Encostei minha cabeça na porta e peguei na maçaneta gelada.
Procurei coragem para abrir e rever depois de tanto tempo o quarto de Harry.
Sua mãe estava no início do corredor olhando, ela não queria chegar perto do
quarto do seu filho até desmonta-lo. Ela dizia que estava pronta para isso e
lembrava de que existia algo que Harry deixou para mim antes de morrer. Não sabia
o que procurar aqui.
Olhei para ela mais uma vez e abri a porta de seu quarto. O
cheiro ainda era o mesmo, o cheiro de um perfume forte e doce de Harry. Nada
mudou desde a última vez que vim aqui. Sentei em sua cama e senti confortável
como sempre. Nada realmente mudou.
- O que você acha que ele deixou para você? – Ed perguntou
olhando em volta.
- Não faço ideia. – Acompanhei seus olhos. – Harry tinha
muitas coisas.
- Ele gostava de colecionar coisas de momentos felizes. –
Ed pegou em alguns objetos. – E colocava datas para lembrar de quando foi.
Sempre achei isso esquisito. – Ed riu.
- Datas? Eu que ensinei isso a ele. – Respondi.
Levantei e comecei a revistar todos os objetos que tinham
no quarto. Ed parou para assistir o que eu estava fazendo, parecia loucura da
minha parte, mas eu sabia onde iria chegar com isso.
- Ainda não entendo. – Ed começou a rir.
- Uma vez mostrei a ele que tinha a mesma mania de colocar
datas em algumas coisas para guardar de lembrança. Que fizesse lembrar do dia e
da pessoa. – Expliquei. – E ele adotou isso para ele... Só pode ser isso.
- Mas tudo aqui tem. – Ed mostrou.
- Ele queria devolver uma coisa para mim e está aqui. –
Insisti.
Ed falou alguma coisa que não tem tanta atenção, voltei a
olhar as coisas do Harry, mas sempre colocando no lugar de origem. Eu tinha que
pensar como ele, enxergar nossa situação como ele me enxergava.
Parei por um momento e senti meu peito apertar, era uma
sensação ruim igual quando descobri o que ele fez consigo mesmo. Não tinha
pensado nisso até entrar aqui e ver que ele realmente se foi. Tentei ignorar
essa sensação e sentei no lado esquerdo onde costumava deitar quando estive com
ele.
- Ele deitava sempre no lado direito. – Sorri ao lembrar. –
Na cama, mesa, banco... era sempre o direito. – Deitei na cama e olhei para o
teto. – Ficamos assim... Sem fazer nada.
- Nunca? – Ed perguntou de duplo sentido.
- Edward, cuide da sua vida. – Respondi fingindo estar
irritada. – Às vezes, mas a maioria gostávamos mais da companhia um do outro. –
Respondi. – Conversávamos sobre a vida e eu não enxerguei nenhum sinal de que
ele estava depressivo. – Lamentei.
- É difícil enxergar. Também não enxerguei. – Ed respondeu
mexendo nas coisas.
Ed abriu o criado-mudo no meu lado e achou alguns livros,
olhou por cima e colocou no devido lugar. Ele sentou no lado direito da cama e
encarou o teto.
- Se for pensar, ele está bem agora. Eu não acredito muito
em vida após a morte, mas se existir... Ele pode ter achado Lily e quem sabe em
um paraíso os dois descubram que ficam bem juntos. – Ed sorriu. – E se eu
acreditasse nisso diria que nós não iriamos atrapalha-los. Não iriamos ao
paraíso.
Fiquei deitada, enquanto Ed procurava de maneira rápida.
Ele abriu o criado-mudo no lado dele e tirou algumas meias, carregadores e
pacotes.
- Guardava lixo com as meias. – Ed olhou e colocou tudo
novamente.
- Não é lixo. – Peguei alguns pacotes. – É lembranças. –
Corrigi. – Nossa, ele guardou o pacote de pipoca da Anne. Comprávamos sempre no
parque. – Emocionei-me ao lembrar.
