15 de novembro de 2025

The Swift’s Christmas Trees | 04° Capítulo.

04° Capítulo – “Sob as luzes”

O sol da tarde filtrava-se pelas frestas do velho celeiro, riscando o ar em finos feixes dourados – fazer as pazes com Thomas fez com que a neve aliviasse o ar daquele lugar. No quintal, a neve derramada ainda era pesada, mas o sol fletia no branco da neve que brilhava aos olhos de Taylor.

Ela saiu às pressas do celeiro após responder algo que soava ambíguo – na verdade, ela era incapaz de dizer o que queria. Thomas empurrou a porta do celeiro e correu até alcançada próximo a cerca do final da propriedade.

— Para onde está indo? — ele gritou tentando alcançá-la.

— Irei pegar uma árvore... para o natal. — respondeu, um pouco tímida.

— Vocês ainda não têm uma árvore de natal... — Thomas pensara, recordando-se da decoração da casa. — Nossa... — ele riu. — isso é irônico.

Ele aproximou-se dela e, num ato de ousadia, tirou um floco de neve que caiu em seu cabelo, Taylor não recuou, mas estremeceu-se ao sentir os dedos de Thomas tocando em sua pele. Fitou-a, sem conseguir desviar o olhar. O mundo inteiro parecia caber naquele instante. O toque dele na pele dela endureceu e, ao mesmo tempo, suavizou — uma contradição viva entre o desejo e o medo.

— Taylor... — ele sussurrou.

— Não faça nada estupido. — Taylor interrompeu-o e se afastou.

— Eu... eu não vou. — ele respondeu inclinando-se para o lado. — mas eu posso te acompanhar?

— É claro. A fazenda é sua, você poderá ter a experiência de escolher e recolher a sua primeira árvore de natal.

— E para onde estamos indo?

— Para o bosque, é logo atrás da cerca. Alguns pinheiros crescem ali há anos. Meu pai sempre trazia uma do bosque. Era uma tradição e minha mãe me pediu para continuarmos.

Ele sorriu e lado a lado, sem saber exatamente o que aquele momento significava — mas sentindo que algo havia mudado — saíram em direção ao bosque, enquanto o sol tímido aparecia entre as nuvens, iluminando a neve como prata.

O silêncio entre eles acompanhou os primeiros passos na neve. O ar frio mordia a pele, mas havia algo quente demais entre os dois que neutralizava parte do inverno ao redor. Taylor ajeitou o cachecol, tentando disfarçar o rubor que insistia em colorir suas bochechas desde o toque dele.

Thomas caminhava ao seu lado sem pressa, atento a ela de um modo novo — como se estivesse com receio de cruzar uma linha invisível.

Quando chegaram à cerca, Taylor ergueu a saia grossa do casaco cumprido para passar por baixo do arame. Thomas segurou a madeira acima dela para facilitar, e sua mão roçou de leve no ombro dela ao ajudá-la a passar. O toque foi curto, mas o suficiente para fazê-la prender o fôlego.

Do outro lado, o bosque se estendia em uma colina suave, pontilhado de pinheiros altos. A luz baixa do sol atravessava as agulhas verdes e criava reflexos sobre a neve. O cenário era simples, mas carregava algo de sagrado — o tipo de lugar onde o tempo parecia abrandar.

— Eu gosto daqui. — Thomas disse, num tom que mais parecia um pensamento escapado.

Taylor sorriu, mas não respondeu. Caminhou um pouco à frente e tocou um tronco de pinheiro, sentindo a casca rugosa sob os dedos. Thomas observava-a como se tentasse decifrar o que se passava por detrás daquele silêncio.

— É estranho, Taylor. — ele começou, finalmente quebrando o ar quieto entre eles. — Poucas horas atrás eu estava pronto para ir embora da fazenda. Agora… — seu olhar pousou nela, firme, mas sem arrogância. — Agora eu não consigo imaginar ir sem consertar as coisas com você.

