20 de novembro de 2025

The Swift’s Christmas Trees | 06° Capítulo.

06° Capítulo – “Os rumores são verdadeiros”

A manhã chegava suave, com aquele brilho perolado que somente o inverno profundo oferecia. Dentro do quarto de hóspedes, o aquecedor zumbia baixo e a luz branca filtrava-se pelas cortinas, iluminando dois corpos ainda entrelaçados.

O peso do braço de Thomas sobre a cintura de Taylor era quente e firme – quase como se buscasse protegê-la. Ela foi a primeira a despertar, sentindo a maneira que ele a envolveu em seu corpo de maneira natural, sorriu e permaneceu quieta por alguns segundos, ouvindo a respiração dele – calma e profunda, quase sincronizada com a dela.

Quando Taylor se mexeu, Thomas despertou junto, murmurando algo inaudível antes de abrir os olhos.

— Bom dia... — ele disse, baixinho, com a voz rouca.

Trouxe Taylor ainda mais para perto de seu corpo, deslizou sua mão por dentro da barriga dela e beijou sua testa. Ela manteve-se quieta, apenas com um sorriso tímido no rosto – sentia-se em um sonho distante, apenas queria aproveitar o momento.

Ele levantou a mão e tocou sua bochecha, lento. Depois deslizou o polegar até o canto de sua boca. Taylor se aproximou sem perceber, o corpo reagindo antes de qualquer pensamento.

O beijo foi inevitável.

Primeiro suave — depois não tanto.

Thomas a puxou para cima de si, as mãos percorrendo suas costas por baixo da camiseta. O ar ficou quente. Ela se agarrou à nuca dele, perdida, entregue, sentindo algo que não sentia há muito tempo.

Ficaram ali mais alguns instantes, sem pressa, como se o mundo esperasse que se levantassem.

O sol ainda nascia por trás das montanhas quando ouviram sons de portas de carros batendo e conversas paralelas não tão longe dali. Taylor arregalou os olhos, tinha acordado daquele sonho e o mundo não os esperava.

— O que é isso? — Thomas questionou, confuso.

Taylor não respondera – até porque nem ela sabia o que poderia ser. Levantou-se do colo de Thomas e olhou pela fresta da janela e vira o que parecia inacreditável: conversas e risadas abafadas e passos na neve ecoaram do lado de fora.

Taylor congelou.

— São clientes — ela murmurou, surpresa.

Thomas soltou um suspiro frustrado, mas terno.

— Achei que hoje ia ser só nosso.

— Em época de Natal, isso não existe — ela riu, selando outro beijo nele, rápido. — E ainda mais com o Festival de Natal, eles querem os melhores pinheiros.

— E você é dona dos melhores...

Thomas a puxou de volta para um último beijo lento, profundo, cheio de promessa — e então ela se levantou, ajeitando a camiseta antes de sair do quarto. Ele ficou deitado por mais alguns segundos, sorrindo para o teto como um sonhador.

Taylor abriu a porta do quarto de sua mãe e acordou-a com certa delicadeza.

— Mamãe, temos clientes... — seus olhos brilharam ao falar. — Irei preparar seu café e vou atendê-los.

Andrea acordou assustada, mas sorriu ao ver sua filha feliz – realmente feliz depois de tanto tempo. Tinha uma felicidade genuína em suas palavras e na sua expressão. Ela já ouvia no lado de fora a agitação e sorriu, dizendo para Taylor:

— Irei te ajudar. — Andrea disse.

— Não precisa, acho que... Thomas me ajudará. — Taylor respondeu, sem jeito.

— Foi vocês que fizeram isso... — Andrea. — Vocês trouxeram essas pessoas.

— Como assim, mamãe? — Taylor perguntou, ajudando-a se levantar.

— Estão curiosos para saber mais sobre vocês...

— Sobre nós? — Taylor gaguejou. — N-não tem nada entre nós.

Andrea olhou para a filha com um sorriso maliciosa e balançou a cabeça, pois ela sabia que a filha não mente bem, mas manteve-se em silêncio.

— Bom, querida, eles pensam que existe algo entre vocês. — disse, finalmente. — E você sabe que Thomas não é um partido ruim. Ele é um bom rapaz e me parece bem atencioso.

