O crime da Delancey Street | 03° Capítulo.


A campainha tocou e Abel mordeu a maçã que comia a caminho da porta, Selena sentou-se no sofá, após Abel convidá-la para acompanhar a reunião que marcara de última hora. Ao abrir a porta, era Milles Woods, o advogado do sr. Tesfaye.


— Pode entrar, por favor. — disse Abel.

— Bom dia. — disse o advogado de forma educada.


Sentou-se numa poltrona em frente ao sofá que Selena já havia ocupado, após fechar a porta, Abel se sentou ao lado de Selena e terminou de comer sua maçã sem nenhuma pressa, enquanto os outros aguardavam em silêncio.


— Bom... — iniciou o advogado com um sorriso. —  Você marcou comigo hoje para falar sobre o testamento. Sobre o que gostaria de falar?

— Passaram alguns dias e eu pude pensar com mais clareza sobre a nossa última conversa quando você leu o testamento do meu pai. — Abel respondeu. — Não sei outra maneira de ser mais claro com você do que perguntar como foi que isso aconteceu e como eu faço para anular esse testamento que beira o ridículo. — Abel riu de nervoso. — Ninguém conhece nenhum Phillip Hart, este homem até hoje não deu as caras para quem herdou tudo o que meu pai deixou.

— Entendo que esteja estressado, mas não sou eu que devo essa resposta. — o advogado respondeu. — Apenas posso te dizer que seu pai estava em bom estado mental quando decidiu fazer o seu testamento.

— Quem é Phillip Hart? — Abel insistiu.

— Phillip Hart... Phillip Hart, segundo seu falecido pai, era um amigo íntimo. — O advogado contou contrariado. — Somente isso que eu sei, na verdade, somente a vontade do seu pai já me bastava para fazer o que ele tinha vontade, Abel, espero que compreenda as minhas funções. — o advogado levantou-se. — Não há muito o que dizer para vocês, isso é tudo que posso dizer.

— Você conheceu este homem? — Abel. — Ele se apresentou quando meu pai...

— O que quis dizer sobre ele ser um amigo íntimo do sr. Tesfaye? — Selena questionou.

— Como? — o advogado olhou-a com mais atenção.

— Você disse que eram amigos íntimos... o que quer dizer com isso? — insistiu.

— Que eram amigos próximos, creio que era isso o que quis dizer. — ele respondeu. — Não ficarei para mais perguntas porque minha função porque aqui acabou, preciso ir embora porque tenho uma reunião importante em menos de uma hora.

— Antes de ir... — Abel o seguiu até a porta. — Você não respondeu minha outra pergunta, como faço para anular este testamento?! Deve ter uma maneira, certo?

O advogado suspirou e abriu a porta.

— Se eu responder essa pergunta, haverá conflito de interesse. — respondeu. — Agora, eu atendo os interesses de Phillip Hart.

— Como é? — Abel pareceu chocado.


O advogado desceu os poucos degraus, entrou em seu carro e deu partida. Simplesmente decidiu partir após deixar essa bomba no colo de Abel Tesfaye que nada herdou. Abel fechou a porta e passou a mão em sua barba, tentava não parecer tão nervoso quanto realmente estava com aquela informação.


— Até o advogado do meu pai... — disse chocado. — Selena, eu não tenho nada!

— Abel, acalma-se, por favor. Ele tem que aparecer para reivindicar tudo que o pertence e nós o conheceremos.

— Preciso agir antes disso. — Abel pegou um papel na mesa de centro. — Está aqui o que herdei: minha poupança da minha faculdade, somente isso e nada mais. O que ele herdou: 100 mil dólares, a casa e um carro. O dinheiro da minha poupança nem posso tocar por ser pagamento direto. Meu pai não me deixou nada mesmo depois de tudo que aconteceu com minha mãe... ele simplesmente... nem teve a coragem de me contar... — Abel riu sozinho. — Era isso que ele queria, ver-me desesperado. — balançou a cabeça e continua a gargalhar nervoso. — Não ficará assim! Não aceitarei isso tão fácil!