— Eu sei que errei, mas eu também quero consertar as coisas.

— Você estava com medo. — Thomas disse, dando um passo mais perto dela. — E quando as pessoas têm medo, elas se defendem. A diferença é que você… — ele ergueu a mão, hesitante, mas não tocou. — Você voltou atrás.

Taylor engoliu em seco. Algo latejava no ar — uma mistura de vulnerabilidade e atração que parecia expandir espaço entre eles, mesmo enquanto reduzia a distância física.

— Não é só isso, Thomas. — ela confessou num sussurro. — Eu… eu não sei lidar com você. Com o que sinto perto de você. E isso me assusta.

A respiração dele congelou no ar, visível.

— Eu também tenho medo. — ele admitiu, sem rodeios. — Medo de te pressionar. De ultrapassar limites. De estragar tudo antes mesmo de sabermos o que isso é.

Dessa vez ele tocou a mão dela — devagar, oferecendo espaço para ela recuar se quisesse.

Taylor não recuou.

Seu toque era quente, firme e cuidadoso. A mão dele entrelaçou seus dedos como se já conhecesse aquele lugar. Taylor sentiu a pele vibrar, e seus olhos se encontraram.

— Thomas… — ela sussurrou, com a voz falhando. — Eu não sei se posso confiar totalmente em você ainda… mas quero tentar.

O olhar dele suavizou, e a dor contida ali — a do abandono, das perdas, da incerteza — brilhou por um instante.

— Então eu vou te dar tempo. — ele respondeu. — Todo o tempo do mundo. Mas me deixa… só por hoje… ficar perto de você.

Taylor assentiu. Um gesto pequeno, mas que pareceu abalar o chão que pisavam.

Ele inclinou-se um pouco, buscando nela algum sinal. Taylor sentiu a respiração dele tocar sua pele — quente contra o frio do ar. Ela fechou os olhos por um instante, a mão dele ainda entrelaçada à sua, como se aquele toque fosse o único ponto de apoio no mundo.

Quando abriu os olhos, Thomas estava perto o suficiente para que ela visse o reflexo da neve em seus irises. E então, finalmente, ela deu o passo que faltava. Leve, hesitante, mas real.

Thomas inspirou imediatamente, como se aquele gesto tivesse atravessado todas as defesas dele. Ele ergueu a outra mão e tocou a lateral do rosto dela — quente, firme e incrivelmente gentil. E foi assim que os lábios se encontraram.

O beijo foi suave, quase tímido, um cuidado exagerado como se ambos temessem quebrar algo precioso. Thomas inclinou-se devagar, moldando o beijo ao ritmo dela, deixando que fosse Taylor quem decidisse a profundidade, o tempo, a entrega.

Quando se afastaram, respirando rápido, a testa dele tocou a dela.

— Taylor… — ele murmurou, a voz rouca de emoção. — Se você mudar de ideia, eu paro. Só diga.

Ela não respondeu com palavras, ao invés disso, segurou o casaco dele e puxou-o para perto — mais perto, e os lábios se encontraram novamente.

O segundo beijo veio mais intenso, mais urgente, carregado da verdade que nenhum dos dois ousara dizer em voz alta. Thomas a envolveu com os braços, mantendo a força medida para não a assustar. Taylor sentiu o calor dele contra o frio da tarde, o cheiro leve de madeira e neve, o peso das emoções contidas desmoronando entre eles.

Era um beijo em que ela dizia: “eu confio um pouco, mas quero confiar mais” e ele respondia, com seus lábios que mereceria sua confiança.

Quando se afastaram, finalmente, a respiração dos dois saía em nuvens rápidas no ar gelado. Taylor encostou a cabeça no peito dele por um instante, tentando acalmar o coração descompassado; Thomas passou a mão nos cabelos dela, devagar.

Ele olhava a paisagem por cima dela, ainda ofegante e com o coração acelerado. Tentava se recompor junto com ela, ainda deitada em seu peito.