— Ele vai embora em alguns dias. — Taylor respondeu ríspida. — Aqui só foi um... imprevisto... uma parada na vida dele.

— Querida, você pode se enganar, mas não pode me enganar.

— Oras, mamãe! Por que esse assunto agora!? Podemos ter vendas para economizar para salvar nossa casa e a senhora está perdendo tempo supondo coisas...

— Não são suposições, Taylor. — disse, serena. — Só quero que saiba que eu vejo as coisas e que eu acho que você deve se permitir a viver, sentir e ter coisas que deseja.

— Mamãe, desculpa a forma que falarei, mas você não vê nada.

— Eu vejo sim, querida. Vejo a forma que voltou a sorrir, a maneira que está mais leve. Eu vejo como ele te olha, querida, e ele te olha como...

— Como o que? — Taylor indagou.

— Como se procurasse algo assim há muito tempo. — completou, firme. — E você parece feliz também com isso. — suspirou. — E se eu não visse nada, como me diz, eu não saberia que dormiu com ele na sala na outra noite.

Taylor que ajudava-a arrumar a cama, sobressaltou e corou no mesmo instante – sentiu-se uma adolescência pega, mas não ousava assumir qualquer sentimento.

— Eu entendo que se sente medo, depois do Joe... eu entendo que seja difícil, mas você é uma pessoa maravilhosa que merece ser feliz.

Abaixou a cabeça, piscou rápido para afastar as lágrimas e serviu os remédios para Andrea, que encarava a filha firme.

— Pense no que estou te dizendo, Tay...

— Esqueça isso, mamãe. — balançou a cabeça. — Vou atender os clientes.

Quando desceu as escadas, encontrou Thomas numa cena tão domesticamente perfeita: já havia posto a mesa e finalizava o café da manhã. Já estava vestido e sorriu ao vê-la se aproximando.

— Irei atendê-los e depois venho comer alguma coisa. — disse ela.

— Espere um pouco, vou com você. — ele tocara na mão dela. — Vou te ajudar.

Ela engoliu, tentando ignorar o calor subindo pelo corpo.

— Vamos.

A neve estava compactada sob as botas quando Taylor e Thomas saíram até a área onde os pinheiros estavam expostos. Ali, o vento trazia cheiro de madeira, resina e, é claro, natal. Tudo isso junto ao burburinho animado dos clientes – era gente que Taylor conhecia de vista e gente que nunca aparecia por ali, mas todos olhavam demais.

As conversas eram baixas, mas não o suficiente para não serem notadas, mas a Taylor decidiu fingir não ouvir. Já Thomas resolveu não fingir tanto assim, manteve-se firme e atento à Taylor.

As vendas começaram a fluir.

Um senhor disse que aquele ano queria um pinheiro “mais cheio, com galhos mais largos”, e Taylor o ajudou enquanto Thomas segurava o tronco com facilidade.

Uma senhora que nunca comprava ali pediu duas árvores “porque este ano queria algo especial”.
Outra comentou exageradamente sobre a beleza das árvores, quando na verdade o que ela observava era Thomas carregando um pinheiro enorme sozinho, como se pesasse nada.

Mas era impossível não sentir o olhar dele que a procurava sempre.
A cada aproximação, a cada toque acidental de dedos ao entregar uma serra ou organizar um suporte, algo entre eles cintilava.

E então veio a primeira alfinetada do dia.

Um casal mais velho se aproximou, os dois conhecidos de longa data. A mulher escolhia uma árvore, mas o homem mantinha o olhar fixo em Thomas.

— Você é o rapaz do banco, certo? — perguntou, não de modo simpático.

Thomas virou-se com calma.

— Depende do banco — disse com um sorriso leve.

O homem ignorou o humor.

— Você era gerente do Wells Fargo em Milwaukee?

De longe, Taylor gelou. A mão dela parou no galho que ajustava e engoliu seco a saliva – tinha receio de se aproximar. Mas Thomas não se alterou.

— Fui mais do que isso — respondeu, sem hesitar. — Por anos, fui Diretor Regional.