Tinha a data de quando saímos pela primeira vez juntos e
nossas siglas. Apertei contra meu peito sem segurar as lagrimas que insistiam
em cair. Ed olhou assustado e permaneceu imóvel. Minha mão gravou no velho
pacote e senti algo duro dentro. Limpei minhas lagrimas e abri o pacote, havia
um pen-drive enrolado.
- Acho que achei. – Anunciei e olhei para Ed. – Nossas
iniciais no pacote de pipoca.
***
- Vai ignorar minhas ligações até quando? – Joe me segurou
pelo braço.
- Meus pais ligaram após sua visita a Cher e falaram para
não perturba-la mais, só que eu tentei explicar a eles que eu não sabia que
você tinha intenções de falar com ela, mas eles não acreditam mais em nada que
digo, então, talvez ignore suas mensagens e ligações por um tempo. – Respondi.
- Estava tentando ajudar, Demi, você não aceita ajuda de
ninguém. – Joe.
- Quero espaço para pensar e você não permite isso, Joe. –
Reclamei já irritada. – Preciso de um tempo para pensar em coisas maiores que
nós.
Joe soltou meu braço e segui andando para o ginásio. Parei
por um instante e hesitei em seguir para piscina onde Taylor estava sentada com
os pés dentro da água. Com passos lentos e silenciosos tentei seguir sem
olha-la em sentido ao vestuário.
- Fingiu não me ver? – Taylor perguntou.
- Pensei que gostaria de ficar sozinha. – Respondi
sorrindo. – Mas quanto tempo não conversamos... faz meses! – Continuei sorrindo.
- Uma conversa faz anos. – Taylor corrigiu. – Assim como
faz um ano que não entro nessa piscina.
- Pois é! O time sente sua falta. – Falei.
- Oras Demetria, poupe-me disso. Todas vocês tinham raiva
de mim. – Taylor começou a rir. – E você finalmente ganhou sua piscina e o
primeiro lugar. – Taylor tentou me provocar.
- Não tenho preocupação com isso. Preferia quando ficava em
segundo ou terceiro, mas com tudo em ordem. – Dei alguns passos perto dela.
- Isso é você falando do Liam. – Taylor levantou-se. – Vai
negar?
- Não irei, realmente era melhor quando eu nadava e não era
chamada de vadia. – Estremeci. – Foi você?
- Foi você que matou a Lily? – Taylor retrucou. – Porque na
minha cabeça faz todo sentido.
- Você sabe que eu não faria isso e de qualquer maneira
tenho álibi. – Respondi sorrindo.
- Também não fui eu que contei a todos que você e Liam...
saiam. – Taylor respondeu sutil.
- Quem mais sabia? – Perguntei.
- Não estou aqui para falar sobre sua relação com Liam.
Isso deveria ser passado para você já que está com Joe. – Taylor respondeu. –
Estou aqui porque a piscina sempre me ajudou a pensar, mas não tenho coragem de
entrar.
- Você tem razão. Fiquei calada por todo esse tempo, mas
você merece saber. – Respirei fundo. – Eu fiquei com o Johnny, o detetive, por
um período pequeno e alguém sabia disso. Você sabia disso. Um dia na república
do Liam tinha um bilhete em seu quarto com um disco dizendo que era para
entregar para a detetive Katheryn Hudson, mas eu não poderia ver porque ele era
autodestrutivo que poderia assistir só uma vez.
- E não tem ideia do que era? – Taylor perguntou nervosa.
- Liam conseguiu fazer uma cópia sem abrir o conteúdo e era
você entrando na piscina pegando seu celular horas antes da Lily morrer. –
Respondi. – O Liam achou melhor permanecer quieto porque isso poderia acabar o
que nós tínhamos, mas de qualquer jeito acabou e mal. Então, você merece a verdade.
- O que ela fez? – Taylor. – Katheryn, o que ela fez?
- Depois ela veio até mim dizendo que o vídeo foi
destrutivo e era uma evidencia... Johnny ainda estava lá e vazou a informação
sobre nós dois.... Tudo desmoronou, como sabe.