— Posso… escolher a árvore com você agora? — ele perguntou num sussurro, num tom leve, quase rindo da própria vulnerabilidade.

Taylor ergueu o rosto, sorrindo pela primeira vez daquele jeito desde que ele chegara à fazenda.

— Vamos. — respondeu.

E juntos, de mãos entrelaçadas, caminharam mais fundo no bosque, enquanto a luz dourada do final da tarde os envolvia como se o próprio inverno estivesse segurando a respiração por eles.

O bosque se estendia silencioso, o chão repleto de neve macia que rangia sob as botas. O ar gelado ainda parecia tingido do calor do que acontecera entre eles poucos minutos antes. Thomas caminhava ao lado de Taylor sem soltar sua mão — e ela, pela primeira vez, não pareceu procurar uma desculpa para retirar a dela.

— Aqui. — ela disse, apontando para um grupo de pinheiros menores, de troncos mais finos. — Normalmente escolhemos entre esses. São mais jovens, crescidos naturalmente sem atrapalhar o restante das árvores.

Thomas aproximou-se da primeira, examinou-a com o olhar criterioso de quem estava tentando entender o que ela viu ali.

— Esse está… torto. — declarou, inclinando a cabeça.

Taylor riu, uma risada curta, mas sincera.

— Meu pai sempre dizia que as árvores tortas tinham mais história.

— E sua mãe? — Thomas indagou.

— Que as tortas ocupavam mais espaço no canto da sala. — ela respondeu, sorrindo. — Então escolhíamos uma reta.

Então, virando-se de lado, ela tocou uma árvore de tamanho perfeito — um pinheiro simétrico, mas com um galho superior que se inclinava levemente para o leste. Não torto, só… normal.

— Essa. — ela disse. — Minha mãe vai gostar. E… eu também.

Thomas caminhou até lá, examinou-a e não discutiu. Ao invés disso, olhou para Taylor com um olhar que dizia mais do que qualquer comentário: "Se você gosta, eu também gosto”. Ela desviou os olhos, tímida.

Thomas removeu as luvas, apoiou as mãos no tronco e, após alguns movimentos calculados, conseguiu desprender a base com a serra pequena que trouxera da fazenda.

— Pronto. — ele disse, tirando a neve que caíra sobre o casaco.

Taylor aproximou-se, segurando o tronco enquanto Thomas ajustava o peso nos ombros.

— Eu posso ajudar. — ela disse.

— Ajuda muito se você segurar essa parte de cima. — ele respondeu, entregando-lhe o topo da árvore.

E foi assim: caminhando lado a lado, ela à frente segurando o topo delicado, ele atrás carregando o peso maior. A árvore balançava de leve entre eles, e a sensação era… íntima. Doméstica. Quase um retrato de uma vida que não existia — mas podia existir.

Ao chegarem de volta à fazenda, Taylor colocou a árvore num canto próximo à lareira para descongelar. Thomas tirou o casaco, o rosto ainda avermelhado pelo frio.

Andrea observou com um olhar que misturava surpresa e alegria contida.

— Vejo que você não foi embora... e que trouxeram uma bela árvore. — observou-a.

— Não, não hoje, sra. Andrea. — Thomas respondeu, olhou para Taylor. — Nós conversamos e decidimos que eu ficaria... pelo menos, até a nevasca cessar de vez.

— Fico feliz que tenham se resolvido. — respondeu. — E chegaram bem na hora, fiz o jantar essa noite. Coisa simples, uma sopa de legumes.

— Mamãe... — Taylor chamou sua atenção. — Não precisa fazer tanto esforço.

— Querida, posso não ter a mesma energia de antigamente, mas ainda posso fazer coisas e te ajudar a cuidar da nossa casa. — ela respondeu firme. — E eu sei que gosta da minha comida.