A mulher do homem inclinou-se um pouco, voz baixa, mas maldosa:

— Então você deve conhecer bem o caso do Scott Swift…

Taylor sentiu o chão balançar — como se a neve tivesse cedido sob seus pés.

O homem continuou, satisfeito com a tensão criada:

— Uma pena, né? Um homem cheio de dívidas… deixou problemas sérios para a família. Triste… mas previsível. Quem pega empréstimo que não pode pagar—

Thomas interrompeu. Não elevou o tom e nem foi agressivo. Foi firme — tão firme que o silêncio caiu na fazenda.

— É de muito mau gosto falar assim de alguém que não está aqui para se defender — disse, com o sotaque britânico surgindo mais carregado. — Principalmente na casa da filha dele.

Os olhos do casal se arregalaram, pegos de surpresa.

Thomas continuou — educado, mas com uma calma perigosa:

— Ainda mais quando vocês não sabem tudo o que ele enfrentou na época. Críticas são fáceis quando não carregamos o peso da vida dos outros.

O homem pigarreou.

— Nós… não quisemos ofender…

Thomas inclinou levemente a cabeça.

— Ofenderam — respondeu. — E posso lhe afirmar que Scott não foi o único a enfrentar algum problema financeiro neste lugar, mas creio que o senhor não deseja entrar nesse mérito no momento, ainda mais em um momento importante que é comprar sua árvore. — sorriu, confiante. — Sorte que sou profissional e ajudarei a escolher a melhor.

O casal apressou-se em escolher o pinheiro, pagou e saiu.

Só depois que eles se afastaram, Taylor encontrou a voz.

— Você… não precisava fazer isso — ela murmurou, mexendo nas próprias mãos para esconder o tremor.

— Ninguém irá te desrespeitar na minha presença. E nem ao Scott.

Thomas se aproximou um passo — não o suficiente para encostar, mas perto o bastante para o mundo desaparecer um pouco.

Os olhos dela se ergueram para os dele.

E ali, no meio da neve, com clientes passando, carros estacionando, crianças correndo atrás de cachorros… havia um momento suspenso.

Thomas abaixou a voz, os olhos fixos nos dela com uma intensidade nova, quase perigosa.

— Conheço um restaurante na cidade que gostei muito. E eu quero te levar para jantar comigo hoje.

Ela respirou fundo, perdida no olhar dele.

Um passo a mais dele e eles se beijariam de novo. Ali, na frente de todo mundo.

— Thomas… — ela murmurou, quase sem ar.

— Diga sim. — olhou-a, com um sorriso malicioso.

— S-sim...

Taylor não evitou a olhar para os lábios dele. Ele piscou devagar, como se estivesse lutando contra a vontade de segurá-la.

— Eu sei o que está sentindo. Também estou tentando me comportar.

Ela riu, nervosa, corando até as orelhas.

E o dia continuou — por horas.

As vendas não pararam.

Clientes entravam e saíam, perguntavam, elogiavam, observavam demais.
Algumas mulheres cochichavam sobre como Taylor “finalmente tinha seguido em frente”. Outras sobre como Thomas era “muito bonito para estar se escondendo numa fazenda”.

E toda vez que Taylor passava por ele, a tensão elétrica continuava – e Thomas também sentia.
Ele se aproximava para ajudar com as amarrações das árvores, ficava perto demais ao orientar sobre o corte do tronco, tocava a mão dela sem querer-de-propósito.

A neve refletia a luz do sol e Andrea observava tudo da varanda, com um sorriso quase maternal e quase cúmplice.

Ao final da tarde, enquanto Thomas carregava o último pinheiro para o carro de uma família, Taylor o observou com uma emoção que não conseguia nomear.

Quando ele voltou até ela, limpando a neve do casaco, ela sorriu sem conseguir evitar.

— Obrigada. Você ajudou muito hoje.

Ele inclinou-se um pouco, aproximando os rostos mais do que o necessário.

— Chama-me quando estiver pronta para o nosso jantar... — disse, num sussurro quente que fez a espinha dela arrepiar.

— Thomas… — ela suspirou. — Não sei se é o momento certo para isso...

— Dane-se eles, Taylor. — respondeu, educado. — Eu quero te levar para jantar essa noite e eu não me importo com nenhum deles.

