23 de novembro de 2025

The Swift’s Christmas Trees | 10° Capítulo.

10° Capítulo – “Ao futuro”

O sol ainda não havia subido completamente quando Thomas abriu os olhos.

Era cedo — cedo demais para qualquer despedida saudável — e o quarto de Taylor estava banhado por uma luz azulada, quase fria, típica do inverno. Ele ficou alguns minutos deitado, observando o contorno dela adormecida ao seu lado, o rosto tranquilo, o cabelo espalhado no travesseiro, a mão repousada sobre o peito dele como se ainda, mesmo dormindo, quisesse garantir que ele não fosse embora antes da hora.

Mas a hora tinha chegado.

Ele deslizou a mão pelo braço dela, devagar, despertando-a com cuidado.

Taylor abriu os olhos devagar. Bastou vê-lo sentado na beirada da cama, vestindo a camisa, para o coração dela despencar.

— Já? — ela sussurrou, a voz rouca pelo sono e pela tristeza contida.

Thomas assentiu, com o olhar pesado.

Ela se levantou sem reclamar, sem tentar convencê-lo. Talvez porque já tivessem dito tudo na noite anterior. Talvez porque, dentro dela, a confiança fosse maior do que o medo.

Eles desceram em silêncio, mãos dadas, como se cada degrau fosse uma contagem regressiva.

A fazenda estava quieta do lado de fora — silenciosa, coberta por um véu de geada fina. O carro dele já estava carregado, o motor preparado. Andrea observava da varanda, com os braços cruzados sob o xale, um olhar misto de orgulho e angústia maternal.

Thomas despediu-se com um abraço firme.

— Obrigado por tudo… de verdade.

— Volte inteiro, Thomas. — ela pediu. — E volte logo.

Ele sorriu, prometendo sem palavras.

Taylor ficou na frente do carro. Os olhos marejados, mas sem desabar.

Thomas tocou o rosto dela com ambas as mãos.

— Eu vou ligar todos os dias. Prometo.

— Se não ligar… — ela ergueu o queixo, tentando brincar, mas a voz falhou.

Ela sorriu, mas a lágrima caiu mesmo assim.

Quando ele entrou no carro, Taylor deu um passo para trás, respirando fundo. Thomas colocou a mão para fora, segurando a dela pela última vez — os dedos se soltando devagar, como se o tempo estivesse sendo esticado além do possível.

E então ele partiu. E Taylor, junto com a fazenda, encolheram-se no retrovisor do carro, mas o futuro dele parecia ter uma forma.

A viagem até o aeroporto durou pouco mais de três horas. Cada quilômetro parecia arrancar Thomas de volta à vida antiga, mas também parecia empurrá-lo adiante para aquilo que precisava resolver. A cada curva, a cada cidade que passava, o coração dele insistia na mesma frase: “Volta para ela. Volta para ela. Volta para ela”.

Mas Thomas sabia que, para poder voltar, precisava ir.

Depois de quase dez horas de voo, desembarcou em Londres antes do amanhecer. O aeroporto estava silencioso, e o ar úmido e frio da capital britânica caiu sobre ele como um choque brusco. Pegou um táxi até sua casa em Holland Park e encontrou tudo exatamente como havia deixado: organizado, calmo, impessoal.

Retirou a jaqueta ao entrar no quarto — e percebeu, num golpe suave e devastador, que ela ainda carregava o cheiro de Taylor. Um aroma doce, terroso. Um lembrete.

Deitou-se na cama e, pela primeira vez em dias, dormiu sozinho.

Thomas ainda não tinha acordado completamente quando ouviu a campainha tocar. Demorou alguns segundos para entender onde estava – Londres, sua cama, sua vida antiga, e, com passos lentos, foi até a porta.

Quando abriu, levou um pequeno susto.

Emma estava ali – cabelo preso às pressas, casaco enorme, expressão de quem acordou antes do sol. Em uma das mãos, segurava uma sacola de papel com o café favorito dele e dois croissants. Na outra, Marianne, ainda de pijama por baixo do casaco, segurava um cartão feito à mão com glitter torto.

— Feliz Natal atrasado, seu desaparecido. — Emma anunciou, passando por ele como se morasse ali. — Viemos verificar se estava vivo. Achei que ia me ligar pedindo para vender todos os seus bens e comprar feno.