Taylor assentiu, elas se abraçaram, enquanto Thomas ajudava a pôr a mesa.

Durante o jantar — simples, mas quente. Andrea falou sobre memórias antigas dos natais na fazenda. Thomas ouvia com atenção, fazendo perguntas gentis. Taylor apenas observava, percebendo como a presença dele preenchia a casa de um modo que ela desconhecia há meses.

Andrea então limpou os lábios com o guardanapo de pano e comentou:

— Ah, antes que eu me esqueça… enquanto estavam no bosque, eu fui procurar as caixas de decoração do Natal no escritório de seu pai. — ela sorriu. — Quero que continuemos nossas tradições, mesmo que este ano tenha começado meio atribulado.

Taylor arqueou uma sobrancelha, surpresa.

— Você foi até lá sozinha?

— Ora, minha filha, eu sempre vou lá quando estou com saudades do seu pai. — ela riu baixinho. — Trouxe as caixas para cá mais cedo. Só falta a sua ajuda para separar as luzes.

Taylor sorriu, mas percebeu que a mãe ainda não tinha terminado o assunto. Andrea respirou fundo e apoiou as mãos sobre a mesa.

— Também encontrei a árvore de memórias da família.

Thomas levantou o olhar, curioso.

— A árvore de quê?

— A árvore de memórias. — Andrea explicou, com carinho na voz. — É uma tradição da nossa família desde os avós dela. Todos os anos penduramos pequenas fotos reveladas: de viagens, aniversários, pessoas queridas… e de momentos importantes aqui da fazenda.

Taylor inclinou-se na cadeira, o coração apertando por saudade.

— Eu achei várias fotos antigas numa caixa do seu pai. Algumas eram minhas e dele… outras suas… e algumas outras que eu nem lembrava que existiam. — Andrea continuou.

Andrea hesitou — como quem seleciona palavras com cuidado. Por fim, sorriu dizendo:

— Thomas, essa é para você. — entregou-o uma foto. — Fique com ela.

Ele admirou a foto, com uma expressão serena – havia tristeza, mas ficou feliz em ver Scott outra vez, mesmo que por foto. Taylor inclinou-se para ver a foto, Thomas percebeu e entregou-lhe. Taylor ficou estagnada observando cada detalhe da fotografia: era Scott e Thomas, abraçados um ao outro no quintal. Pela paisagem, parecia outono e Scott e Thomas carregavam um machado. Seu pai sorria junto ao Thomas.

E ali, naquele momento, Taylor percebeu que seu inimigo e sua desconfiança não passavam de um fantasma. Algo mudou naquele momento, ela sentiu seu coração reorganizar dentro dela.

— Seu pai era… uma das poucas pessoas em quem eu confiava. Ele me ajudou muito, e ele sabia disso.

Taylor abaixou os olhos, sentindo uma onda quente de vergonha — pelas suspeitas, pelo medo. Por tudo

Andrea segurou a mão da filha sobre a mesa.

— Tem mais fotos, estão ali na mesa da sala… se quiser ver depois. — disse, olhando para os dois com gentileza. — Acho que vão iluminar algumas coisas para você.

E entre uma troca de assunto ou foto, os olhares aconteceram. O primeiro foi rápido: ela erguendo os olhos e pegando-o observando seus movimentos. Depois um mais longo: ele segurando sua atenção um segundo a mais que o esperado. E, por fim, aquele que fez Taylor perder o ar: Thomas estava recolhendo as tigelas vazias quando desviou o olhar para ela, mas dessa vez não era amizade ou cordialidade. Era desejo e admiração. Era um tipo de vulnerabilidade que ele nunca deixava transparecer. Taylor desviou rapidamente, mas Andrea percebeu – e sorriu, discretamente. E se retirou do andar inferior.

Taylor permaneceu sentada à mesa mesmo depois que sua mãe saiu da cozinha. As fotografias estavam espalhadas à sua frente como pequenas janelas para um capítulo que ela nunca soubera que existia. Os dedos dela escorriam pelas bordas de uma foto em que Thomas aparecia de boné, segurando uma corda enquanto Scott sorria atrás dele.

