mad | capítulo único.

I

— Dez, nove, oito, sete, seis, cinco, quatro, três, dois, um... Feliz ano novo!


Esbravejou a multidão em comemoração no centro de Copenhagen. Com a multidão, a tempestade também rugia com o vento sul que fazia rolar pelo enorme céu de inverno, negro e pesado, com grandes pancadas de chuva que chegara junto à passagem do ano.

O rio uivava, sacudindo e espelhando rajadas de água na orla e nas primeiras moradias localizados no canal próximo. Ali os turistas assistiam o fenômeno com bastante animação, abraçavam uns aos outros e assistiam os fogos de artificio iluminar o céu negro.

Na casa amarelo canário de número 48, uma jovem tão branca como a neve que permeava Dinamarca no doloroso inverno de dezembro com olhos tão azuis quanto o céu e os lábios carnudos e rosados que chamavam atenção, estava deitada de cabeça para baixo em sua cama fumando um cigarro. Ouvia dentro de casa toda a barulheira externa e sem nenhuma animação levantou-se para assistir pela sacada a comemoração. Estava frio e a jovem estava apenas de sutiã de seda que deixavam o formato de seus mamilos expostos, terminou de fumar seu cigarro antes de se recolher.

Passada a hora, o público foi dispersando pelo centro após o término do show dos fogos. A jovem vestiu uma blusa preta e um casaco que a aquecia, sua trança já quase desmanchada foi mantida. Olhou-se no espelho com certo desdém e passou o batom que estava na sua frente — vermelho vivo, como sangue e que realçava seus lábios. Apagou as luzes da casa e desceu as escadas, parou por alguns segundos frente ao rio que compõe a melhor paisagem de Copenhagen e viu o resultado do forte.

Acendeu outro cigarro, o último do maço que comprou naquele mesmo dia. No seu relógio de pulso apontava quase 01h do primeiro dia do ano. Colocou as mãos nos bolsos do casaco para aquecer e ia em passos médios sentido ao centro da cidade que ficava menos de uma quadra da sua moradia. Ali a concentração de turistas e amantes de comemorações era maior do que no canal, as pessoas ainda sorriam e trocavam toques e abraços comemorando algo que a jovem se nega a compreender. Ela atravessou a multidão que se concentrava na praça e entrou numa pequena porta de madeira cuja taverna era no subsolo.

Ali dentro era quente e escuro, ambiente que assimilava sua casa e era por isso que se sentia confortável. Tirou sua jaqueta e se sentou na última cadeira no balcão, o garçom a olhou e minutos depois colocou um novo maço de cigarro na sua frente junto à um copo de vinho velho e barato, como fazia quase todos os dias. A moça agradeceu com um pequeno sorriso e acendeu logo outro cigarro e bebericou o vinho não muito apetitosa. Não era bom, de fato. Próximo a ela, um rapaz riu da sua reação e aproximou com um sorriso charmoso no rosto.


— Posso me sentar aqui? — Ele perguntou agitado.

— Claro, está vago. — A moça responde sem sequer olhá-lo.


Então, o rapaz se sentou e a olhou algumas vezes. Buscava disfarçar, mas a cabeça baixa e a trança desfeita atrapalhavam-no a enxergar com clareza os traços da moça. Ela percebe a intenção dele e levanta a cabeça encarando-o, mostra um pequeno sorriso e ele desvia o olhar para a boca vermelha da moça. Aquilo o excitou.


— Posso te pagar outro desse? — Ele pergunta com um sorriso.

— Prefiro um whisky escocês, na verdade.

— Um whisky escocês para você, então. — Ele diz vitorioso.


O garçom ouve e serve para o casal duas doses do whisky escocês desejado, olha para a jovem e dá risada sozinho. Ela o ignora e termina a bebida em quase dois goles — o que surpreende o rapaz que mal conseguia tomar. Ela apaga a bituca do cigarro na mesa de madeira e solta a última fumaça para cima.


— Posso saber seu nome? — O rapaz finalmente pergunta.

— Claro que pode. — Ela sorri. — Primeiro, diga de onde você é.... não é daqui, é claro.

— Não, não, isso é obvio. — Responde sem jeito. — Sou americano.

— Ah, é claro. Americano.

— E então, seu nome? — O rapaz insiste.

— Taylor.

— Um belo nome para uma bela dinamarquesa. — Ele sorri. — Sou Jacob, mas todos me chamam de Jake.