Ele riu, abraçando-a com força.

Marianne apareceu logo atrás, correndo, agarrando-se à cintura dele.

— Tio Tom! Você sumiu! — levantou um cartão. — Tio Tom, fiz pra você! Tem renas, mas uma ficou parecendo uma vaca... Desculpa.

Thomas não resistiu. Sorriu de verdade — o tipo de sorriso que só família arranca.

— Está lindo, Mari! Melhor presente!

Emma já estava abrindo a janela da sala, reclamando que ele precisava de ar fresco. Marianne pulou no sofá, tirando as botas minúsculas e acomodando-se como se o lugar fosse dela desde sempre.

— Trouxe o seu preferido. — Emma ergueu o copo. — Duvido que o café americano prestava.

— Não era esse, mas estava bom... — Thomas riu, sentado.

Emma o olhou de cima a baixo, avaliando.

— Então? — cruzou os braços, sorrindo com aquela curiosidade de irmã mais velha que conhece o cheiro de novidade a quilômetros. — O que diabos aconteceu lá?

Thomas ajeitou-se no sofá, passou a mão pelos cabelos e… sorriu.
Um sorriso grande, real, quase juvenil.

— Eu conheci alguém.

Marianne arregalou os olhos, animada. Emma quase deixou cair a xícara.

— O quê?

— O nome dela é Taylor. — Thomas disse com a voz calma, mas o brilho nos olhos era impossível de esconder. — Ela é… — ele exalou, tentando encontrar palavras — …é a filha do Scott. E é incrível. Inteligente. Forte. Teimosa. Sensível. Linda. E eu… eu me apaixonei por ela.

Emma levou a mão ao peito.

— Meu Deus, Thomas… você tem cara disso mesmo. — riu. — De apaixonado.

Marianne deu risadinhas, escondendo o rosto no cobertor.

— Tio Tom está namorandooo.

Ele riu, balançando a cabeça.

Emma cruzou os braços, emocionada.

— E o processo? As complicações? Você foi lá para resolver um problema gigante.

A expressão dele mudou — ficou mais firme, determinada.

— Vou resolver. Voltei por isso. Mas agora sei exatamente o que preciso fazer...

Emma se aproximou, colocou a mão no ombro dele.

— E ela?

— Vou voltar. — Thomas respondeu sem hesitar. — Eu prometi.

Marianne bateu palminhas.

— Vamos fazer biscoitos pra ela quando ela vier visitar! — ela anunciou, como se estivesse marcada a data.

Thomas riu — e pela primeira vez em anos, sentiu que tudo fazia sentido.

Thomas contou tudo para Emma naquela manhã: os dias na fazenda, o caso, o clima do Natal improvisado... mas principalmente contou sobre Taylor — sobre como ela era forte, doce, brilhante, linda, e como, sem que ele percebesse, tinha se tornado a melhor parte daquela viagem. Emma ouviu tudo com um sorriso irônico de irmã mais velha e disse, com convicção, que mal podia esperar para conhecer a mulher que tinha deixado o irmão visivelmente transformado.

E os dias seguintes correram depressa. Thomas dividia seu tempo entre preparar documentos para sua defesa, rever pareceres, revirar papéis e continuar trabalhando normalmente na sede da Wells Fargo e, no meio de tudo isso, viver para um único ritual diário: as ligações noturnas com Taylor.

Ligavam-se sempre à noite, quando ambos já estavam exaustos demais para fingir qualquer coisa. Falavam sobre a fazenda, sobre o clima, sobre saudade, sobre planos, sobre inseguranças. Falavam sobre tudo, e ao final de cada ligação, sem falhar um dia sequer, Thomas dizia, com a voz cansada, mas cheia de certeza:

— Eu te amo, Tay. E em breve estaremos juntos.

E Taylor acreditava.

Nesses mesmos dias corridos, encontrou-se com Cynthia. E ela cumpriu com a palavra de Thomas, com certo nervosismo quase infantil, dizendo que não era certo as ameaças feitas por Thomas naquela tarde, mas ela sabia que Thomas não blefava e trouxe consigo documentos, mensagens e demais provas que Thomas precisava para saber até onde Wells Fargo sabia sobre o leilão e de seus movimentos. E, mesmo com Cynthia sendo curiosa sobre as motivações de Thomas, ele aprendeu sua lição e manteve apenas formalidade necessária com ela.

