— Selena Gomez? O que gostaria de
relatar?
— Gostaria de depor sobre o
assassinato do sr. Tesfaye. Eu sei quem o matou!
***
horas antes
Selena olhou para seus pais pela
última vez e bateu a porta de entrada e correu sem rumo. Estava uma pilha de
nervos e não sabia por onde começar, todas as informações embrulhavam o
estômago e depois de passos rápidos, parou na porta de uma lanchonete e entrou,
sentou-se em uma mesa e pegou seu celular, tinha tudo gravado, mas ainda não
sabia como provar que seus pais fizeram alguma coisa.
De todas as intenções e descobertas de
Selena, ela precisou de uma caneta da garçonete e alguns guardanapos
disponíveis na mesa. Quando ela assistiu aquele primeiro vídeo do confronto de
Abel, seu pai e Phillipe Hart, Selena notou que contra o reflexivo quem
segurava a câmera para filmar era uma mulher, além disso, o testamento do sr.
Tesfaye estava escrito a mão quando cita que o espelho deixado ao Abel, como uma
pessoa arrogante, não é a mesma letra do penúltimo testamento em que Abel ainda
era herdeiro.
Selena fotografou ambos os documentos
e comparava de maneira minuciosa as letras que, de fato, não batiam. O que poderia
ter ocorrido, se não o documento ter sido forjado?! E a discussão entre os três
também poderia ter sido orquestrado para que Abel fosse filmado daquela forma
explosiva. E agora, sabendo da opinião de seus pais em relação ao Abel, estava
mais do que claro que seu pai sabia algo, pois ele tinha guardado a gravação da
briga e os documentos que incriminariam o Abel no momento que a polícia pusesse
as mãos neles — e Selena havia o livrado sem ao menos saber do que sabia agora,
tinha se livrado daquela cópia da gravação.
— Disseram que te encontraria aqui...
Recolhendo o celular para si, Selena
assustou-se e responder de forma incisiva:
— O que quer?
— O mesmo que você. Acabar com todo
esse drama que se tornou a morte de Makkonen.
— É isso o que você quer? Se Abel
permanecer preso, ele será indiciado, julgado e condenado e tudo acabará em
breve.
— E é isso o que quer, Selena? — riu.
— O que eu quero é a verdade. Somente
isso.
— Seus pais me ligaram a pouco e me
contou sobre a... conversa que tiveram. — sentou-se de frente a Selena. — E me
pediram mais um favor, mas não estou disposto a ajudar mais porque estou
realmente cansado, sabe? Cansado de toda essa confusão.
— Phillipe, o que você realmente quer
comigo? Como meus pais entraram em contato com você?
— Conheci Makkonen quando ele se
internou após uma infecção urinária há cinco anos. Naquela época, trabalhava
como cuidador em um asilo no interior da cidade, o paciente de quem eu era
responsável era vizinho de quarto de Makkonen, eles jogavam xadrez todos os
dias até que meu paciente faleceu e eu fiquei sem emprego, eu era contrato pela
família e fiquei sem rumo, mas Makkonen me ajudou. Ele era sozinho, realmente
sozinho, e durante sua internação já tinha compartilhado algumas coisas de sua
vida pessoal, incluindo sobre seu filho.
Selena guardou seu celular abaixo da
mesa e, de maneira intuitiva, colocou para gravar.
— Depois de alguns meses, soube para
quem comecei a trabalhar: o grande sr. Tesfaye, e todas as contribuições que
ele e sua esposa fizeram à cidade, sua antiga influência como advogado
criminalista. E eu não sabia de nada disso até que uma pessoa me contou sobre
tudo isso e mais um pouco de quem era sr. Tesfaye, foi seu pai, o contador
pessoal dele. Ele tinha outros, mas seu pai era quem ele confiava de verdade. —
Phillipe fez um breve pedido de café e logo foi servido, bebericou. — De contrapartida, dado a minha profissão que
me permite conhecer meus patrões, que são também meus pacientes, conheci
Makkonen de outra forma e acredito que... de certa forma, nos envolvemos. Não
pense que foi de uma maneira louca, mas nos conhecemos tão bem e começamos algo
nosso, era tudo muito novo para ele e ele sabia que, para a sua idade, iria
acontecer duas coisas: iriam acusá-lo de estar carente, solitário e eu, é
claro, seria um golpista.