— Jake...


Ficaram em silêncio, ela volta a beber o velho vinho e Jacob a observa com atenção. Os detalhes do rosto, seu cabelo e pele visivelmente macia. Aquilo não a incomodava, mas ela permaneceu no seu confortável silêncio.

Terminou o vinho, tirou do bolso do seu casaco algumas moedas e deixou no balcão. Vestiu o casaco e com outro cigarro na boca deixou a taverna. Agora as ruas estavam vazias, todos já tinham se recolhido para terminar a comemoração no amanhecer do dia. Cruzou e encolheu seus braços para se proteger do frio e caminhava em passos lentos para casa.


— Taylor! — Ouviu o americano gritar.


Ela parou no meio da rua e esperou ele alcançar-te. Olhou para a moça, ainda tinha o sorriso estampado no rosto e olhou para o céu onde pequenos flocos de neve caiam. No ponteiro de um dos relógios digitais próximos apontava -11°C e era normal que na madrugada a neve se fizesse presente nas ruas.


— O que quer, Jacob?! — Taylor pergunta sem fazer cerimônia.

— Posso acompanhá-la? — Pergunta tímido. — Quero dizer, você não é de falar muito e eu estava esperando um momento oportuno para que... conversássemos.


Ela riu e abaixou a cabeça. Jogou o cigarro no chão e voltou a andar em direção a sua casa. Jacob segue ao seu lado.


— O que trouxe você a Dinamarca? Um pouco longe de casa, não? — Taylor pergunta como se tivesse interesse.

— Bom, sempre gostei da ideia da Dinamarca, Islândia.... Esse ano resolvi arriscar.

— E se arrepende?

— Não, eu estou adorando. E agora está perfeito.


Ela ri, não responde e voltam ao silêncio.


— Para onde estamos indo? — Jacob pergunta.

— Bom, eu estou indo para casa. Você, eu não sei dizer. — Taylor responde serena.

— Estou te acompanhando.


Taylor suspira ao olhá-lo, ele era insistente, mas numa maneira doce. Os dois continuaram lado a lado pela calçada rumo ao norte. De onde Taylor veio.


— Qual era seu interesse aqui?

— Honestamente? Não saber de nada. — Jacob riu aliviada por ter dito. — Quer dizer, há coisas aqui diferentes de onde venho e eu tinha essa curiosidade de experimentar.

— Você pode ver a estátua da pequena sereia para lá. É muito bonita, foi escrito por um de nós. — Taylor apontou a direção.

— Você mora naquela direção?

— Não, eu moro no canal principal. Na Nyhavn, deve ter conhecido antes.


Taylor virou a esquina e continuou seu caminho acompanhada pelo rapaz. No canal, ele sorri ao reconhecer uma coisa que foi lhe dito. As madeiras um pouco molhadas, sendo coberto pela neve e fazendo barulho com o passo do casal, ainda assim era resistente.

A moça parou em frente a uma casa amarela canário, subiu o pequeno degrau frente a porta e tirou a chave do bolso. Jacob assistia-a em silêncio, ela o olhou e com um sorriso disse:


— Eu fico por aqui.


Ele não a respondeu, subiu para dividir o pequeno degrau. Ficou poucos centímetros de distância da moça que o encarou. Os dois quase não piscavam, mantinham-se sérios e respiram o mesmo ar úmido e gelado.


— Gosto de admirar sua beleza. — Jacob disse olhando para os lábios da moça.

— O que você quer, Jacob?!

— Você, é claro. Você! — Ele a pressionou contra a porta. — E você sabe disso a noite inteira.


Taylor pensou em respondê-lo, porém ficou quieta. Sentiu os lábios do rapaz tocando suavemente o seu, a ponta do nariz a tocava e sentia a respiração do rapaz mais forte. O beijou.

A moça colocou suas mãos na mandíbula do rapaz e o beijou. Um beijou calmo que se transformou em segundos em algo intenso, quase sufocante. Ele colocou sua mão no cabelo da moça que a trança logo se desmanchou. Jacob puxou o cabelo dela para separar o beijo e a olhou, estava ainda mais excitado.

O batom da moça estava em sua boca, o rosto de Taylor estava borrado na região dos lábios até um pouco abaixo do queixo. Ela o olhou um pouco assustada, mas soltou um riso como quem gostava daquele desafio.