O rapaz abaixou o olhar, quase tímido, como se estivesse diante de algo íntimo demais.

Taylor pegou uma das fotos com cuidado, os dedos tremendo levemente. A verdade estava ali, impressa, silenciosa. Incontestável.

Ela ergueu o olhar para Thomas. Ele não disse nada — não precisava. Seus olhos mostravam uma mistura de alívio, vulnerabilidade e medo. Tinha medo de como ela reagiria agora que finalmente via que ele não havia mentido.

Taylor respirou fundo, tentando organizar pensamentos que já não se deixavam organizar.
— Meu pai… — ela dizia, mas a voz falhou. — Ele confiava mesmo em você.

Thomas se sentou devagar na cadeira ao lado, respeitando o espaço dela.
— Ele… foi alguém importante para mim.

Taylor desviou o olhar das fotos e o encarou.

— Por que você nunca me contou? Por que nunca… falou disso antes?

Ele esfregou as mãos, nervoso.

— Eu tentei, mas eu não queria que parecesse que eu estava tentando usar isso pra te convencer de alguma coisa. Ou… me aproximar de um jeito desonesto. — respirou fundo. — E porque eu não sabia se você queria saber qualquer coisa vinda de mim.

Taylor segurou uma das fotos com mais força.
— Meu pai sempre viu o melhor nas pessoas. Se ele te trouxe pra perto, é porque havia algo…
Mas ela não terminou. Não sabia exatamente o que estava tentando dizer.

Thomas apoiou os antebraços na mesa, inclinando-se um pouco, mas ainda mantendo distância.
— Scott me ajudou numa época complicada. Eu estava… — ele soltou uma risada curta e amarga. — Eu estava prestes a me casar.

Taylor levantou os olhos com um sobressalto silencioso.

— E ela desistiu. — ele continuou, direto, sem adornos. — Ela me dizia... na verdade, todos me diziam que eu era sempre muito seco, que eu vivia focado no trabalho e em não perder tempo em não conquistar as coisas. E, em partes, estavam certos disso

Ele apoiou a mão na nuca, como quem revive um peso.

— Mas o problema não era só o trabalho. Eu era um problema... — ele suspirou. — Eu cresci com perdas, tinha medo em me apegar demais. Se quer saber, eu a amei de verdade, mas não totalmente. — ele relaxou na mesa, pensativo. — E, no fundo, eu já sabia que não éramos o certo um para o outro. Então, quando ela me largou, deixa-a ir.

Taylor não esperava aquela abertura. Aquela vulnerabilidade.

— E o que meu pai tem a ver com isso?

Thomas sorriu, pequeno, triste e bonito ao mesmo tempo.

— Ele foi o primeiro que me disse que… eu precisava aprender ser alguém, só o Tom. Eu não preciso ser o Thomas Hiddleston o tempo inteiro. Eu poderia ser vulnerável também.
Os olhos dele ficaram brilhantes, não de choro, mas de memória.
— Ele falava que não adiantava construir um futuro se eu não sabia cuidar do presente. Que às vezes o melhor trabalho que a gente faz é aprender a ficar. — respirou fundo. — Ele me dizia para estar perto da minha família, para não fugir das pessoas que importam.

Taylor sentiu algo apertar em seu peito — como saudade e gratidão misturadas.

Thomas olhou as fotos sobre a mesa.

— Eu vi a dedicação dele para a família e eu disse que faria o mesmo pelo que restou da minha e que seria alguém melhor. Ele me viu ser melhor. É por isso que sou grato por ele.

Taylor sorriu ao ouvir alguém falar do seu pai da mesma forma que ela o enxergava, mas ela indagou, com sinceridade:

— E sobre o dinheiro? Ele te pediu ajuda?