Taylor assentiu e Thomas aproximou-se perto demais para beijá-la, mas conteve-se naquele momento, mas os olhares que trocavam diziam muito: ela tinha dito sim, eles teriam um encontro e ele não queria esperar mais nem um segundo para isso.

Mas esperou.

E então, o sol já havia se escondido atrás das montanhas quando Taylor subiu para o quarto, o coração batendo tão rápido que parecia acompanhar cada passo na escada. A fazenda estava silenciosa, exceto pelo som distante de Thomas guardando ferramentas e colocando as últimas coisas no celeiro — como se ele também estivesse matando tempo para não pensar demais, mas pensar demais era exatamente o que eles estavam fazendo.

Ao entrar no quarto, fechou a porta com cuidado, encostou-se nela e soltou um longo suspiro que carregava nervosismo… e desejo.

Taylor abriu o guarda-roupa, mas ficou apenas olhando para as roupas por longos segundos. Nada parecia bom o suficiente para acompanhá-lo — não depois dos beijos que trocaram, não depois de se permitir ser vulnerável ao lado dele. Além do mais, Taylor olhava suas roupas e já não lembrava a última vez que se vestiu bem, que se produziu para algo desde que seu pai faleceu.

Já no outro cômodo, Thomas estava no quarto de hóspedes, parado diante da mala aberta, a toalha ainda pendurada no ombro depois do banho quente. Passou a mão pelo cabelo úmido, respirando fundo. Ele não lembrava a última vez que sentiu esse tipo de antecipação — aquela mistura de ansiedade e fome que vinha do simples fato de saber que estaria sozinho com ela, olhando-a sem precisar esconder nada.

Ele tentava se conter, pensara que era só um jantar, mas ele sabia que a verdade mais cruel era que bastasse um toque dela para que todos os pensamentos racionais evaporassem.

Mexeu nas peças de roupas que trouxe consigo e escolheu uma camisa azul-marinho que moldava o tórax e deixava o sotaque britânico ainda mais evidente por algum motivo. Vestiu um casaco de lã cinza escuro, calça preta e botas de couro.

Olhou-se no espelho.

Quando desceu as escadas, encontrou Andrea na sala de estar, sentada na poltrona com um sorriso que era tão maternal quanto cúmplice.

— Cuide de minha filha — disse, com uma sobrancelha levantada.

Thomas sorriu, cordial.

— Vou cuidar.

Antes que pudessem trocar qualquer outra palavra, ouviram passos firmes, marcados descendo a escada como um grande anúncio. Era Taylor com uma expressão tímida, mas deixou tanto sua mãe, quanto Thomas boquiabertos.

Ela usava uma jaqueta shearling marrom, forrada de lã branca, que criava um contraste suave com a luz que batia nela. O suéter verde-oliva aparecia por baixo, desenhando seu corpo sem exagero. A saia xadrez marrom e creme descia em ondas sutis até metade da coxa, balançando com o vento que entrava no celeiro. As meias pretas translúcidas alongavam as pernas até encontrarem as botas vinho de salto alto, que denunciavam a razão daqueles passos firmes.

E o cabelo solto — sempre ele — moldando o rosto iluminado por um batom vermelho discreto, que deixava a expressão dela perigosamente irresistível.

Thomas não conseguiu responder de imediato, não conseguiu fingir neutralidade.

Seus olhos percorreram cada detalhe, cada curva de seu corpo.

Nem tentou disfarçar o impacto.

— Taylor… — sua voz saiu baixa, quente, quase rouca. — Você está… linda.

Taylor corou, os dedos apertando a bolsa pequena.

O ar entre eles ficou quente de novo. Andrea tossiu de leve, apenas para ser lembrada.

Eles desviaram o olhar, quase culpados.

— Divertem-se essa noite. Depois de um longo dia de trabalho, vocês merecem. — Andrea disse, beijando a testa da filha.

— Voltamos logo. — avisou, Taylor.

— Não se preocupem comigo, já vou me deitar. — disse. — Quando chegarem, já estarei dormindo, então, aproveitem bem a noite.

Eles sorriram, sem jeito para o óbvio que estava exposto à Andrea.

— Vamos? — perguntou, mas seus olhos diziam outra coisa.