Abriu a porta de sua casa e Jacob entrou quase que colado com ela, tomou as chaves da mão da moça e trancou a porta como se já tivesse intimidade o suficiente para tal ato. Ela subiu os degraus na frente e abriu a porta da sua casa.

Jacob entrou logo atrás e foi no momento que parou para observar a decoração da casa que se afastou de Taylor. A casa era pequena e sempre em tons nudes e minimalista, Taylor vivia com poucas coisas. Uma lareira e um sofá no centro, uma cozinha vazia a direita perto de um banheiro comum e no outro lado esquerdo frente ao canal um quarto com uma grande cama no meio e um armário no oposto da janela. Não tinha detalhes que entregavam uma característica emocional ou pessoal de Taylor e aquilo intrigou o rapaz, que sempre resultava em querer ainda mais ela. Sua carne.

Enquanto Jacobolhava a casa. Taylor andou até seu quarto e lá ficou por um tempo. Jacob foi atrás, entrou no quarto e assistiu Taylor tirar o casaco que a aquecia. O rapaz que estava encostada na porta observando-a, veio na sua direção e Taylor respirou fundo.


— Você parece querer tantas coisas, mas não diz. — Taylor. — Diga algo.

— Eu quero que você não diga nada.


Jacob a pegou pelo pescoço e a beijou. A moça era alta, mas não tanto quanto Jacob, que tabem era musculoso. Com a mão no pescoço e os dedos na mandíbula da moça, o rapaz conseguiu fazer com que ela chegasse na altura de sua boca, mesmo sabendo que não era confortável a ela. A beijava com muito prazer, a desejava incessantemente. Tocou os seios e cintura enquanto matinha seus lábios selados. Aproximou o corpo da moça ainda mais no seu.

Taylor vestia uma blusa preta lisa, mangas cumpridas e com uma gola justa no seu pescoço. Ela gostava daquela blusa, mas era a última noite que a usava. Jacob a jogou na cama e sentado por cima da moça, mantendo as pernas imóveis, analisou a blusa e achou o melhor jeito de rasgá-la fazendo com que os seios pulassem na sua frente.

Estava faminto como um animal selvagem. Não encontrara uma como aquela na América e após aquela noite não encontraria, então, inconscientemente buscou aproveitar. Lambeu os mamilos da moça que o olhava com as mãos atadas, pois Jacob segurava com força pelos punhos. Com o bico do mamilo na boca, Taylor vidrou seu olhar no teto e ouvia os sons que Jacob fazia ao provar seu corpo, às vezes, desviava da parede para olhá-lo.

 A moça gemia com os dedos fortes de Jacob que tirou a roupa do próprio corpo e a calça que separava ali a vontade voraz do jovem com seu futuro promissor. A calcinha voou pelo quarto e Taylor enxergou Jacob por cima. O rapaz penetrou-a e arrancou de Taylor gemidos no momento que montou no rapaz que a controlava pela cintura. Foi tão rápido.


II

Taylor despertou no dia seguinte com o vento vindo do Norte que invadiu sua janela deixada aberta na noite anterior. Seus seios expostos tomado por uma frente fria não a incomodava, ficou arrepiada. Amanheceu preguiçosa e se sentou na cama para amarrar seus cabelos em um rabo-de-cavalo, engatilhou até a ponta da cama e recolheu as peças de roupa e utensílios do chão. Foi até a casa e lavou a faca suja que estava apoiada na mesa.

Tomou banho, esfregou com força sua pele vermelho-sujo e lavou seus cabelos. Colocou sua roupa, tão igual quanto as outras e saiu de casa no horário que o sol costuma brilhar no inverno dinamarquês. Acendeu um cigarro do maço achado no casaco usado da noite anterior, viu uma pequena sujeira na manga, limpou e caminhou pelas ruas.

O canal era tranquilo. Os trabalhadores moviam os barcos, jogavam conversa fora e os turistas tiravam selfies, observava por pouco tempo a paisagem que o canal ali atraia e logo seguiam o roteiro turístico. Foi quando Taylor parou de acompanhá-los e desceu a escadaria da taverna que a serviu com um café gelado, provavelmente do dia anterior.

Sentou-se onde costumava sentar, na última cadeira do balcão e bebericou o café ruim, estava forte e aguado. Nem o cigarro ajudava no gosto amargo, quase ferro. Diferente dos outros dias, a taverna estava agitada, discussão em voz alta. Uma mulher conversava com o dono aos gritos, Taylor não entendia a razão e não ousou perguntar.