— O que pretende fazer? — Selena perguntou preocupada.

— Primeiro, peço que saia, por favor, pois quero ficar sozinho para pensar. — Abel endureceu com Selena. — Preciso ficar sozinho.

— Abel...

— Selena, por favor, preciso de espaço nesse momento.


Chateada, Selena concordou e se despediu do amigo que mudou de comportamento em minutos — tal atitude que a preocupava bastante. Aquele Abel, não agradava a Selena nem um pouco, nunca a agradou. Ele mudava completamente, ela era incapaz de reconhecê-lo, apesar de saber que o seu amigo estava ali por de trás dessa armadura cheia de arrogância e maldade. E, honestamente, tentava não o julgar neste momento.

Saiu da casa da família Tesfaye e atravessou a rua cabisbaixa, encolhida no seu casaco e pensando nas maneiras que poderia ajudar seu amigo. Em seus livros, Agatha Christie sempre falava de sinais, Miss Marple sentia e enxergava sinais, percebia pistas... conseguia farejar as mentiras e encontrava as evidências onde ninguém conseguia.

E ela não tinha nada, não conseguia nada.

Entrou em sua casa e ouviu seu pai no outro cômodo no telefone, ouviu ele dizer “pode me ligar quando conseguir mais informações”. Selena o aguardou desligar o telefone e o abraçou. Ao receber sua filha em seus braços, questionou:


— Querida, aconteceu alguma coisa? Está tudo bem?

— Está tudo bem. — apertou ainda mais seu pai. — Apenas Abel que está chateado com tudo que anda acontecendo...

— Ainda não aceitou o que aconteceu, não é? — disse empático. — É difícil se recuperar de um golpe desse. Ainda mais, neste caso, quando não esperava.


Selena afastou-se do seu pai após receber um beijo em sua testa. Foi até a cozinha e serviu para si e seu pai duas xícaras de café que parecia fresco daquela manhã.


— Falava com quem no telefone? — Selena perguntou curiosa.

— Com o Edward Collin, o dono da loja de suprimentos da esquina. — respondeu. — Não quero que comente com ninguém, mas pedi para que checasse as câmeras de segurança de sua loja e dos comerciantes próximos para ver que conseguimos uma informação sobre o ladrão que entrou na casa do sr. Tesfaye naquela noite.

— Isso foi uma boa ideia, papai. — Selena abriu um sorriso.

— Eu sei, querida. Pensei muito no que você disse ontem e achei melhor tentar alguma informação importante. — respondeu acariciando o rosto de sua filha. — Faço de tudo para poder ver esse sorriso.


***

Os dias passaram lentamente e Selena buscava saber de seu amigo pela janela de seu quarto olhando para o outro lado da rua, mas as cortinas se mantinham fechadas. Desde a visita do advogado, Milles Woods, quando Abel pediu para que Selena o deixasse sozinho, ela não soube mais dele.

Já havia mandado mensagens inúmeras vezes, mas em algum momento ele parou de visualizá-las, as repetidas mensagens já caiam diretamente na caixa postal. Só de pensar em ser tratada com ignorância, ou até mesmo quando Abel tratava-a com indiferença, Selena decidiu não arriscar em procurá-lo pessoalmente neste momento.

Mas sabia, ao observá-lo de sua janela, que não estava sozinho. Nas últimas duas noites tinha uma companhia feminina de quem Selena já conhecera de outras épocas. O sentimento de nostalgia que sempre paira no ar quando Abel volta para casa, mas não é um sentimento que Selena nutre com tanta positividade.

Evitava dar tanta ênfase para isso.

Importava-se mais com o que poderia fazer para quando procurasse por Abel, tivesse razões para que ele atendesse. É quando a busca que seu pai disse que faria veio a calhar com a sua missão secreta.

Talvez a Selena realmente não tivesse aquele arrepio por solucionar mistério que Hercule Poirot tanto cita durante suas aventures policiais, mas ela tinha algo que ele não possuía: a internet. Selena estava determinada a achar quem era Phillip Hart, mesmo que suas ações, para terceiros, beirasse a perseguição. Se Phillip Hart existe, Selena decidiu que o acharia.