- Eu não sabia. – Taylor sorriu.
- Fui sincera com você, Taylor. – Cortei-a. – Já minha
teoria sobre você é que não foi sequestrada.
- Porque insistem em desacreditar em mim? – Taylor começou
a rir.
- A Miley mostr... – Taylor interrompeu-me
- Fotos minha com Jake no parque? Essa história já está
ultrapassada, eu já expliq... – Taylor interrompeu a si mesma. – Vocês são
amigas novamente? – Taylor perguntou.
- Quase isso. – Dei de ombros.
- Se não foi você... - Taylor parou por um instante. - Você
sabe quem foi. Tudo na minha cabeça só faz sentido quando eu e você estamos na
mesma conexão.
- Eu não fui presa, não fui sequestrada, não fui espancada
e até agora não me fiz de vitima. - Lembrei-a. - Por conta disso pareço culpada
para você?
- Isso já diz muito. – Taylor respirou fundo. – É sempre
bom conversar com você, Demi.
Taylor saiu andando para saída do ginásio. Antes que
pudesse ir atrás dela, o treinador gritou meu nome. Dei uma última olhada para
ela e desviei minha atenção.
***
- Está pronta? – Zac perguntou.
- Sim. – Respondi.
Apertei a campainha e em segundos Ed abriu. Entramos e Theo
estava ao lado de Taylor sentada. Ela não quis olhar para nós, ou melhor, eu.
Sentei no lado oposto com Zac e Ed serviu uma garrafa de agua ficando sem graça
com toda situação.
Permanecemos quietos por longos minutos.
- Ficaremos assim? – Ed perguntou, tentando quebrar o gelo.
- Vanessa, você queria dizer alguma coisa... estamos aqui
para ouvir. – Theo encarou-me. – Diga!
- Taylor, você leu minha carta? – Perguntei olhando-a.
Os olhos de Taylor não paravam quietos enquanto olhava para
o teto ou as escadas, mas não virou seu olhar para nenhum de nós presentes.
Seus braços estavam cruzados, mas mexia suas pontas dos dedos e sua perna.
- Sim, ela leu. – Theo respondeu.
- Ela não irá falar nada? – Zac perguntou nervoso.
- Quer que eu diga o que!? – Taylor gritou encarando Zac. –
Experimente ficar no meu lugar.
Todos voltamos à estaca zero e permanecemos mudos.
- Taylor, o que eu disse foi sincero. – Voltei a dizer. –
Penso todos os dias o que fiz e se eu pudes...
- Você não pode voltar no tempo, mudar de ideia ou sei
lá... Não pode! – Taylor interrompeu. – Então, acho melhor você começar a falar
o que disse que pode saber e nós faremos o mesmo.
- Tudo bem. – Respondi sem jeito. – Na verdade, não tenho
muito que falar, mas eu chego a conclusão que é apenas uma pessoa que matou
Lily e fez isso com você.
- Que mandou vocês fazerem isso. – Theo corrigiu-me.
- É e a pessoa deve ter muita informação, meios para isso.
– Continuei. – Confesso que suspeitei de todos, mas quem teria tanto recurso
para isso.
- Não se trata de recursos, é uma questão de motivos. – Ed.
– Voce pensa em motivos?
- Não pensamos nisso. – Zac respondeu. – Quer dizer, qual
seria o motivo de ameaçar Vanessa ou Justin? Os dois nunca tinham se visto.
Enquanto conversávamos, Taylor levantou e subiu as escadas.
Já não estava focada em saber do nosso assunto atual, tentei levantar-me para
ir conversar com ele e Theo levantou impedindo meu caminho.
- Não! – Theo falou.
- Theo, não faça isso. Não queremos brigar. – Zac tomou
frente.
- Eu mandei instruções para esse encontro. – Theo encarou
Zac. – Não vai querer brigar comigo.
- Vanessa, vamos nos sentar. – Zac recuou e puxou meu braço.