— E não foi o que aconteceu?
— Não, não, não... — ele riu. —
Selena, enquanto você está tentando gravar alguma confissão minha, estou aqui
tentando abrir o jogo com você. E ali em frente. Olhe! — Plhippe apontou para
um carro no lado de fora. — Tem uma pessoa nos aguardando porque eu devo
injetar um tranquilizante em você, basta olhar debaixo da mesa para ver e
quando você começar a ficar sonolenta, eu diria que você está com pressão baixa
e te levaria embora rumo ao hospital psiquiátrico onde seus pais estão me
aguardando com você para te internar porque com todas suas ideias e teorias de
conspirações... — ele gargalhou. — é o lugar que você pertence, convenhamos.
Ele levantou e mostrou a seringa em
sua mão e esticou a outra pedindo o celular de Selena. Receosa, ela entregou e
ele parou e deletou a gravação feita até aquele momento, depois pousou o
celular no canto da mesa.
— Posso continuar?
Ela assentiu.
— Foi a primeira vez que isso ocorreu,
de me apaixonar por um paciente, para uma pessoa que presto serviço. Mas veja,
muito do meu trabalho era fazer companhia a ele porque ele já tinha outros funcionários
de confiança para auxiliá-lo no que ele precisava. A questão de que ele me
disse tantas vezes até no seu último dia de vida era que eu o fazia bem e,
Selena, acredite que não tem preço alguém dizer isso. E ter alguém também que
te escute, que te ajude e que torne a vida leve. Por tanto anos, não tive isso...
— Phillipe, toda essa história. Qual o
objetivo de me contar isso agora?
— Ele sabia que Abel não aceitaria
fácil, foram várias tentativas fracassadas dele dizer que contaria e quando
Abel entrava pela porta, ele desistia. Ele não tinha medo de Abel, ele tinha medo
do lado de fora. Nossa relação permaneceu até o último dia dentro daquela
casa... — algumas lágrimas caíram. — E ele me deixou tudo, mas o que mais me
importava mesmo era aquela casa. A casa em que vivemos pouco mais de quatro
anos, e foram quatro anos maravilhosos, mas me tiraram a única coisa de
Makkonen que eu fazia questão em ter que era viver ali, com as memórias dele...
— Você acredita que foi Abel que incendiou
a casa?
— É por isso que estou falando com
você hoje. Não foi Abel, pois Abel já tinha aceitado não ter nada, quer dizer,
era isso o que ele pensava até entrarmos em acordo comum. Ele já não dependia
do dinheiro do pai desde que saiu da cidade, Makkonen me contou que ele já não
utilizava nenhum dinheiro de sua poupança há muito tempo porque Makkonen o
castigou de algo que ele jamais vez. E quando ele vinha para a cidade, era para
cumprir protocolo como sra. Tesfaye gostaria que ele fizesse.
Phillipe olhou no relógio.
— Temos pouco tempo. No mais, alguém
matou Makkonen e não foi seu filho, mas a pessoa tinha meios, motivação e
acesso aos remédios dele. Quem seria essa pessoa?
— Você está insinuando o que
exatamente?
— Seus pais querem se livrar de você
porque eles compreenderam uma coisa errada de anos atrás, na mesma época em que
eu conheci o Makkonen. Você não se lembra de mim, Selena, mas fui eu quem te
levei até a sua avó. E você não se lembra porque não foi a bebedeira que causou
seu lapso de memória, foi isso aqui. — ele apontou para a agulha. — E seus pais
querem que você esqueça tudo isso outra vez.