Ele ofereceu o braço e ela aceitou.

E enquanto caminhavam até o volvo preto de Thomas, ainda sob o céu frio da fazenda, Thomas sentiu algo completamente novo: o desejo, mas também o medo leve e delicioso de estar perdendo o controle. E Taylor — pelo jeito que apertou o braço dele — parecia pronta para empurrá-lo ainda mais fundo nisso.

— Você... você está ainda mais linda.

— Tom, por favor...

Deram partida na estrada. O carro de Thom era elegante e potente, dentro do carro, só havia o som do motor e da neve sob os pneus — mas o silêncio era carregado, sensual e elétrico

Thomas dirigia com uma mão no volante e a outra apoiada na marcha. Até que Taylor deslizou a mão para ajeitar o cinto e seu braço encostou no dele.

Ele fechou os olhos por meio segundo.

— Temos que parar de nos provocar nos tocando sem querer dessa forma... — disse com a voz baixa, rouca.

Ela virou o rosto para a janela, mordendo o lábio para conter o sorriso.

— Nem comecei a te provocar... — respondeu, num tom malicioso.

Thomas soltou uma risada profunda, quase perigosa.

O aquecedor deixava a cabine quente, mas não era isso que fazia o peito de Taylor latejar — era o modo como ele olhava para nas paradas, como se a saia curta levemente levantada fosse um convite que ele buscava respeitar… por pouco.

O estacionamento do pequeno restaurante no centro parecia mais cheio do que o habitual. As luzes de Natal pendiam das varandas como constelações domésticas, e o cheiro de pinho misturado a chocolate quente escapava pela porta principal.

Assim que Thomas estacionou a caminhonete, Taylor percebeu imediatamente os olhares. Alguns discretos. Outros nem tanto – é o tipo de atenção que só existia em cidade pequena e que só crescia quando envolvia o sobrenome Swift.

Thomas saiu primeiro, contornou o carro e abriu a porta para ela. Um gesto simples, mas que fez dois adolescentes cochicharem e rirem baixinho. Uma senhora que estava entrando parou no meio do caminho para “ajustar o cachecol”, embora seu olhar estivesse fixo nos dois.

— Parece que estamos virando atração turística — Taylor murmurou, ajeitando a saia e descendo do carro.

— Acho que nunca viram uma mulher tão bonita quanto você antes...

Ele olhava-a com os olhos brilhando – de admiração e tensão que envolvem os dois. Thomas esticou sua mão, ela riu e aceitou, sentindo segurança no gesto.

O restaurante exalava calor, cheiro de canela e vozes animadas. Porém, assim que a porta se abriu, houve um breve silêncio. Daqueles que duram menos de dois segundos, mas parecem eternos.

As pessoas notaram e comentavam.

A hostess, Ruby, uma jovem de olhar vivo, os recebeu com um sorriso grande demais para ser completamente natural.

— Mesa para dois? — ela perguntou, mas seu olhar dizia: então os rumores eram verdade.

— Por favor — Thomas respondeu, firme.

Enquanto ela os guiava até uma mesa mais reservada, Taylor sentiu a tensão aumentar na base da nuca. Não era só a presença dele. Era o peso da cidade pairando sobre eles — e sobre o nome do pai dela.

Ruby pousou os menus e, antes de ir embora, disse com um sorriso insinuante:

— Vocês formam um casal muito bonito.

Taylor corou. Thomas ergueu uma sobrancelha.

— Obrigado — ele respondeu, sem negar.

E Ruby saiu praticamente flutuando para espalhar a novidade.

Assim que se sentaram, Taylor sentiu o peso de alguns olhares atrás de si. Sussurros. Murmúrios. Pequenos venenos sociais que faziam o ar parecer mais frio que do lado de fora.

— Eu disse que isso era uma má ideia… — ela murmurou, mexendo nervosamente no guardanapo.

— Foi uma ótima ideia — Thomas corrigiu, pegando a mão dela por baixo da mesa, escondido. — Eles vão falar de qualquer jeito.

Ela soltou uma risada incredulamente suave e olhou-o, mais séria.

— Sinto que você quer me perguntar algo. — Thomas. — Vamos usar essa noite para nós.