Assim passaram-se os dias de janeiro: Thomas repetindo sua rotina entre escritório e reuniões, e seu coração atravessando o oceano todas as noites para voltar à fazenda Swift. Londres seguia fria, correta, prática, mas era a voz de Taylor que lhe dava direção correta para seguir.

E foi em uma dessas noites mais doces, talvez a mais leve desde que voltara. Foi Marianne quem atendeu o telefonema. A menina, pequena e muito mais ousada do que o tio, apoiou o queixo no travesseiro e falou com Taylor como se já a conhecesse há muito tempo.

— Oi, Taylor! Eu sou a Marianne! Você gosta de biscoitos de canela? Eu fiz hoje com o Tio Tom! E você podia vir aqui em Londres um dia, sabia?

Thomas tentou pegar o celular de volta, mas ela se esquivou com um risinho.

— Eu quero muito conhecer você… a paixão do meu tio que faz as árvores de natal...

Do outro lado da linha, Taylor riu – e sua risada fez Thomas sentir que o mundo estava no lugar certo, mesmo que ele ainda estivesse em outro continente.

E a manhã de 22 de janeiro estava cinzenta, fria e silenciosa. Londres parecia carregar o mesmo peso que Thomas sentia no peito. Ao colocar o paletó, ele tocou com cuidado nos dois objetos que guardava no bolso interno: sua foto com Taylor no dia do Festival das Árvores, ela sorria com ele; e uma foto antiga com Scott, que Andrea entregou-lhe no dia que partiu. As duas imagens eram âncoras.

Quando chegou na sede do banco, sentiu o estômago se contrair. Ali estavam eles: seus colegas de banco, alinhados, penteados, perfeitamente polidos... e sendo perfeitamente hipócritas.

A mesa da instituição financeira parecia um catálogo de rostos que haviam passado anos insinuando respeito enquanto apunhalavam pelas costas. O gerente principal o cumprimentou com um sorriso burocrático, quase satisfeito com o espetáculo que estava prestes a ocorrer. Thomas, porém, não desviou. Seu olhar era direto, firme, frio de uma maneira que eles já estavam acostumados a ver.

A reunião começou e a acusação contra Thomas era clara: ele teria agido de má-fé ao conduzir o leilão que tirou a fazenda Swift das mãos do banco.

O gerente principal do caso levantou-se, ajustou os óculos e iniciou seu discurso calculado:

— Senhor Hiddleston, de acordo com os documentos, suas decisões favoreceram um proprietário específico, mesmo quando os números indicavam que o banco teria mais lucro se seguisse outra direção. Há indícios de que o senhor manipulou a ordem das propostas e beneficiou a si mesmo e a família do devedor com o leilão.

Thomas ouviu tudo em silêncio. Os dedos apertavam a caneta, mas seu rosto não denunciava nada – frieza perfeita.

Quando a juíza autorizou sua resposta, ele se levantou devagar, com uma calma que fez alguns dos homens do banco engolirem em seco.

— Com todo respeito — começou Thomas, a voz baixa, firme. — O banco está acostumado a interpretar integridade como fraqueza. Inteligência com desonestidade. E ética como obstáculo. Mas não é por isso que elas deixam de existir.

Houve um leve burburinho.

Thomas abriu uma pasta fina. Seus documentos estavam imaculados.

— A ordem das propostas seguiu exatamente o regulamento interno — disse. — Inclusive extraoficialmente recomendado por vocês mesmos, embora nunca colocassem por escrito. Coisa que fiz questão de registrar.

Ele ergueu um documento com recibos de e-mails datados, que Cynthia havia enviado para provar que ele sempre atuou dentro do permitido.

— Aqui está a cronologia completa. Cada decisão foi tomada às claras. Cada passo foi comunicado. Se houve lucro menor para o banco, foi porque vocês ignoraram três alertas de risco da fazenda. Alertas que eu fiz… e que vocês engavetaram.

Um dos diretores se remexeu na cadeira.