— Não é possível isso... meus pais
jamais... — Selena dizia incrédula.
— Você não se lembra de nada, Selena.
— Mas... você quer dizer que...
— Tenho que ser rápido agora. Makkonen
tinha deixado metade para mim e Abel, mas o testamento que apareceu declarava
que era tudo meu e nessa condição, eu tinha que guardar alguns segredos. E eu
já tinha feito alguns favores ao seu pai que me deixava em uma situação
delicada e soube que ele poderia provar, com isso, tive que aceitar toda a
herança e deixar Abel à míngua, o que eu não sabia era que ele seria acusado de
matar o próprio pai. E tudo se tornou ainda mais complicado quando soubemos que
Makkonen foi envenenado com isso aqui... — mostrou a seringa. — e asfixiado,
pareceu, a princípio, uma morte natural, mas não foi. Ele foi morto e eu sou o
maior culpado disso, pois deixei que todos esses remédios, soníferos que
carregava para tornar a vida de Makkonen mais tranquila, sem nenhuma dor, foi a
razão da qual dele estar morto agora.
— Você se culpa?
— Pela forma das coisas chegarem aqui?
Culpo-me, e muito. — respondeu. — Mas tudo era justificado pelo que Abel tinha
feito a você. Era no que seus pais se agarram para justificar tudo que ocorreu
até aqui.
Selena colocou a mão no rosto.
— Vocês mataram uma pessoa e jogaram a
culpa em um inocente.
— Seu pai contou ao Makkonen o que
tinha acontecido um mês antes de sua morte, mas Makkonen não acreditou porque
Abel tinha contado outra versão para ele, sobre ter feito amor com você e você
ter sumido no dia seguinte. Ele se culpou, mas por outros motivos... por
estragar uma amizade, mas quando voltou e nada tinha acontecido. Abel ficou
sentido, ele tinha confidenciado ao pai todas essas coisas, mas seu pai dizia
outra história e queria que ele pagasse sua faculdade em troca do silêncio. E
Makkonen... ele não agia bem com chantagens, ele não aceitou, mas confrontou
Abel e você viu parte daquela gravação sobre quando ele conta sobre nós... Seus
pais achavam que se gravassem sobre o assunto, ele assumiria a culpa, porém ele
negou e aí veio a discussão sobre nós e sua mãe achou que era o suficiente para
incriminá-lo de outra coisa.
— Que loucura! Isso é... — Selena
levantou-se. — Você tem que contar isso à polícia!
— Estou contando por que você merece
saber a verdade, mas será a única!
— Abel não ficará preso, não é justo
com ele.
— Você mandaria seus pais no lugar
dele?
Selena suspirou e enxugou algumas
lágrimas secas que caíram durante a história.
— Eu não acredito nisso. — Selena. —
Todo esse tempo vocês orquestraram um plano doentio para incriminar Abel sendo
que ele jamais me machucou.
— Selena, sente-se... — Phillipe
pediu. — Temos que...
— Não temos nada! Nada! Eu não
permitirei que vocês. Qual a razão disso tudo?!
— Vingança. Eu perdi a única coisa que
me importava depois de Makkonen, a casa. E seus pais só queriam uma coisa,
vingança.
Ao sair da lanchonete, Selena sentiu
um vento gelado em seu rosto – um frescor que necessitava. Ela cruzou contra um
fluxo de pessoas e olhou para trás, Phillipe entrou no carro que a mostrou e
partiu.
— Selena...
Ela olhou para trás e levou um susto –
seu pai parou frente a ela.
— Minha filha, vamos conversar...
— Não aguento mais conversas. Eu quero
a verdade! Diga logo! Diga! — Selena gritou. — Conte-me que matou o sr.
Tesfaye.
— Você deveria ter entrado no carro,
ter decidido recomeçar outra vez.
— Outra vez? Vocês tiraram o que
poderia ter sido meu por.... por... engano. Vocês nunca me questionaram nada,
apenas agiram contra mim!