— Na verdade, é tanta coisa que está passando na minha cabeça no momento...

Ela respirou fundo e indagou:

— Tem alguém te esperando em Londres?

— Apenas minha irmã, Emma, e minha sobrinha, Marianne. — Thomas sorriu ao lembrar delas.

— Você é tão... — ela pausou, tentando achar a palavra correta. — Não sei dizer, mas é difícil acreditar que não tenha ninguém.

— Não tem o porquê mentir para você, então, vou te dizer que existiu uma pessoa, mas que ficou no passado há meses... — respondeu, firme. — e sem nenhuma possibilidade de voltarmos. — aproximou-se da borda da mesa. — Taylor, quero que saiba que estou realmente interessado por você e em você que quero focar.

— E quando chegar o momento de você partir? — ela o olhou. — Você sabe que não ficará neste fim de mundo para sempre e esse lugar não é para você...

— De fato, voltarei para Londres antes do ano novo, mas porque preciso resolver algumas coisas importantes, mas se você me der uma chance, não partirei para sempre.

Thomas deixou os dedos tocarem os dela por cima da mesa, desta vez, à vista.

— Eu sinto que te conheço há muito tempo porque sempre ouvi Scott falar tão bem de você e ter te conhecido, ter dado rosto ao que tanto ouvi... tem sido maravilhoso. E perceber que você é ainda mais incrível do que ele descrevia. — suspirou. — Agora, eu quero que você me conheça também e, se você tiver interesse, tentarmos construir algo.

— É muito cedo... — disse ela.

— Tenho paciência. — ele sorriu. — Se você me disser sim, eu te espero.

— Oh, Tom... — ela balançou a cabeça. — Londres para o interior de Wisconsin, não é algo que daria certo no mundo real.

— Deixe o tempo dizer.

O garçom trouxe água, mas esqueceu os cardápios extras porque estava ocupado demais observando os dois. Thomas o esperou se afastar antes de continuar:

— E eu gostaria de tentar.

Ela corou imediatamente.

Ele se inclinou mais — perto o suficiente para ela sentir o cheiro dele, aquele misto de café, madeira e inverno. As pernas deles se encostaram por debaixo da mesa. Ela respirou fundo.

— Thomas…

— O quê?

— Você está… muito perto.

— Eu sei.

Ele não recuou. Ao contrário, pegou na mão dela e beijou.

Taylor sentiu todo o calor subir pelo corpo – e sentiu algo novo: não queria que ele se afastasse.

O pedido chegou — sopa quente, pão, carne assada, mas nenhum dos dois parecia realmente interessado na comida.

A conversa entre eles mudou. Ficou mais lenta e íntima. Conversam sobre experiências da vida, sobre a infância, sobre histórias engraçadas. E, também, sobre o futuro.

Ela pôde ver nele algo que antes só supunha: vulnerabilidade real, sincera.
E Thomas viu nela algo que ninguém da cidade enxergava: uma mulher tentando sobreviver ao luto, ao julgamento, às expectativas — e ainda assim forte e confiante.

Em dado momento, Taylor deixou escapar:

— Eu me sinto… leve com você. E isso não acontece comigo faz muito tempo.

Thomas segurou o queixo dela com suavidade, fazendo-a olhar para ele.

— E eu me sinto vivo com você. E isso não acontecia comigo há muito mais tempo.

As luzes do restaurante refletiam nos olhos dela – tremiam como se estivessem prestes a confessar algo.

Então ele disse, com a voz mais lenta e mais honesta daquela noite:

— Taylor… isso aqui — apontou discretamente entre os dois —não é uma distração, você sabe disso.

Ela engoliu seco, o corpo inteiro respondendo antes da mente.

— Eu sei.

E foi ali, naquela mesa pequena, cercada por gente inconveniente, fofocas, pratos de sopa e luzes natalinas, que o vínculo deles deixou de ser apenas tensão recíproca. Virou escolha.

E nenhum dos dois parecia disposto a voltar atrás.

Quando terminaram o jantar — mais conversas trocadas com os olhos do que com palavras — Thomas levantou-se primeiro e ajudou Taylor a vestir o casaco. O toque dele em sua cintura era seguro, quente, íntimo o suficiente para deixá-la sem ar por um segundo.