Pouco tempo ali sentada ouviu:


— Eu verifiquei diversas vezes, a última vez que ele passou o cartão foi aqui e ele não voltou para o hotel noite passada. Vocês não podem ter esquecido ele, não veem pessoas como ele todos os dias para se confundir...

— Senhora, aqui também recebemos turistas.

— Ele é branco, alto, tem barba... é americano! Seu nome é Jacob. Ele esteve aqui!


Taylor não demostrou preocupação ou sequer conhecimento do assunto. Assistiu a distância a situação sem modificar a expressão dura do seu rosto. O garçom aproximou da loura e sorriu:


— Se divertiu ontem à noite?


Ela o olhou e viu o sorriso estampado no rosto. Ele apoiou os cotovelos no balcão próximo a Taylor e fitou-a com atenção.


— Apenas no final... — Ela finalmente responde.

— Essa moça... — Ele disfarça para apontar. — Está procurando aquele americano que estava aqui noite passada. Nós não o vimos.


Taylor aproximou do garçom e sorriu, seus lábios estavam limpos. Bebericou o último gole do café e entregou o copo a ele. Sem dizer nada, passou pela moça histérica e saiu da taverna com a luz do sol ainda presente. Acendeu outro cigarro, soltou a fumaça com um pequeno sorriso nos lábios. Os outros estabelecimentos em sua volta ainda estavam fechados, traçou o mesmo caminho para voltar ao canal. Lá, alguns barcos já tinham partido para outra jornada. Em um pedaço de madeira, Taylor apoiou o pé e olhou para água que devolveu seu reflexo.

Movia-se com o vento, mas ela enxergava além do reflexo. Terminou seu cigarro e entrou para dentro de casa para limpar o que tinha ficado sujo. Nas quartas-feiras era o dia da coleta de lixo e decidiu juntar de sua casa. Pegou sua blusa preta rasgada e colocou dentro de um saco junto a outras peças de roupa que não a pertenciam e a roupa de cama suja. Colocou tudo dentro do saco junto a pedaços de madeira e uma pasta grossa, enorme, uma pasta informe de carne e sangue. Jogando o que sobrou do descarte da madrugada. Descartou tudo. Um pouco no saco. O restante há havia descartado na noite anterior.

Enquanto fazia seu serviço, cantarolava baixinho uma música que ouvira outro dia no rádio. Tinha algumas notas de piano, lembrava de um pequeno trecho da canção que era fly me to the moon.

Ao levar o lixo até o local de dispensa, sorriu vitoriosa e disse com desdém:


— Americanos...


(***)

Olá! Quanto tempo, não!?

Se ter alguém por aqui, espero que tenha gostado desse conto. Para ser honesta, ele é meu conto favorito já escrito. Foi algo experimental, mas com muito estudo de contos de horror e obtive um resultado que gostei bastante. É um conto original que apenas adaptei a fanfic, enfim, espero que tenham gostado.

Se você leu e ainda está por aqui na plataforma, espero que comente para que eu volte a postar outros conteúdos que tenho guardado. Dei uma breve atualizada na página acervo sobre os conteúdos que tenho desenvolvido ao longo dos últimos dois anos longe daqui e tenho a pretensão de voltar a postar.

Abraços, Mirela <3

2 comentários:

  1. Oi, Mirela!
    Eu te sigo no Twitter, não tenho Instagram, só Facebook e Twitter.

    Sobre o conto, eu penso já ter lido com a Demi e o Joe, ou não? Tem algumas mudanças, preferi essa versão.

    Posta mais contos assim :) Gostei muito!

    Até breve!

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Silvia. Ah, que bom que já temos outro lugar de contato, quem sabe conversamos mais sobre nossas histórias, mas não me recordo de ver muitos tweets seus haha.

      Sim, eu já tinha postado uma versão desse conto, mas reescrevi o final porque não tinha me deixado satisfeita a primeira versão. Na verdade, irei postar em breve outras duas histórias reescritas, então, se caso já tenha lido, não estrague hahaha.
      Até mais,
      Mirela.

      Excluir

LAYOUT E CODIFICAÇÃO POR ROH A. RAMOS DO BLOG | GNMH © 2017 - 2018