Theo olhou para as escadas e disse:
- Vamos não trouxeram nada de novo para nós, sinceramente!
Se sua vida está em risco, Vanessa, saiba que a de todos nós aqui também estão.
Isso não terá rumo algum e você não pode ser pega conosco.
- Apenas admita que quer subir lá em cima e ver o que Taylor
está fazendo antes de nos dispensarmos dizendo que somos inúteis a vocês. – Zac
voltou a confrontá-lo.
- Isso é verdade. – Theo concordou. – Eu esperava mais e
estou preocupado com ela, de fato, não é todos os dias que você tem que dividir
uma sala com quem quase te matou.
- Eu quero ajudar. – Pedi. – É difícil para mim. Só quero
ser útil uma vez e ser livre disso.
***
Sentei na cama com meu notebook no colo e tomei coragem em
colocar o pen-drive do Harry. Ainda conseguia ouvir as vozes de Vanessa e Theo
no andar debaixo. Theo parecia confronta-los, mas Ed disse algo interessante:
não é sobre recursos, é sobre razões.
Se Harry morreu por isso, eu devo ter coragem de ver isso.
Esperei baixar todo o conteúdo do pen-drive e minha mão
tremeu ao clicar duas vezes no botão “abrir arquivo”. Por um momento permaneci
imóvel, meu coração voltou a acelerar da mesma maneira de quando vi Vanessa
perto de mim. Passei a mão na minha boca que estava seca. Meus olhos queriam
lacrimejar por não piscar ao deparar com que via.
Harry tinha invadido o sistema de segurança da Swarthmore
College e achou um trecho revelador. Era inclusivo, mas era possível dizer o
que já era tão obvio para mim desde essa manhã. Na verdade, já era obvio, mas
não queremos admitir quando nos afeta tão diretamente. Lily não morreu afogada,
ela não arrastada da mata e feita para morrer no lugar onde mais amava ficar. E
se for como estou pensando, eu tenho culpa nisso. Eu matei ela. Ou pedi para
matá-la.
Theo entrou no quarto e ficou parada na porta. Olhei para
ele ainda em choque e entreguei o notebook sem dizer uma palavra. Ed entrou em
seguidos e os dois sentaram na ponta da cama para assistir. Levantei e comecei
a andar de um lado para o outro, sentia arrepios e tantas lembranças começaram
a voltar em minha mente.
- Esse tempo inteiro. Estava na minha frente o tempo
inteiro. – Comecei a repetir várias vezes.
Parei no meio do quarto e minha respiração ficava mais
alta. Não segurei minha risada de nervoso e raiva. Tinha acabado porque tudo
que deveria saber estava na minha cabeça.
- Puta merda! – Theo falou.
- O que vamos fazer? – Ed perguntou apavorado. – Taylor?
- É ele. O tempo
inteiro. – Respondi. – Está tudo aqui na minha cabeça. – Cutuquei minha cabeça.
– Só não enxerguei, mas foi ele.
Olá!
ResponderExcluirÉ ele?! Deixa eu ver os meus suspeitos homens: Então, é o Liam o principal, o Joe e o Johnny. E o Justin que já é certo.
Não me diga que pode ser o Zac?! Ou o Jake?! Não descarto eles também, mas faria realmente mais sentido se fosse um deles tendo em conta o que a Taylor disse. Ela falou parecendo que tinha alguma relação mais próxima com ele, então, pensando assim, eu imagino alguém como o Johnny ou o Jake.
Posta logo! Fiquei muito curiosa agora para saber quem é.
Beijos.
Bom, eu já vou postar o próximo capitulo que irá revelar esse nome
ExcluirPara ser sincera o assassino foi uma escolha muito difícil já que era possível muitas pessoas pela questão de Lily-Taylor, mas espero que você curta a reta final e o verdadeiro nome.
E sim, a Taylor tem relação com a morte dela bem direta e ela verá no que isso vai dar.
Enfim, espero que goste do capitulo e verá você não errou em uma suspeita.
Beijos