Assim que saíram para o lado de fora, o frio cortante os envolveu, e Taylor instintivamente se aproximou dele. Thomas passou o braço pelos ombros dela para aquecê-la, mas fez isso de maneira tão natural que parecia que faziam aquilo há meses, e não dias.

Eles atravessaram o pequeno estacionamento coberto de neve fina, iluminado pelas luzes amareladas dos postes. Thomas a manteve perto — quase colada ao lado dele — e, sem pensar muito, deixou a mão escorregar pela lateral do corpo dela até pousar na cintura.

Taylor sentiu o ar falhar, mas não se afastou, inclinou-se mais, rindo de algo que ele tinha acabado de cochichar — era uma risada leve, tímida, mas real. Thomas adorava aquilo.

Um flash de movimento do lado esquerdo chamou a atenção de Taylor — e, no mesmo instante, seu coração despencou.

Joe estava parado próximo à saída do restaurante, segurando uma sacola de papel. Ele congelou no lugar ao vê-los. O olhar dele percorreu a cena devagar:
Thomas abraçando a cintura dela, o corpo dela encostado no dele, o sorriso discreto de Thomas quando percebeu que ela arrepiava ao toque… e então Joe franziu o cenho.

Taylor sentiu o rosto arder – talvez de culpa e uma velha ferida reabrindo.

Thomas seguiu o olhar dela e encontrou o homem parado, mas ele não se intimidou ou recuou; ele tinha confiança e estreitou ainda mais o braço ao redor dela.

Joe manteve o olhar sobre eles por alguns segundos intensos. Havia surpresa ali. E algo mais: arrependimento e seu orgulho ferido.

Taylor desviou o olhar primeiro. Thomas não.

Ele analisou a cena com precisão silenciosa, o maxilar marcando forte, mas sem perder a compostura. Não era um homem dado a confrontos públicos, mas também não era alguém que recuasse quando a situação exigia uma postura clara.

Joe parecia aproximar-se, como se estivesse indeciso entre fingir ou interpelar.

Thomas percebeu a hesitação e então fez algo simples, mas definitivo.

Ele abriu a porta do carro para Taylor, inclinando-se perto dela. E, antes que ela pudesse protestar ou se confundir, ele segurou o rosto dela com uma das mãos, com uma delicadeza firme, e a beijou.

Um beijo metade suave, metade possessivo. Cheio de intenção e tinha mensagem. E cheio de certeza.

Taylor ficou sem ar por um segundo. O choque, o calor, o coração batendo rápido demais… tudo se misturou. Os dedos dela apertaram involuntariamente a jaqueta dele.

Quando Thomas se afastou, os olhos dele estavam fixos nos dela. Profundos. Intensos.

— Entra — disse ele, num tom rouco, que parecia mais íntimo do que deveria.

Ela obedeceu.

Thomas deu a volta no carro, mas antes de entrar do próprio lado, trocou um olhar com Joe – firme, inabalável, um aviso silencioso de que ali não havia espaço para ele.

Joe não disse nada, mas o que sentia estava estampado.

Thomas entrou e fechou a porta. O barulho abafado do interior do carro fez o mundo lá fora desaparecer.

O silêncio entre eles queimava.

Taylor ainda sentia a boca quente, ainda tremia leve.

— Desculpa — Thomas murmurou, mas não parecia arrependido. — Eu só...

Ela não respondeu, não era porque estava brava, mas porque tudo dentro dela estava uma bagunça bonita e assustadora.

Thomas ligou o motor. O som preencheu o carro, e a neve começou a bater no para-brisa.

No caminho de volta para a fazenda, Taylor ficou olhando pela janela, o reflexo do pinheiro gigante da praça passando por seus olhos como uma lembrança distante.

A luz fraca dos postes passava pelos rostos deles, criando sombras suaves.

Taylor apoiou a cabeça no vidro do passageiro dele. Thomas apertou sua mão sobre o colo dela, passando o polegar em círculos lentos — tão íntimo que ela sentiu vontade de fechar os olhos e permanecer ali para sempre.

Sentia um conforto novo, precioso, quase assustador de tão fácil.