Thomas suspirou.

— Ele não pediu. Nunca pediu. — Passou a mão no cabelo, nervoso. — Mas eu quis ajudar.

— É muito dinheiro, Thomas... É muito dinheiro com minha mãe, com ele e a casa... — ela rira, sem graça. — E você me disse que não quer que eu pague, como você investe em uma família dessa forma sem querer nenhum retorno. Não é certo.

— Mas eu realmente não estou pedindo nada. — Ele fechou os olhos, tentando achar palavras para se explicar. — Veja bem, eu só pensei em ajudar a família que ele tanto amava.

O olhar dele subiu, prendeu-se ao dela.

— Eu não quero nada de você, Taylor. Nada que seja seu, nada que seja da sua família. O que eu quero agora… — ele respirou fundo, vulnerável. — é a chance de você me conhecer de verdade. Não o que você imaginou que eu fosse. Apenas como eu sou agora.

O silêncio entre eles mudou. Já não era mais tenso ou desconfiado, mas sim algo que buscava aproximação, de ambos os lados.

Taylor olhou para as fotos de novo — agora com olhos diferentes. Ela disse sim, de forma silenciosa.

A noite avançava devagar, como se o tempo hesitasse em seguir adiante enquanto os dois permaneciam na sala. A árvore recém-montada iluminava o ambiente com pequenas luzes âmbar, refletindo nos enfeites antigos e nas fotos penduradas em fios de barbante.

Taylor movia-se ao redor da árvore com uma delicadeza que Thomas nunca imaginou presenciar. Cada gesto dela parecia conter uma história — quando ela ergueu o braço para pendurar um enfeite de cerâmica, quando passou a mão pela ponta de um galho para ajeitar uma luz, quando prendeu uma fotografia do pai num dos ramos mais altos.
Thomas observava. Em silêncio.

Ele se perguntava quando, exatamente, a beleza dela havia lhe atingido daquela forma — não era apenas o rosto, não eram apenas os olhos claros sempre carregados de firmeza. A beleza que ele via nela era viva, resistente, moldada por perdas, nevascas e noites longas que teriam quebrado qualquer outra pessoa. Ela era um tipo de força crua que se recusava a admitir fragilidade. E, ao mesmo tempo, quando sorria — como agora, ao ver um enfeite torto que ela mesma ajeitara — havia uma ternura escondida que ele duvidava que muitos tivessem visto.

Era a beleza de quem sobreviveu e ainda assim conseguia fazer luz.

Taylor sentia o olhar dele. Não como um incômodo — ela sabia quando alguém a observava por curiosidade ou desconfiança, mas havia outra coisa ali.
Algo que fazia sua pele sentir o ar de forma diferente.

Quando terminou, a sala parecia mais viva do que em anos. A lareira estalava baixo, como um coração batendo devagar. Andrea já dormia no quarto, e restavam apenas os dois — presos entre a luz quente do fogo, a árvore iluminada e o silêncio confortável.

Taylor sentou-se na poltrona ao lado da lareira com seu livro. Não leu as primeiras linhas; estava consciente demais da presença dele; Já Thomas se acomodou na poltrona ao lado, abrindo a caderneta de anotações — a mesma que ela vira horas antes e que quase custara a relação deles. No entanto, agora ele escrevia com calma.

O crepitar da lenha preencheu o espaço entre eles. Por longos minutos, a única música era o som das páginas virando e do lápis riscando o papel.

De tempos em tempos, Taylor desviava os olhos do livro — apenas para encontrá-lo olhando para ela também. Ele desviava rápido, quase envergonhado, mas não rápido o suficiente. Ele tentava disfarçar, mas a admiração era clara.

Quando Taylor esticou as pernas, cansada. Thomas fechou a caderneta sobre o colo, observando o gesto com um misto de ternura e ousadia contida.

— Posso te perguntar uma coisa? — ele disse.

— Pode — ela respondeu sem levantar o olhar, mas o coração acelerado.