E nos últimos dias esteve trabalhando nesse plano. O primeiro passo era vasculhar as redes sociais com esse nome, mas somente em Nova York existia muitos Phillips Harts, mas em todas as redes sociais que entrou com esse nome, nenhum parecia com aquele homem que viu no cemitério. Tentava lembrar os traços, alguns detalhes... tinha olhos azuis? Parecia que sim, não poderia afirmar... os cabelos eram loiros, disso tinha certeza. Ele a olhou. Para um bom mistério, esse personagem precisa ser visto. Ele quer ser visto e Selena o viu. O problema é que Selena não o achou.

Mas navegando pelas redes sociais e cruzando com singelas e hipócritas homenagens que seus vizinhos prestaram ao falecido vizinho, Selena teve outra ideia e essa resultou em algo. Quando perdeu seu avô, Selena sempre visita o cemitério com sua mãe no dia que comemorava aniversario e, ao chegar no cemitério, observava que sua mãe assinava na recepção a visita e as flores que comprava. E para herdar tão herança, Phillip Hart tinha que ser, no mínimo, demostrar algum afeto.

Foi sozinha ao cemitério e no caminho comprou um pequeno buquê de flores para a memória do seu vizinho, sr. Tesfaye. Ao chegar na recepção, fez como sua mãe fazia e ao ter acesso ao livro de visitas, passou os olhos rapidamente nos nomes registrados e voilá, achou o Phillip Hart, quem entregou flores às terças-feiras.

E era terça-feira, Selena aguardava a chegada de Phillip Hart. Com sua mente avoada, Selena tinha descoberto algo real e estava empolgada para a resolução do que aconteceria. Sentou-se em uma das cadeiras na recepção, baixou a cabeça e começou a mexer no seu celular de uma maneira estratégica. Quer ver tudo a sua volta, mas não queria ser vista.

As horas foram se passando, a bateria do seu celular acabando, sua mãe mandando mensagens em sua busca. Foi no fim da tarde, Selena já distraída com a televisão ao alto que transmitia um episódio popular de um seriado antigo que Selena adorava quando adolescente. Estava entretida, até ouvir o nome do sr. Tesfaye, seus olhos cruzaram com daquele homem.

De fato, tinha olhos azuis. Era alto – tinha pernas cumpridas, magro e grisalho. Olhou para Selena e suspirou, deu a entender que já a conhecia, porém ela não poderia dizer o mesmo. Ficou estagnado com duas rosas na mão e esperou que ela tomasse uma atitude.


— Você é Phillip Hart! — Selena afirmou com convicção.

— Sim, sou eu. — afirmou apático.

— Você é o herdeiro do sr. Tesfaye. — afirmou mais uma vez com convicção.

— Sim, sou eu. — repetiu com um suspiro cansado. — Falará algo além de fatos?

— Já se passou semanas e você nunca apareceu para reivindicar o que é seu.

— Mocinha, conheço bem sua fama. — sorriu malicioso. — Não há nada para você nesta história e eu não lhe devo satisfações.

— Deve ao Abel. — Selena respondeu levantando seu queixo na tentativa de parecer mais alta. — E muitas explicações.

— Então, diga-me, Selena, cadê Abel Tesfaye que tanto está interessado nesta história.

— Como você meu nome? — indagou.

— Oras, era vizinha de Makkonen. — riu com a pergunta. — Lembro-me de você.

— Eu nunca te vi em lugar algum. Se te visse, lembraria. — afirmou.

— O que quer dizer com isso?

— Estranho você herdar tudo quando nunca foi visto pela vizinhança e não se apresentou ao filho da pessoa que te entregou tudo.

— Essa história está afetando sua mente, mocinha. — Ele sorriu. — Makkonen tinha razão quando dizia que, além de avoada, você conseguia ser muito curiosa.

