casa da vítima.


—  E então, o que temos aqui dessa vez.

—  A vítima se chama Jade Campbell, engenheira. Vice-presidente na firma onde trabalhava com apenas 32 anos.

—  Minha idade...

— Sim, inspetora Lovato. Ambas tinham a mesma faixa etária, Sophie tinha 35 anos.

—  Joseph já foi?

—  Sim, ele mesmo assinou a liberação do corpo com antecedência por conta da imprensa.

—  Certo ele. —  Demetria concordou com a cabeça. —  O que acharam até agora?

—  Não temos ainda nenhuma informação precisa. O sr. Joseph Jonas não descartou abuso sexual, mas disse que a causa da morte de Jade foi estrangulamento.

—  Ele comentou que Sophie também foi estrangulada... — Demetria. —  Estamos lidando com o mesmo assassino. —  Demetria andou pela casa em silêncio. —  Acharam alguma carta?

—  Não, senhora! —  Connor. —  Eu tenho um palpite sobre isso. – disse nervoso. —  Eu passei a noite olhando o chanceler da Alemanha em eventos dentro do país e a primeira vítima, Sophie, estava sempre presente. Ele está no cargo há 12 anos, Sophie o acompanhava por 7. As relações entre Alemanha e EUA são fortes, então, ela sempre aparece de alguma forma na televisão com ele. Já Jade não tem essa visibilidade, então, o assassino pode não a conhecer tão bem.

—  É um bom ponto, Connor. —  Demetria respondeu. – Mas ambas são mulheres solteiras e de grande visibilidade em suas áreas, além do tipo físico. —  Demetria apontou para um retrato da vítima na parede. —  Vou ao laboratório para conversar com Joe. Eu quero os familiares das vítimas reunidas logo pela manhã e tente marcar um horário para o chanceler conversar comigo.


Demetria vestiu seu casaco e caminhou até a calçada onde o tenente segurava Alexa no colo – a criança dormia nos braços do tenente. A rua estava movimentada, havia pessoas por todas as partes buscando saber qualquer coisa do ocorrido.


—  Tenente, muito obrigada. —  Demetria sorriu agradecida. —  Gostaria de um último favor, poderia me levar até o nosso IML.

—  É claro, vou buscar o carro.

Demetria pegou Alexa no colo com cuidado para não a acordar.


—  Connor. —  Demetria o chamou. —  Fale com os vizinhos também, qualquer informação é importante.

—  Sim, inspetora.


Entraram na viatura, Demetria cobriu o rosto de Alexa quando passaram pelos jornalistas. Em 30 minutos chegaram no IML, Demetria olhou em seu relógio de pulso que era 03:40 da manhã. Suspirou com Alexa em seu colo e entraram no prédio.

Ao se aproximar de Joseph, que já estava no aguardo de sua chegada. Ele retirou suas luvas e cumprimentou Demetria, acariciou a mão de Alexa que dormia nos braços da mãe.


—  Demi, receio que não iremos dormir essa noite. —  Joseph. —  Eu queria falar com você sobre Sophie e Jade, mas recebemos um novo chamado. Outro corpo encontrado.


[CONTINUA]

Nenhum comentário:

Postar um comentário

LAYOUT E CODIFICAÇÃO POR ROH A. RAMOS DO BLOG | GNMH © 2017 - 2018