— Você sempre foi assim?

— Assim como?

Ele procurou as palavras.

— Forte. E… boa. Mesmo quando tem medo de confiar.

Aquilo atingiu Taylor como um sopro quente no peito. Ela não respondeu.

Thomas ergueu a mão devagar — hesitante. Ele esticou o braço sobre o espaço entre as poltronas, a mão aproximando-se da dela, dedos prestes a tocá-la. Taylor viu.

Quando os dedos dele tocaram de leve o dorso da mão dela, ela reagiu como se o toque queimasse. Retirou a mão depressa, encolhendo os dedos sobre o livro fechado.

— Não… — ela disse num sussurro contido. — Eu… não posso.

Thomas recuou imediatamente.

— Eu não vou te forçar a nada — ele disse. — Só… — ele respirou, e o tom de sua voz era quase um pedido. — Só queria que você soubesse que eu estou aqui.

Taylor apertou o livro contra o peito, como se isso fosse impedir o que começava a crescer dentro dela — aquela inquietação quente, aquele medo doce, aquela vontade que ela evitava nomear.

— Mas você pode ir embora a qualquer momento — ela confessou. — E eu… não quero me perder nisso.

Thomas inclinou-se na poltrona, aproximando-se mesmo sem tocar.

— Eu ainda estou aqui, Taylor. E eu não fui embora.

As palavras, ditas na penumbra quente da sala, ficaram pairando entre eles como o início de algo impossível de recusar.

Taylor não respondeu, mas seus olhos, quando encontraram os dele, diziam tudo o que suas defesas tentavam negar. E a tensão acendeu como mais uma luz naquele ambiente.

A noite avançou ainda mais.

A luz da lareira já diminuía, lançando sombras longas pela sala. A árvore brilhava suave, como se acompanhasse a respiração de Taylor — lenta, contida, pesada.

Ela não sabia exatamente o que a fez falar. Talvez o cansaço. Talvez o olhar de Thomas. Talvez o fato de que, pela primeira vez em muito tempo, alguém realmente queria ouvi-la.

— O que você disse… sobre eu ser forte — ela começou, a voz um pouco frouxa — não é bem assim.

Thomas não respondeu. Apenas deu-lhe o espaço para continuar.

Taylor soltou o livro devagar, como se estivesse largando um peso que escondia.

— A verdade é que… eu me sinto sozinha — ela disse, sem desviar os olhos da lareira. — Terrivelmente sozinha.

Ele se endireitou, atento.

— Eu perdi meu pai e… não consegui agradecer nada do que ele fez. Nada. Eu achava que teria tempo. Que um dia, quando tudo acalmasse ou quando eu terminasse a faculdade, eu diria a ele que… eu sei pelo que ele se sacrificou.

Seu queixo tremeu antes que ela percebesse.

— Mas eu não disse. Eu nunca disse.

A primeira lágrima deslizou silenciosa, e Taylor tentou limpá-la rápido demais, como se fosse uma fraqueza imperdoável.

— E aqui… — ela continuou, a voz falhando — essa fazenda, esse silêncio… sem ele… parece uma casa enorme onde eu tento ser dois adultos ao mesmo tempo.
Ela respirou fundo.

— Minha mãe não está bem, ela dorme bastante ou se sente fraca demais para estar comigo... e eu fico olhando para as paredes, ouvindo o som do relógio, para a mesa vazia. Lá fora, eu vejo o vazio até onde meus olhos alcançam... — Os olhos dela ficaram marejados novamente. — e eu penso: essa é minha vida agora.

Pausa.

— E quando você for embora… vai ser ainda mais vazio. Mais real.

Ela fechou os olhos por um instante, como quem tenta conter o mundo dentro da própria respiração.

— E isso me apavora, Thomas. Muito mais do que eu consigo admitir.

Silêncio.
Um silêncio tão profundo que até o som da lenha parecia hesitar em se partir.