— Você o chama de Makkonen para tentar se tornar íntimo. Conheço Abel desde pequena e o Sr. Tesfaye também. — garantiu com confiança. — Ele era um homem que exigia respeito demais para ser chamado no primeiro nome.


Ele balançou os ombros em sinal de pouco caso com as afirmações de Selena, passou por ela como quem passasse por uma criança perdida buscando o responsável. Selena o seguiu pelo cemitério, dizia que ainda tinha perguntas, mas ele a ignorava e caminhava sem pressa rumo ao túmulo do falecido.


— Acho que tem coisa nesta história que você não me conta. — Selena.

— Diga-me onde está Abel. — ele riu. — Essa é a pergunta que você deveria fazer, pois você está aqui e ele está onde? Sabe dizer? Creio que não. — ele olhou fixamente para Selena. — Pela última vez, cuide de sua vida. Para quem alega tanto conhecer a família, pouco sabe sobre seu melhor amigo.

— Não fale de...

— Falo de Abel, pois conhecia Makkonen, o pai dele. Conhecia-o também, muito bem.

— Ele não te conhece, na verdade, quer te conhecer.

— E ele conhecerá, mas quando eu quiser. Até lá, Selena, pare de mexer com quem não conhece. Pode ser perigoso vasculhar uma história como essa.


Phillip Hart tinha atitude e soube paralisar Selena ali mesmo, mas porque Selena prestava atenção em cada palavra dita por ele e ele disse que existe uma história. Uma história.

Aquilo era ouro, ela tinha uma informação. Ela tinha a pontinha do que se tornaria a mistério de sua vida. Ela aproveitaria a todo custo para saber mais.

Voltaria para casa com essa informação em suas mãos. Já estava tarde, perdera o jantar em família – bolonhesa de sua mãe servida todas as terças-feiras, mas foi por um bom motivo e seu pai entenderia a razão quando decidisse compartilhar.

O ponto de ônibus era na esquina de sua casa e quando caminhava reparou grande movimentação de pessoas e carros, aproximou-se mais e ficou luzes e flashs em frente a sua casa. Sem entender nada, Selena acelerou seus passos e seus pais estavam em frente à porta de entrada olhando para a movimentação na casa do sr. Tesfaye.


— Selena, estávamos te ligando. — sua mãe alisou o rosto preocupada.

— O que está acontecendo? — perguntou perdida com tantas informações.

— Abel chamou a polícia e a mídia, ele disse que contratou um detetive particular que revelou que o sr. Tesfaye não morreu de velhice, mas sim assassinado!

[CONTINUA]

5 comentários:

  1. adorei o capitulo. quero saber os proximos passos da selena agora que a teoria dela tava certa. posta logo!

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    1. Fico feliz que tenha gostado. Logo, logo vou postar mais um.

      Beijos, Mirela.

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  2. Oi, Mirela!
    Eu estou com uma ideia meio louca na cabeça de que foi o próprio Abel quem matou o pai, mas vou esperar para ver.

    Posta logo!

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    1. Olá, Silvia. Qualquer comentário que posso fazer aqui, pode ser um spoiler. Vamos ver o próximo capítulo.

      Beijos, Mirela.

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    2. Oi, Mirela!
      Viu o rumor de que a Taylor está namorando o Matty Healy dos The 1975?
      A minha timeline lá no Twitter está explodindo haha! Só tem notícia deles juntos, ele indo no show dela, se apresentando com a Phoebe.
      Eu sou fã dos The 1975 e admiro a Taylor (mas não faço parte do fandom), mas nunca imaginaria ela com ele. Eu vi aquela época lá de 2015/2016 onde eles supostamente estavam saindo e eu achei meio estranho. Parecem duas pessoas totalmente diferentes. Nunca nem vi fanfic deles juntos todos esses anos haha!

      O que acha? Se eles estiverem juntos, acho meio estranho, acreditando que fazem meses desde que ela terminou com o Joe. Acho esse casal muito improvável, demoraria bastante para assimilar essa nova relação, mas o mundo artístico explodiria, isso é fato.

      E posta logo, estou curiosa!

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