— Acusam-me de agir de má-fé... — continuou Thomas, com um meio sorriso gélido — quando, na verdade, o que os incomoda é que eu exerci minhas obrigações e fiz uso do meu direito.

— E o que você me diz sobre... — o gerente limpou a garganta. — sobre os boatos de que a família ainda vive na propriedade. Digo, vamos lá, Thomas, você comprou a fazenda...

— Quando estive em Wisconsin enviado por vocês... — Thomas apontou para seus superiores. — Eu conheci essa fazenda e ela é magnifica. Linda mesmo. Eu gostei... — riu, com certo deboche. — e quando soube que estava à venda em um leilão. Eu comprei.

— Mas não mandou a família Swift sair porquê... como nos disseram, você está com a filha de Scott Swift.

— E ela não tem nada a ver com este processo. — Thomas interrompeu-o. — Como a lei diz, as dívidas são enterradas junto com o falecido. Ela não herdou nada do pai, nem as dívidas...

Um dos diretores da Wells Fargo ergueu os olhos para ele. Atento.

Thomas então aproximou uma folha a mais. Calmamente.

— E, já que estamos falando de intenção, gostaria de incluir no processo uma cópia da carta do próprio Scott Swift, que me procurou espontaneamente para tirar dúvidas sobre procedimentos legais que o banco nunca se dispôs a esclarecer. Ele buscava proteção para sua família, buscou o mínimo que deveria ter sido ofertado para ele: informação. E eu… — sua voz falhou só por um segundo, mas ninguém percebeu, — eu apenas fiz meu trabalho. Já os funcionários daquela agência, não.

O gerente responsável pela agência citada tentou interromper:

— Objeção. A carta não é pertinente…

— Aqui não é um tribunal, sr. Alcott. — Thomas debochou. — E é pertinente sim — rebateu. — Porque prova que eu não busquei a família Swift. Eles é que buscaram orientação quando vocês se mantiveram em silêncio. E eu agi com transparência desde a minha função até a compra.

Ele olhou para cada colega um por um, sem piscar.

— E mais, quantos de vocês não se beneficiaram por dívidas alheias. Ganharam bônus, tomaram carros e, assim como eu, compraram uma propriedade abaixo do preço. — riu, vitorioso. — Eu posso citar, no mínimo, seis casos assim presentes nessa sala e nenhum deles foram investigados.

— Nenhum de nós se envolveu com a família.

— Mas isso já é da minha vida pessoal e nem lhe diz o respeito. — Thomas rebateu. — E digo as boas novas aqui... irei me casar com a sra. Swift, filha de Scott. E como nossa lei também diz, como parte da minha filha, vocês não poderão ir atrás dela. Por nada.

Silêncio absoluto.

Depois, com a mesma elegância com que entrou, Thomas voltou a sentar-se.

Pelo olhar do diretor, pelo desconforto causados aos outros homens do banco e pelas provas organizadas com precisão cirúrgica. Thomas sabia que tinha ganhado uma batalha, mesmo que aquilo estivesse longe de terminar, ele estava indo pelo caminho certo.

Enquanto isso, naquela fazenda no interior de Wisconsin, após o carro de Thomas desaparecer pela estrada de cascalho, o silêncio parecia maior, mas não opressivo. Era apenas novo. Era a ausência de alguém que tinha preenchido rápido demais os espaços da fazenda – e de Taylor.

Nos dias que seguiram, Taylor mergulhou de volta na rotina com uma determinação quase teimosa. Era como se precisasse provar a si mesma que ainda conseguia tocar tudo sozinha, como sempre fez. E, em certo ponto, era verdade.

As plantações de inverno precisavam de cuidado, e ela decidiu ampliar uma pequena área que o pai sempre dizia que um dia renderia bons frutos “se alguém tivesse paciência de investir”. Taylor resolveu ter paciência. Passou horas com as mãos na terra gelada, medindo fileiras, reorganizando cercas, sentindo o cheiro familiar de campo úmido depois das chuvas curtas de janeiro.