— Você precisa entender que fizemos o
necessário para te proteger. Como seus pais, fizemos o que achamos o certo.
— Foi você?
— Não... foi sua mãe. — ele tentou
tocá-la, mas ela não permitiu.
— Como?
—Phillipe me ligou enquanto falava com
você, eu ouvi tudo. Ele contou toda a verdade. Sua mãe... ela não está bem,
desde aquela época foi difícil ela tolerar tantas coisas, foi um ódio
crescente... Selena, por favor, vamos embora. Eu quero dar à você uma nova
oportunidade de vida, ser diferente de tudo que aconteceu até aqui.
— O sr. Tesfaye sofreu? Como vocês
conseguiram ver o sofrimento de Abel por todo esse tempo e não fazerem nada?
Sentiram bem com tudo isso? É loucura!
Selena olhou para os lados e
aproximou-se do pai.
— Vocês são loucos! Não cheguem mais
perto de mim nunca mais! Eu quero distância!
— Selena... você não tem para onde
ir... minha filha, você tem raiva, mas daremos um jeito como sempre fizemos.
Você sabe disso.
— Escute só uma coisa, Abel sairá
amanhã da prisão. Bem cedo e vocês irão assistir isso. E depois, olhe bem para
minha cara, olhe bem! Será a última vez que fará isso.
— Você não pode provar nada, Selena. E
no mais, sairá como louca porque toda a farsa de perca de memória que você fez,
voltará contra você. — seu pai deu um passo a frente. — Eu irei fazer o melhor
daqui para frente. Apenas venha comigo!
Selena olhou para o seu pai pela última
vez e atravessou a rua correndo. Após virar o quarteirão caminhou em passos
largos olhando para trás algumas vezes para saber se estava sendo seguida.
Parou em um orelhão público e discou um número que havia anotado alguns dias
atrás, atenderam:
— Penitenciaria masculina de New York,
o que deseja?
— Gostaria de falar com uma pessoa que
está presa neste momento.
— Como é o nome do detento?
— Abel. Abel Tesfaye.
— Aguarde alguns minutos.
Selena balançava os pés apreensiva com
a espera, olhava para os dois lados para saber se via algum conhecido, mas nada.
Depois de uma longa demora ao telefone, ela ouviu a voz de Abel, ainda se
mantinha suave, mas parecia cansado.
— Abel? — Selena disse entusiasmada. —
Abel, como está?
— Selena? Como você... sua família sabe
que está falando comigo?
— Não, mas escute porque você não tem
muito tempo para me ouvir. Amanhã você sairá livre, acredite no que estou te
dizendo. Amanhã você será livre.
— Como assim? O que descobriu?
— Tudo. Sei de tudo. — Selena dizia eufórica.
— Só me prometa uma coisa, eu irei te ver novamente.
Antes que pudesse respondê-la, a
ligação caiu e Abel do outro lado da linha bateu o telefone diversas vezes na
parede querendo respostas que não teria naquele momento. Já Selena, sorriu
aliviada em falar com ele.
Ela sabia o que fazer.
***
No dia seguinte, no primeiro horário,
Abel Tesfaye saiu pela porta da frente da penitenciaria. Não conseguia sorrir,
não conseguia ficar feliz. Ele abaixou a cabeça e passou pelos repórteres
quieto, não queria dar nenhum depoimento.
— Abel, fale conosco. — um jornalista
o parou. — Comente sobre o desenrolar do caso, como se sente ao sair em
liberdade e sendo inocente?
— Sinto-me bem.
— E como você recebeu a notícia do
verdadeiro assassino?
Abel o olhou e saiu andando, não sabia
o que responder. Ele não se sentia bem com nada.
Ao entrar no carro, seu advogado o
olhou.
— O que quer fazer primeiro?
— Ver Selena, é claro.
— Não será possível, Abel. Selena
ainda está na delegacia. Ela será indiciada pelo assassinato do seu pai.
[CONTINUA]