Quando estacionaram na fazenda, Thomas desligou o carro, mas ficaram alguns segundos quietos, apenas respirando o mesmo ar, olhando-se na penumbra.

— Sobre o beijo... — Thomas começou, mas fora interrompido.

— Eu sei... — ela respondeu, calma.

Ele a acompanhou até a porta, passou a mão brevemente na cintura dela – só um toque leve, mas Taylor ficou na sala.

— Vou ficar um pouco aqui... — disse ela. — acho que preciso pensar um pouco sozinha.

— Tudo bem... você sabe onde me encontrar, se quiser...

Ela sorriu e agradeceu, Thomas não resistiu em beijá-la novamente. Ele subiu as escadas rumo ao quarto de hóspedes e Taylor sentou-se na antiga poltrona de seu pai.

E então, o silêncio caiu.

A casa estava silenciosa quando Taylor finalmente ficou sozinha na sala.
O calor suave da lareira fazia sombras dançarem pela parede e refletirem nos enfeites dourados da árvore de Natal. Era a mesma árvore que seu pai montava todos os anos — não importava as dívidas, não importava o estado da fazenda.

Para Scott Swift, o natal era uma promessa: tudo ficaria bem.

Ela afundou na poltrona dele. A poltrona onde ele descansava ao final de dias intermináveis, onde ele ria alto, onde reclamava do frio, onde contava histórias que misturavam realidade com fantasia só para vê-la sorrir.

E agora era ela ali, abraçada a um silêncio que pesava mais do que qualquer lembrança.

O cheiro de Thomas ainda estava na jaqueta que usava. E o beijo dele — aquele beijo inesperado, impulsivo e meio possessivo ainda queimava em sua boca. Ela encostou os dedos nos lábios, sentindo tudo voltar em ondas: o toque firme, o olhar dele logo depois, a certeza que ele transmitia sem dizer nada.

Uma certeza que ela já não tinha, pois quando Joe apareceu naquele momento, uma parte do passado que ela achava que estava enterrado, na verdade, ainda não estava porque existia uma ferida aberta em seu coração – não porque ainda o amasse, ou ainda amava?

Não era capaz de responder a si mesma, uma ferida que ela simplesmente passara por cima sem curar porque ela tinha outras feridas escancaradamente abertas. E ela lembrou de Joe como um espaço seguro que foi para ela por muito tempo, mas que terminou com ela sendo um peso em sua vida – porque o peso de sua dor era muito grande.

Então, vê-lo ali doeu, mas doeu porque uma parte dela sentiu que ainda devia algo a ele, mesmo que não saiba nomear. E então havia Thomas, com aquele jeito calmo e firme, com aquele olhar que parecia segurá-la inteira, que a defendia sem que ela precisasse pedir e falava com honestidade rara. O Thomas que a beijara com uma certeza que ela não sentia há muito tempo.

Ela suspirou fundo, apoiando a testa nos joelhos dobrados.

— Pai… — disse num sussurro rouco, quase infantil. — O que o senhor diria de mim agora?

O piscar das luzes pareceu responder no lugar dele em uma sequência suave, quase melancólica.

— Eu estou… me permitindo sentir de novo. Algo que achei que não aconteceria mais. — engoliu seco. — Mas será que é certo? Será que o senhor ficaria orgulhoso... ou decepcionado?

A lembrança do sorriso largo do pai veio com força, com voz grave que sempre dizia: “Você merece o mundo, Tay.”

Ela levantou os olhos para a árvore. Para a foto do pai segurando uma xícara de chocolate quente, rindo ao lado de Thomas – uma foto tão distante dela, de um tempo mais simples.

E então finalmente admitiu, em um sopro tão baixo que talvez nem a própria casa tenha ouvido:

— Eu estou me apaixonando por ele.

As palavras ficaram suspensas no ar. Pesaram nela e depois a libertou.

Mas junto delas veio uma onda fria de culpa, dúvida e pânico.

Era demais.

Rápido demais.

Confuso demais.

Taylor puxou a manta do sofá, abraçou-a contra o peito e fechou os olhos.
Só precisava de um minuto.

Um único minuto para respirar, mas o corpo cansado não esperou.

[CONTINUA]

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