A contabilidade do Natal também ocupou suas tardes. Ela montou uma pilha organizada de planilhas, notas fiscais, registros de vendas do festival. Tomou coragem de entrar no escritório de seu pai para transformar em seu escritório, analisou notas e anotações antigas, buscou tomar ciência de tudo que envolvesse a fazenda e o sobrenome da família. E, para sua surpresa – e orgulho, o lucro tinha sido muito melhor do que esperava. Pela primeira vez desde a morte de Scott, ela sentiu que a fazenda não estava apenas sobrevivendo. Estava respirando. E, com ela, Taylor também.

Havia dias em que estudava horas sozinha, retomando matérias do curso que tinha pausado e que agora estava decidida em concluir. Fazia anotações, assistia aulas gravadas no antigo DVD, lia livros que já estavam com as bordas gastas de tanta espera. Às vezes, quando a cabeça cansava, ela caminhava pelos arredores da fazenda e deixava o vento arrancar dela o que pesava demais.

Andrea também estava melhorando aos poucos. Tinha recuperado um pouco da energia, voltado a comer com mais regularidade e até passava mais tempo conversando com Taylor na varanda, observando o entardecer. Ainda havia dias difíceis, mas a melhora era visível. E Taylor fazia questão de estar presente em cada gesto, cada ajuda, cada chá levado no horário certo.

Mas, apesar de toda a rotina, do trabalho, dos estudos e das responsabilidades. Havia uma parte do dia que era a sua favorita: a ligação de Thomas – todas as noites, sem falhar.

Naquela noite, Taylor estava especialmente inquieta.

A casa já estava silenciosa, Andrea dormia no quarto ao lado, e a fazenda inteira parecia respirar num ritmo lento e pesado de inverno. Taylor sentou-se no sofá com uma caneca de chá ainda quente entre as mãos. O relógio marcava quase nove da noite, próximo do horário em que Thomas sempre ligava.

Quando finalmente o telefone tocou, Taylor sentiu um choque leve percorrer o corpo. Atendeu antes mesmo de respirar fundo.

— Tom?

Do outro lado da linha, ele soltou uma risada curta, cansada, mas carregada daquele alívio que ela conhecia tão bem.

— Tay… eu precisava muito ouvir sua voz.

Os ombros dela desceram numa exaustão doce. Ele estava bem. Vivo. Seguro. Ainda dela.

— Como foi a reunião? — ela perguntou, com cautela, mas ansiosa.

Houve um silêncio curto — e depois Thomas riu outra vez, com aquele som que era quase um sorriso transformado em voz.

— Foi uma vitória, Tay. — disse, com orgulho contido. — Uma vitória real. Eles não esperavam metade do que levei. E o diretor do banco… bom, acho que ele gostou de mim.

— Eu sabia. — ela sorriu, fechando os olhos — Eu sabia que você conseguiria.

Ele suspirou, aliviado e ao mesmo tempo exausto.

— Ainda não acabou. Ainda tem mais pela frente…

— Eu sei.

— …mas não será tão difícil. Agora não. — Thomas completou, com firmeza. — Eu posso vencer isso, Tay. De verdade. Posso encerrar essa história.

— Tom…

— Eu vou voltar, Tay. — ele repetiu, com aquela convicção que tinha se tornado o alicerce dela. — E quando você menos esperar… eu vou estar aí. Na sua porta. Eu prometo.

O silêncio que seguiu não era ausência. Era presença. Era futuro.

— Eu amo você. — ele disse.

— Eu também. — ela respondeu, voz baixa, quente, honesta.

Ficaram ali, conversando até a madrugada cair inteira, até o sono finalmente arrancar deles a promessa repetida todas as noites: logo, logo estaremos juntos.

Mas janeiro se passou, fevereiro também – e Thomas não voltou. Não porque não quisesse, mas porque havia mais trabalho do que ele imaginava, mais reuniões, mais documentos, mais brechas legais para fechar, mais detalhes do processo para derrubar de uma vez por todas. E Taylor sabia disso, mas isso não impedia a saudade de crescer.

Os dias dela eram sempre ocupados demais: plantação, vendas, organização da fazenda, estudos, cuidados com Andrea. E ainda assim o vazio ao lado dela no café da manhã insistia em se fazer presente. A cama que antes parecia grande demais agora parecia só... errada.

Ela falava com Thomas todas as noites — e todas as noites ele soava um pouco mais cansado, mais sobrecarregado e mais ansioso para voltar. E nunca quebrava a promessa.