Thomas colocou a caderneta de lado. Levantou-se devagar, como quem se aproxima de algo frágil demais para suportar brusquidão. Parou diante dela.

— Taylor — ele disse, com a voz mais baixa que ela já ouvira — eu só vou embora quando você quiser que eu vá. E eu volto sempre que você pedir para eu voltar. Mesmo que seja só para te ouvir reclamar, ou para subir no celeiro consertar algo torto, ou para sentar aqui e dividir esse silêncio com você.

Ela levantou os olhos, receosa, como quem teme acreditar.

— Não fala isso se não for verdade — sussurrou.

Thomas ajoelhou-se na frente dela, aproximando-se mais ainda.

— É verdade — ele disse. — Eu fico. Até você dizer que não quer mais que eu fique.

Taylor sentiu o peito abrir, como se um ar novo entrasse ali pela primeira vez em anos.

— Mas e sua vida? E sua irmã? E seu trabalho?

— Eu penso neles também. Eu sei... nós sabemos que voltarei para Londres. Tenho muito o que resolver, mas eu quero que você saiba que não será para sempre minha partida se você não quiser que seja.

Ele ergueu a mão, devagar, e tocou o rosto dela com o dorso dos dedos.

— E no momento… eu preciso ficar aqui. Com você.

Taylor fechou os olhos ao toque — não por medo, mas por rendição.

Thomas esticou o braço e ela se levantou, ele conduziu-a para a sua poltrona. Colocou as mãos ao redor da cintura de Taylor e, com um puxar suave, convidou-a a se acomodar em seu colo. Ela hesitou por meio segundo. Depois cedeu. E quando seu corpo encostou no dele, tudo pareceu finalmente entrar no eixo.

Taylor segurou o tecido da camisa dele como quem se ancora.
Thomas envolveu-a com os braços, um encaixe firme, quente, seguro — o tipo de segurança que ela não sentia desde o abraço do pai.

Eles ficaram assim por um instante longo, a respiração dos dois misturando-se.

— Taylor… — ele murmurou, o nariz roçando de leve o cabelo dela.

Quando ela ergueu o rosto para olhar para ele, foi natural. Instintivo.

Os olhos dele baixaram para a boca dela. Não houve permissão pedida desta vez.
E nenhum dos dois reclamou.

O primeiro beijo foi lento, quase tenso de tão cuidadoso — como se ambos temessem quebrar algo precioso; o segundo veio imediatamente depois — mais urgente, mais sincero, mais verdadeiro.

Era o tipo de beijo que nasce de tudo o que foi contido por tempo demais.

Quando finalmente se afastaram, Taylor repousou a cabeça no ombro dele — exausta, entregue, tranquila como há tempos não ficava.

Thomas ajustou o corpo para acomodá-la melhor. Passou a mão pelos cabelos dela com delicadeza, sentindo o peso da confiança recém-construída.

Taylor fechou os olhos.

— Eu não quero que você vá embora… — murmurou, já embargada pelo sono.

Thomas encostou os lábios na têmpora dela.

— Então eu fico — ele respondeu.

E ela adormeceu, tranquila, embalada pelo calor do peito dele, enquanto a lareira diminuía e a árvore piscava suave — testemunhas silenciosas do início de algo que nenhum dos dois ousava mais negar.

[CONTINUA]

2 comentários:

  1. Oi, Mirela!
    Deixando um comentário nesse capítulo para mostrar que parei aqui, por agora.

    Eu ficaria desconfiada igual a Taylor. Chega um homem assim dizendo coisas do meu pai... mas acho que o fato da mãe dela também gostar dele, fez ela ficar menos desconfiada.

    Irei avançar a leitura durante essa semana, mas estou gostando :)

    Beijos!

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    Respostas
    1. E tem muito motivo para desconfiar, mas vai aprender a confiar.
      Espero que continue gostando.
      Beijos, Mirela.

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