Às vezes ele dizia que tinha sonhado com ela; Às vezes ela confessava que dormia vestindo a blusa xadrez dele para sentir o cheiro e, em outras vezes ficavam horas em silêncio, só ouvindo a respiração um do outro. Era saudade, sim. Mas era também certeza.

 E assim, o inverno acabara, mas foi próximo ao equinócio de primavera que os ventos mudaram. Certo dia, quando trabalhava, o diretor geral do banco, Phinneas Montenegro, chamou-o para conversar em sua sala – ampla, silenciosa, com janelas enormes que deixavam a luz fria de Londres entrar como se julgasse cada passo dado ali dentro. Thomas respirou fundo antes de entrar, ele já não estava nervoso como no início do processo, mas havia algo solene naquele momento.

— Entre, Thomas — disse o diretor, levantando-se da mesa. O tom não era rígido como de costume; havia uma suavidade quase paternal.

Thomas se aproximou, estendeu a mão. O diretor segurou firme, observando-o por um segundo longo, daqueles que parecem fazer uma leitura da alma.

— Você apresentou provas sólidas. Coerentes. — o diretor começou, caminhando até a janela. — E mais do que isso… demonstrou algo raro: integridade. Mesmo quando seria mais fácil recuar sem perder nada.

Thomas permaneceu imóvel, atento.

— Não encontrei malícia nesse processo, nem intenção de ganho próprio. Na verdade... — o diretor virou-se — encontrei coragem, mais do que qualquer coisa. Eu diria, se me permite, que deve ter uma mulher que vale a pena porque se arriscar assim...

Thomas soltou um ar que não sabia que estava prendendo.

— Então… o que acontece agora?

O diretor abriu um sorriso pequeno, satisfeito.

— Analisei todo o processo depois daquela reunião e acredito que não tem processo a ser sustentado. Eu encerrei a investigação hoje. Você está limpo.

Por um segundo inteiro, ele não conseguiu responder. Só absorveu.

— Obrigado, senhor — disse enfim, com a voz firme, mas os olhos marejando.

— Não me agradeça. Você provou tudo sozinho. — O diretor deu dois passos à frente. — Mas há uma condição.

Thomas ergueu o olhar.

— Você ficará na base de Londres por um bom tempo. — disse, sem rodeios. — É onde você faz falta. Onde você é importante. Quero você aqui para fazer carreira.

Aquilo não o chocou. Ele já esperava.

— Mas, senhor, eu também tenho uma fazenda para cuidar.

— E cuidará, creio eu. Você terá tempo para ela. — piscou.

Ele sorriu, pois agora conseguia planejar o futuro com liberdade – e ele sabia exatamente com quem deseja planejar.

Então, a primavera chegou no hemisfério norte com uma potencia que cheirava liberdade. Era a primavera mais bonita que Thomas já tinha visto, e tudo isso porque ele e Taylor tinham feitos planos.

Planos para a fazenda.

Planos para ela voltar para a faculdade em Chicago.

Planos de contratar funcionários para ajudar Andrea.

Planos de aumentar as plantações, revitalizar parte do pasto, criar fontes de renda.

Planos sobre casa, sobre rotina, sobre viagens, sobre eles.

Falavam sobre tudo porque iriam construir um futuro juntos.

Thomas ligava todas as noites, sem falhar. Até que… deixou de ligar.

Passaram dois, três, quatro dias... ele não ligava, não atendia ou retornava suas ligações.

O coração de Taylor apertou de um jeito que ela não sentia desde que o pai morreu. A primavera seguia do lado de fora — mas dentro dela tudo ficou cinza.

Tentou racionalizar: Reuniões? Viagens rápidas? Trabalho acumulado?

Mas o silêncio dele era inexplicável. E doía, como se alguém estivesse arrancando um ponto de apoio que ela não podia perder.

E os dias haviam ficado longos demais na fazenda desde o silêncio inexplicável de Thomas. E Taylor tentava preencher as horas com trabalho: plantou novos filetes de pinheiros, reorganizou os arquivos contábeis, limpou o celeiro, replantou flores. Mas nenhuma dessas tarefas — nem mesmo o cheiro da terra molhada depois da chuva, abafava o nó permanente em sua garganta. Sentia-se abandonada e uma parte dela até ousava pensar: “ele encontrou alguém em Londres… foi fácil demais me deixar pra trás”.

Era isso que feria mais fundo: o sentimento de ter sido deixada sem explicações.

E assim ela seguiu abril, os olhos sempre voltando para o telefone silencioso, as noites sempre caindo pesadas demais no coração.

Em uma tarde, o céu estava lilás quando Taylor desceu para a borda do bosque, onde os pinheiros jovens começavam a brotar fortes. Ela carregava uma cesta com ferramentas, tentando não pensar. Só… fazendo.

Até que, perto da cerca antiga que separava a plantação do quintal da casa, viu movimento.

Uma menininha de cerca de seis anos, pele rosada pelo frio, cabelos negros ondulados caindo pelos ombros, colhia flores silvestres como se estivesse num sonho próprio. Desenhava círculos no ar com as mãos pequenas e sorria para si mesma.

Taylor franziu o cenho e caminhou até ela.

— Ei, querida… tudo bem? Você está sozinha? — perguntou, suave.

A menina levantou os olhos claros, brilhantes como se guardassem um segredo.

— Não. — ela sorriu, mostrando uma covinha. — Eu vim com ele.

— Ele…? — Taylor começou, confusa.

A menina virou-se e esticou o braço, apontando para o alpendre da casa.

Taylor levou o olhar na direção indicada.

E ali, como se tivesse sido esculpido pela própria primavera, estava Thomas – com casaco azul-marinho, camisa clara, barba levemente aparada, o cabelo um pouco mais longo do que quando partiu. Tão bonito que o ar pareceu ficar mais leve só pela presença dele.

Sorria. Um sorriso cheio de saudade, de desculpa, de amor.

Taylor deixou cair a cesta.

Não pensou. Não hesitou.

Correu.

Correu com tudo que carregou por semanas — medo, dor, amor, raiva, esperança. Tudo explodindo em impulso.

Thomas abriu os braços no instante exato em que ela o atingiu, como se seus corpos soubessem se encaixar antes mesmo do toque acontecer. Ele a ergueu do chão, rodando-a, os dois rindo, soluçando, respirando de volta a vida que faltava.

E antes que qualquer palavra pudesse ser dita… eles se beijaram.

Um beijo quente, urgente, faminto, que apagou cada noite silenciosa, cada incerteza.

Era perdão e retorno.

Quando enfim se afastaram, ofegantes, os olhos dele estavam marejados.

Ele respirou fundo, ajoelhou-se ali mesmo, no chão de terra, diante da mulher que tinha atravessado um oceano para reencontrar, e tirou do bolso uma pequena caixa.

— Tay… — disse baixinho. — Vamos fazer isso. Vamos fazer tudo. A vida, a fazenda, Londres, Chicago… o que vier. Só não quero ficar longe de você de novo.

Ela levou as mãos ao rosto, a emoção transbordando.

— Thomas…

— Casa comigo. — disse, simples, firme, como quem diz uma verdade eterna.

E foi assim — com um nó na voz, mas o coração inteiro — que Taylor respondeu:

— Sim. Claro que sim.

E ali, eles selaram o amor deles como se nada mais no entorno realmente importasse.

Eles passaram os dias seguintes na fazenda como se o mundo tivesse se reorganizado ao redor deles.

Emma e a pequena Marianne ficaram hospedadas ali, apaixonadas por tudo: pelo campo, pelo silêncio, pelos cavalos, pela cozinha de Andrea.

Marianne seguia Taylor com muito amor e Emma observava Thomas com um orgulho silencioso que só irmãs sabem ter.

Na última sexta-feira de maio, foram ao cartório do centro da cidade. Casaram-se dentro da intimidade deles, como queriam.

Thomas com as mãos trêmulas e Taylor com o olhar mais brilhante do que qualquer neve de inverno, com Marianne segurando flores colhidas do próprio jardim. Emma e Andrea eram as testemunhas daquele casamento e daquele amor.

E assim, numa sala simples, com cheiro de papel timbrado e café fresco.

Taylor Alison Swift e Thomas Hiddleston foram declarados marido e esposa.

E os meses seguiram, Thomas ia e vinha de Londres, às vezes por poucos dias, às vezes por semanas. E a cada chegada, reparava que a fazenda começava a ganhar vida como nunca. Era o futuro, aos poucos, tomava forma.

Taylor estudava à distância, planejava seu retorno à faculdade, organizava contas, fazia reuniões com Thomas por telefone no meio da tarde só para ouvir sua voz com sotaque britânico dizendo:

— Já estou com saudades.

Mas foi no começo do inverno, quando o ar ficou cortante e as árvores ficaram cobertas de branco, que aconteceu algo que Taylor jamais esqueceria.

Thomas voltou com Marianne numa manhã fria, dizendo que Emma viria em alguns dias. Com ele, as malas e sua pasta de couro sob o braço.

Ela correu para ele, como sempre.

Ele a abraçou com aquela força que misturava saudade e pertencimento.

— Trouxe seu presente de Natal — ele disse, com um brilho misterioso.

— Então, irei abrir daqui alguns dias...

— Não, não, abra agora... é importante...

Ele entregou a pasta e Taylor abriu, lentamente, como se quisesse fazer certo suspense porque Thomas não conseguia disfarçar sua ansiedade – ele queria ver a reação dela. E ali estava: O documento oficial transferindo a propriedade da Fazenda Swift para o nome dela. A Fazenda de Pinheiros Swift, finalmente pertencia à Taylor Alison Swift.

As mãos dela tremeram. O ar fugiu dos pulmões.

Thomas tocou seu rosto com infinita delicadeza.

— É sua, Tay. Sempre foi para ser sua. Seu pai queria isso. Eu queria isso E agora… é você quem decide o futuro dessa terra. Não o banco. Não o destino. Você.

Ela chorou. Chorou por amor, por memória, por recomeço.

— Obrigada… — sussurrou. — É o melhor presente que alguém poderia me dar.

Ele a abraçou, escondendo o rosto no pescoço dela.

— Eu te amo, meu amor.

Taylor sorriu, com o coração completo.

E, por ora, bastava saber: A fazenda estava salva. Ela amava e estava sendo amada.

E o amor deles — finalmente — tinha encontrado casa.

E no dia de natal daquele ano, a fazenda estava coberta por uma fina camada de neve quando Taylor abriu a porta da varanda naquela manhã. O ar tinha aquele cheiro único do início do inverno — frio, limpo, e carregado de um silêncio cheio de expectativa.

Thomas apareceu atrás dela, envolvendo-a com os braços, o queixo repousando sobre seu ombro.

Lá embaixo, Marianne corria atrás de Andrea com um avental cheio de farinha, enquanto Emma preparava uma mesa improvisada para o chocolate quente. A cena parecia saída de um cartão de Natal — mas era real, completamente real.

Taylor sorriu, encostando a cabeça no peito de Thomas.

— Quem diria… — ela murmurou. — Que tudo começou quando você apareceu aqui...

Thomas apertou-a um pouco mais.

— Tudo começou porque o Natal faz isso com a gente — respondeu ele, suave. — Abre portas que estavam trancadas, ilumina caminhos que pareciam perdidos… e aproxima quem deveria estar junto.

Taylor fechou os olhos por um instante, respirando fundo.

No último ano, tinha perdido, lutado, reconstruído — e, no meio de tudo, tinha encontrado o impossível: alguém que a enxergou inteira, com suas forças e fragilidades.

O amor deles não tinha sido imediato. Tinha sido cuidadoso. Honesto. Nasceu em um tempo do ano em que o mundo fica mais gentil, mais predisposto a acreditar no impossível.

Taylor sorriu.

O sol se ergueu um pouco mais fraco, mas precioso, iluminando a fazenda que agora era sua de volta, iluminando também o caminho que eles escolheram trilhar juntos.

E naquele instante, enquanto as campainhas de vento ecoavam suavemente e o cheiro de pinheiro que subia do bosque, ela soube com absoluta certeza:

O amor que encontraram era, para sempre, um presente de Natal.

Um daqueles presentes raros, silenciosos, mas que mudam toda a vida.

E enquanto nevava devagar sobre a fazenda, o mundo parecia, finalmente, certo.

[FIM]

Nenhum comentário:

Postar um comentário

GNMH - CRÉDITOS ❤